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Conheça Finneas, irmão e colaborador de Billie Eilish

Produtor que ganhou cinco prêmios Grammy também trabalhou com Selena Gomez e Camila Cabello

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Allison Stewart
The Washington Post

Na manhã de dezembro em que foram anunciadas as indicações para o prêmio Grammy, Finneas O’Connell, 22, acordou cedo. Ele produziu e ajudou a compor todas as faixas de “When We All Fall Asleep, Where Do We Go?”, álbum de estreia de sua irmã, Billie Eilish . O álbum ajudou a fazer de Eilish, 18, uma das maiores e mais brilhantes estrelas do pop em 2019, e também fez dele um dos produtores mais requisitados. A ideia de que um dos dois fosse indicado para um Grammy não parecia absurda.

O’Connell queria esperar que a namorada acordasse para que os dois ouvissem as notícias juntos, mas eram 5h30min, e ele não quis acordá-la. O telefone dele estava explodindo de mensagens, que ele se recusava a ler, mas calculou que o número de mensagens só podia ser um bom sinal. “Imaginei que ninguém me mandaria mensagens se a ideia fosse ‘opa, fica para a próxima'”, disse O’Connell, que costuma ser identificado apenas como Finneas. (Ou ocasionalmente FINNEAS.)

Eilish terminou conquistando seis indicações, e Finneas cinco, entre as quais álbum do ano, gravação e canção do ano, pelo sucesso “Bad Guy” (do qual ele é coautor), além de produtor do ano (na categoria música não clássica).

Billie Eilish e seu irmão Finneas O'Connell - Amanda Edwards/AFP

Poucas semanas depois daquela manhã das indicações, Finneas estava acomodado em um café no bairro de Los Feliz, em Los Angeles, uma região abastada na qual ele acaba de comprar uma casa, e ainda não conseguia acreditar —embora quase acredite. Ele vive uma situação —os primeiros mas não o primeiro degrau da fama— onde tudo de bom parece possível e nada de calamitoso, traumatizante ou esquisito aconteceu. É um sujeito genuinamente aberto e amistoso, e parece passar despercebido de todos, exceto Shakey Graves, um amigo músico que encontra na rua.

Em outubro, Finneas lançou “Blood Harmony”, um EP com sete faixas criado em camarins, ônibus de turnê e quartos de hotel, durante suas excursões com Eilish. É um trabalho enxuto e notável, mais pop e mais linear do que “When We All Fall Asleep”.

De seu jeito despretensioso, “Blood Harmony” é mais comercial, embora não precisasse sê-lo. O sucesso de sua irmã mudou a topografia da vida de Finneas de quase todas as maneiras. Acima de tudo, o libertou.

Agora, ele pode fazer o tipo de música que quiser, e jamais precisa de outro sucesso na vida; pode pegar ou largar as porções da fama que não deseja, ao contrário de sua irmã, que precisa encarar a fama como pacote completo.

“Quando ela sai, porque há um outdoor com o rosto dela em Sunset Boulevard, as pessoas a reconhecem”, ele diz. “No meu mundo perfeito, posso ser músico profissional e ainda ir ao Trader Joe’s.” Para as celebridades de Los Angeles, poder ir a um café Trader Joe’s é a grande linha divisória, como poder apanhar o metrô o é em Nova York. Eilish em geral precisa de segurança onde quer que vá.

“Acho que ela lida muito bem com isso, e merece toda a adulação que os fãs lhe dão”, disse Finneas. “Eu talvez não seja tão adaptado a esse sucesso escaldante, com a garotada correndo atrás de você no aeroporto como se fosse uma cena de ‘A Hard Day’s Night’”.

Finneas cresceu na região de Highland Park, onde seus pais, atores, educaram os filhos em casa (a casa tinha dois quartos, e ele dividia um deles com a irmã). “Éramos uma família bem próxima, meio hippie, meio excêntrica”, recorda Finneas. Eram todos muito próximos, e continuam. Cada membro da família fala com afeição evidente das demais pessoas da casa, especialmente Finneas sobre Billie.

“Jamais enfatizamos muito a ideia de arranjar emprego, ganhar dinheiro”, diz Patrick, o pai de Finneas. “Se servimos como exemplo de alguma coisa foi de uma família sem muito dinheiro mas apaixonada pela arte.”

Finneas começou a tocar instrumentos e compor quando era muito jovem. Não demorou para que os pais percebessem que ele tinha algo de especial. “Patrick e eu ouvíamos alguma coisa, entrávamos no quarto e perguntávamos de quem era a música”, conta Maggie Baird, a mãe de Finneas. “E ele respondia que era dele. Toda vez. Lembro-me de dizer a uma e outra pessoa que ele era cantor e compositor, e de dizer que não sabia bem o que fazer, porque meu filho era talentoso demais. E eles reagiam como que dizendo, ‘bem, você é a mãe, certamente acha isso’. E eu sabia que achava aquilo com razão.”

Aos 12 anos, Finneas começou a assistir às aulas de composição dadas por Baird, que também é musicista. Tudo se encaixou. “É como se ela tivesse lhe dado o cubo mágico da composição, e ele resolveu o enigma em três segundos”, disse Patrick.

Mais tarde, Finneas começou a levar a música a sério, e por fim criou um grupo de pop rock chamado The Slightlys. Eles tocavam pela cidade, e fizeram um show em uma Warped Tour certo verão, depois de vencerem uma batalha de bandas. Finneas, que tinha 15 anos, imaginava que o show fosse o ponto alto de sua vida. “Mas o dia foi tão quente, tão frenético, tão estressante, que logo cheguei à conclusão de que aquilo que achava que era o meu sonho não era sonho algum”, ele recorda.

Finneas também trabalhou como ator, aparecendo em “Life Inside Out”, um filme de 2013, em companhia de Baird (uma das roteiristas do filme), e também na série “Modern Family”. Ele participou de quatro episódios de “Glee” na temporada final da série, uma sensação que ele descreve como a de chegar na condição de novo aluno da escola uma semana antes do final do ano letivo. “Eu me senti como parte do fim daquela coisa importante”, ele recorda. “É muito engraçado fazer seu quarto episódio de uma série na qual outras pessoas estão fazendo seu 130º episódio e chorando”.

Aos 18 anos, Finneas compôs uma canção para o Slightlys chamada “Ocean Eyes”. Na sua primeira encarnação, “o som era bem parecido com o do Soundgarden”, ele diz. “Era uma gravação barulhenta, com muita bateria, guitarra elétrica. Não era a banda certa para a canção.”

“Ocean Eyes” provou ser a música certa para Billie. Os dois trabalharam juntos na faixa —Finneas compôs e produziu, Billie cantou. Em novembro de 2015, os dois a postaram no SoundCloud, transformada em uma balada sombria e evocativa, e acompanharam enquanto ela atraía uma audiência.

“A melhor parte foi crescer passo a passo, comparativamente”, disse Finneas. “Na primeira noite mil pessoas ouviram, e achamos o máximo. Uma semana depois já eram 10 mil, e duas semanas depois já eram 100 mil. Não eram como os números de Bieber no YouTube, quando ele sobe uma cover de Justin Timberlake e conquista 15 milhões de visitas. Nós curtimos cada passo do caminho.”

Finneas procurou um empresário que conhecia, e Eilish começou a conversar com gravadoras. Em muitas histórias, esse é o momento em que as coisas começam a degringolar, o momento em que a perspectiva de dinheiro e fama poderia ter arruinado tudo. Se os O’Connell fossem amigos em lugar de irmãos, poderiam ter se desentendido. Se fossem um casal, teriam se separado. Mas Finneas e Eilish, que cresceram muito próximos e continuam vivendo juntos, praticamente não tinham escolha a não ser continuar como dupla.

Finneas acompanhava a irmã em reuniões, e eles conversavam a respeito a caminho de casa. A equipe que eles montaram estava determinada a garantir que fizessem sucesso juntos, o que ajudou. Mas e se eles tivessem empresários diferentes? Finneas não gosta nem de pensar a respeito. “Se tivéssemos empresários separados”, ele diz, “provavelmente teríamos tudo separado”.

Que uma equipe de produtores e compositores de primeira linha não tenha sido montada para supervisionar o trabalho de Finneas —ou tirá-lo do caminho— é em si um fato notável. Podemos imaginar uma situação em que Eilish, tendo usado “Ocean Eyes” para obter um contrato de gravação, gravaria seu disco de estreia com Max Martin, enquanto seu irmão, com sua capacidade de resolver o cubo mágico musical, voltaria a subir faixas para o SoundCloud, do quarto em que dormia desde a infância.

“Uma realidade alternativa em que estou de fora completamente e eu teria batalhado para subir por anos, tentando uma carreira musical, e minha irmã tivesse uma carreira musical sem meu envolvimento? Seria uma tortura para mim”, ele diz. “Mas o fato de que fizemos carreira juntos faz sentido.”

O principal motivo para que a parceria perdurasse, acredita Finneas, é que Eilish se sente desconfortável com a maneira tradicional de fazer música pop. Uma artista entra no estúdio com um criador de sucessos comprovados, em geral alguém mais velho, em geral homem, em geral alguém que ela não conhece. Eles conversam sobre o que está acontecendo na vida dela, e o criador de sucessos usa os filamentos de ideias obtidos dessas conversas para tecer uma canção. Eilish odeia isso. “Billie na verdade não gosta de sessões de gravação, de jeito algum”, disse Finneas. “Gostamos de fazer música juntos. Ela não gosta de ir a um grande estúdio e vê-los fingir que são terapeutas por duas horas. Nós sempre fazemos trabalhos bacanas juntos.”

Finneas começou a acelerar seu trabalho para outros artistas. Ele coproduziu “Lose You To Love Me”, sucesso de Selena Gomez, e algumas faixas do novo trabalho da cantora pop sueca Tove Lo. Finneas trabalha quase exclusivamente com mulheres. “Meu currículo certamente tem presença feminina pesada”, ele diz. “Creio que haja vulnerabilidade real nas letras que gosto de escrever, e existem muitas mulheres incríveis na música no momento, dispostas a ser vulneráveis; há menos vulnerabilidade masculina.”

Finneas trabalhou em diversas faixas de “Romance”, o novo álbum de Camila Cabello. “Na canção que compusemos juntos para o meu disco, nós fizemos amizade na hora durante a sessão”, disse Cabello.

”Quando ele me mandou a faixa depois de seu trabalho de produção, o entusiasmo dele era visível em cada parágrafo que escreveu explicando os sons que escolheu. Ele realmente se importa, e é o amor puro que ele tem pelo que faz que torna seu trabalho tão especial”.

Finneas está trabalhando em um álbum de estreia há muito tempo. Ele acompanhará Eilish em sua turnê mundial deste ano, e vai trabalhar em seu disco nas horas vagas.

Embora ele não considere que sempre trabalhará com a irmã, quanto mais eles trabalham juntos, mais Finneas sente que a parceria vai durar. Eilish talvez influencie mais a produção de seus novos trabalhos, ele acredita. Tudo mais eles decidirão quando a hora chegar.

“Quero servir às necessidades dela”, ele diz. “Sempre que o dever me chamar, estarei pronto.”
 

Tradução de Paulo Migliacci

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