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Autor passeia por obras de quatro figuras solares do pensamento alemão

'Tempo de Mágicos' acompanha Ludwig Wittgenstein, Walter Benjamin, Ernst Cassirer e Martin Heidegger

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André Jobim Martins

Tempo de Mágicos

  • Preço R$ 79,90 (448 págs.)
  • Autor Wolfram Eilenberger (Trad.: Claudia Abeling)
  • Editora Todavia

O motivo de “Tempo de Mágicos”, de Wolfram Eilenberger, é abertamente inspirado no romance “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann. No clássico de Mann, dois pedagogos eruditos, um liberal-iluminista, o outro, romântico-reacionário, disputam a adesão espiritual de um jovem engenheiro recém-formado que posterga sua entrada num sanatório para tuberculosos nos Alpes. 

O paralelo se torna ainda mais claro quando nos lembramos da interpretação de que Hans Castorp alegorizava, no livro de Mann, a Alemanha pré-Primeira Guerra.

O mal-estar era expresso, na época, pelo termo “décadence”, frequente na filosofia de Friedrich Nietzsche, em que se encontra talvez o primeiro diagnóstico consequente da crise da cultura moderna.

Mas o livro de Eilenberger tem uma diferença importante com relação ao romance. O cenário da trama não é uma montanha isolada, e já não estamos na belle époque, mas numa Europa conturbada que choca, a olhos vistos, o ovo do nazi-fascismo.

Walter Benjamin trabalha na biblioteca nacional de Paris, em 1937 - Adam Rzepka/Divulgação

Em 1919, não se podia mais falar apenas em mal-estar ou “décadence” —a guerra resultara na ruína moral e material do continente. Em meio aos escombros, porém, surgiam novas e empolgantes manifestações culturais. A década imediatamente posterior à guerra presenciou o último grande jorro de vitalidade intelectual daquele mundo.

O livro acompanha quatro figuras solares do pensamento de língua alemã ao longo do período de 1919 a 1929: Ludwig Wittgenstein, Walter Benjamin, Ernst Cassirer e Martin Heidegger. 

A filosofia da linguagem de Wittgenstein, a crítica cultural teorizante de Benjamin, a filosofia das formas simbólicas de Cassirer e a analítica existencial de Heidegger são formas de conhecimento dificilmente compatíveis entre si, mas partem todas da constatação básica de que o meio cultural moderno, assim como toda a tradição ocidental, oferece alguns obstáculos sérios a uma reflexão significativa sobre a experiência humana.

Os quatro se voltam para a cultura e para a linguagem com o fim de recomeçar o trabalho que, iniciado pelos gregos, parece ter perdido o rumo. 

Wittgenstein aposta numa distinção mais apurada entre coisas que somos ou não capazes de dizer, Benjamin se volta para os artefatos culturais como portadores de imagens que nos permitem vislumbrar uma linguagem pura que emana de Deus e da eternidade, Heidegger elabora todo um novo vocabulário para livrar a filosofia do entulho dualista despejado pela tradição desde Aristóteles e Cassirer, o mais bem-comportado dos quatro, se lança numa enciclopédica investigação histórico-antropológica dos fundamentos simbólicos da cultura.

Suas complexas ideias vão se revelando gradualmente, em paralelo com o desenrolar de suas singulares trajetórias. Começando em doses modestas e pelos elementos mais simples, as obras maiores dos quatro autores vão, quase sem que se perceba, iluminando umas às outras, revelando um quadro espiritual mais amplo e altamente estimulante de uma época de crise. Essa, mais do que os quatro gênios e suas obras, é a envolvente personagem principal de “Tempo de Mágicos”.

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