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Não culpe o filme se 2019 de 'Blade Runner' não parece com vida real

Crise ecológica e vigilância permanente são temas da obra que ganham força hoje, porém, e angústia da morte é sempre atual

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Em 1982, “Blade Runner” tornou-se uma espécie de clássico instantâneo e confirmou a reputação de Ridley Scott, que pouco antes havia impressionado com seu “Alien, o Oitavo Passageiro”. Aliás, sua reputação elevou a alturas que o futuro nunca viria a confirmar.

São muitos os fatores que levaram o filme a tamanho sucesso. A visão de uma Los Angeles do futuro, que em 2019 seria tomada por uma espécie de noite eterna, pela chuva constante, por multidões que se acotovelavam nas ruas e comiam uma gororoba assustadora era uma delas.

A isso se acrescenta, no aspecto imagem, o visual modernista, em parte inspirado no “Metropolis” de Fritz Lang —grandes edifícios, carros voadores etc. Talvez mais do que isso, o tom pós-moderno, com néons presentes em várias ocasiões, tenha contribuído para estabelecer uma ligação sólida tanto com o público como com a crítica do período.

O roteiro tem elementos muito interessantes, a começar pelos replicantes. A hipótese de um homem —ou uma corporação— dando vida a outros seres é algo a vislumbrar como auge da inteligência artificial. Tão perfeita, no caso, que os replicantes têm sentimentos: o medo da morte é o maior, o primeiro deles.

Dizia um velho mestre que, se cada homem trouxesse marcada na testa a data de sua morte, a vida se tornaria insuportável. Pois é exatamente isso o que acontece com os replicantes de “Blade Runner”. É também a razão de sua revolta. E, sobretudo, de escaparem de territórios extraterrestres e voltarem à Terra, onde são proibidos de pisar.

Aí é que entra em cena Harrison Ford, ou Deckard, caçador de androides. Com seu casaco de inverno no lugar dos tradicionais impermeáveis, ele nos remete a um outro gênero que não a ficção científica: o filme noir. Nisso ele não escapa a uma convenção do noir, a sedução feminina, no caso representada pela misteriosa Rachael (Sean Young).

Por fim, um novo gênero surge —a aventura, com todos os seus perigos, iminência de morte, lutas etc. Deckard encontrará seu mais perigoso rival no androide rebelde Roy Batty, encarnado por um Rutger Hauer há pouco chegado da Holanda.

Se o 2019 de “Blade Runner” pouco tem a ver com o 2019 da vida real, não culpe o filme ou o livro de Philip K. Dick. Acontece sempre a mesma coisa com a ficção científica. O futuro parece que se dá conta das previsões a seu respeito.

No entanto, um aspecto que naquele tempo talvez interessasse pouco, ou a poucas pessoas, a degradação das condições de vida na Terra, está ali bem presente, assim como a ideia de uma sociedade de vigilância tecnológica permanente (embora no filme ela recaia apenas sobre os androides).

O resto corre por conta da angústia da morte. Enquanto houver homens (ou androides) ela nos perseguirá.

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