Personagens ganham novas facetas em sequência de 'Me Chame pelo Seu Nome'

Novo livro de André Aciman, 'Me Encontre' se passa anos depois dos eventos do filme dirigido por Luca Guadagnino

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São Paulo

A última coisa que o escritor americano André Aciman diz que gostaria de escrever é uma sequência do romance “Me Chame pelo Seu Nome”, publicado originalmente há 12 anos.

Ainda assim, essa pode ser a primeira impressão provocada pelo lançamento mundial nesta semana de “Me Encontre”, que sai no Brasil pela editora Intrínseca.

O novo livro, diz o escritor, “tenta preencher as lacunas que ficaram abertas em ‘Me Chame pelo seu Nome’”. “Ele meio que se afasta de uma sequência típica”, afirma Aciman.

“Não queria algo como ‘Rocky 1’, ‘Rocky 2’, ‘Rocky 3’”, compara o autor, fazendo referência à série de filmes de ação em que Sylvester Stallone interpreta o boxeador Rocky Balboa ao longo de seis filmes.

De fato, o aguardado reencontro dos leitores com os personagens de Elio, seu pai e Oliver, ainda mais depois do sucesso da adaptação homônima para o cinema —vencedora do Oscar de roteiro adaptado em 2018—, pode soar bem diferente do que a maioria esperava.

Ambientado em Roma, Paris e Nova York, com uma pontinha do Egito —terra natal de Aciman— no final, o novo romance começa cerca de 12 anos depois do verão em que Elio e Oliver se conheceram no interior da Itália, no início dos anos 1980, e se apaixonam.

Isso significa, no entanto, que o final de “Me Chame pelo Seu Nome”, o livro, ainda não aconteceu. Ao contrário do filme, o romance conta com um epílogo que faz a narrativa avançar 20 anos.

São as pontas soltas desse epílogo pós-verão que “Me Encontre” acaba amarrando.

Elio, porém, é relegado a segundo plano no início do novo livro, quando Aciman se concentra no pai do garoto. O autor conta que tomou emprestado do filme o nome do personagem, Samuel, que não era nomeado no livro original.

O escritor André Aciman, autor de "Me Chame pelo Seu Nome" e "Me Encontre"
O escritor André Aciman, 68, autor de "Me Chame pelo Seu Nome" e "Me Encontre" - David Levenson/Getty Images

A caminho de Roma para visitar o filho, o professor conhece no trem a jovem Miranda. O encantamento, mútuo, é instantâneo. Com 30 e poucos anos, ela tem aproximadamente a metade da sua idade.

Os patamares diferentes se repetem e se invertem quando Elio, aos 32 anos em Paris, conhece o sedutor Michel, que é algumas décadas mais velho.

Aciman deixa claro que são relações absolutamente consensuais. “Temos de deixar isso bem óbvio porque nem todo mundo percebe”, diz. E destaca como, nesses dois relacionamentos, é a pessoa mais jovem quem toma a iniciativa.

“Gosto disso porque gosto de relações pouco convencionais. Elas não têm amarras, são espontâneas”, afirma. “Se eu estivesse escrevendo um romance convencional, você teria duas pessoas de 30 anos no trem, ou um casal de 50 e poucos anos discutindo seus divórcios, seus filhos, netos.”

Em alguns minutos tudo se tornaria previsível, diz. “E esse não é o tipo de escrita que eu gosto de fazer, não é o tipo de escritor que sou. Se as pessoas querem relacionamentos convencionais, há muitos escritores que escrevem romances convencionais.”

Admirador de Marcel Proust, Aciman é um hábil investigador dos efeitos do tempo sobre os relacionamentos, tema recorrente em sua obra, que conta com cinco romances e outros cinco livros de não ficção, entre ensaios e memórias.

Enquanto escrevia este último romance, conta o autor, não pensava em “Me Chame pelo Seu Nome”. “Eu pensava em Elio como um adulto, pensava no pai como alguém que já tinha quase desistido do prazer na vida e o reencontra no trem.” Oliver, por quem Elio se apaixonava no primeiro livro, também está diferente. 

“Ele está com 44 anos e está mais circunspecto, mais cauteloso, mais silencioso, e certamente menos exuberante”, diz. “Não é o mesmo Oliver que conhecemos, esse não é alguém que diria ‘later’”, comenta Aciman, lembrando o “até depois” que virou bordão do personagem.

Ao explorar as mesmas pessoas, mas com facetas diferentes, o autor afirma que “alguns leitores poderão ficar desapontados” e retoma as analogias cinematográficas —aliás, afirma Aciman, não há conversas neste momento para uma continuação do filme dirigido por Luca Guadagnino.

“‘O Poderoso Chefão 3’, é um desastre total. Todos queríamos vê-lo e ficamos desapontados. Rezo para que não seja o caso aqui, mas se for, me desculpe. Esse é o livro que eu realmente queria escrever.”

Me Encontre

  • Preço R$ 49,90 (272 págs.)
  • Autoria André Aciman
  • Editora Intrínseca
  • Tradução Alessandra Esteche
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