Descrição de chapéu
Cinema

'O Preço da Verdade' é refém de tema morno e de protagonismo de Mark Ruffalo

Direção sem fôlego de Todd Haynes reproduz fórmula do filme-denúncia, tendência nos anos 1970

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O Preço da Verdade

  • Quando Estreia nesta quinta (13)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Mark Ruffalo, Anne Hathaway, Tim Robbins
  • Produção Estados Unidos, 2019
  • Direção Todd Haynes

“Já vi esse filme.” A frase nos persegue do início ao fim de “O Preço da Verdade” não só devido ao enredo, que opõe uma grande empresa às vítimas de seus métodos inescrupulosos.

A direção sem fôlego de Todd Haynes reproduz a fórmula do filme-denúncia, uma tendência do cinema engajado dos anos 1970, época em que veio à tona o caso que o longa desvenda.

Naquele momento em que se esboçava a preocupação ambiental, pouca gente se preocupava com o potencial risco de materiais como o antiaderente Teflon e outros venenos que ingerimos em massa. 

O formato opõe, de um lado, a DuPont, poderosa empresa química que encarna o capitalismo selvagem, e, de outro, um fazendeiro do interior da Virgínia Ocidental, que tem seu rebanho dizimado após beber água de um riacho.

Tal qual um detetive, o advogado Rob Bilott (Mark Ruffalo) desvenda a rede de poderes, temores, ameaças e manipulações armada pela DuPont.

Embora não traga surpresas na forma da exposição e reproduza o molde maniqueísta, “O Preço da Verdade” não é um “thriller” descartável. 

A crítica aos efeitos colaterais do conforto e à mania do consumo irresponsável garante sua pertinência e atualidade.

Esta faceta, no entanto, não tem a força alegórica de “Mal do Século” (1995), notável trabalho de Haynes sobre uma madame forçada a viver à margem da civilização por causa de uma alergia a tudo.

A ironia, que ali convertia o conforto em desconforto, desaparece em prol da demonstração e do respeito à dimensão factual inerente ao roteiro baseado num trabalho investigativo do jornalista Nathaniel Rich.

Amputado de sua habilidade para a fábula moral, Haynes adota uma direção discreta, uma autoria apagada. A evocação climática do passado, uma das marcas de seu estilo, dilui-se aqui na réplica da imagem soturna dos anos 1970, mas sem o componente paranoico dos grandes filmes americanos da época.

Refém do tema e do protagonismo morno de Mark Ruffalo, também produtor, “O Preço da Verdade” não se eleva acima do chão do cinema de mensagem. E de Todd Haynes sempre esperamos muito mais.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.