Sepultura se reinventa em novo disco, 'Quadra'

Obra utiliza elementos do grupo à exaustão, mas mostra contemporaneidade

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São Paulo

Um vídeo promocional do novo disco do Sepultura dá a ideia do tanto de trabalho que a banda pôs na composição do álbum. 

O baterista Eloy Casagrande tenta acertar o trecho de uma música, mas não consegue; ele para, grita e começa de novo, em um processo que se repete algumas vezes, no estúdio em Estocolmo onde sua parte de “Quadra” foi gravada. Até que ele acerta.

O esforço do baterista reflete a complexidade da estrutura das músicas do disco, o 15º lançamento da banda de metal mais importante do Brasil. As faixas de “Quadra” mudam de andamento e demandam atenção do ouvinte, em um álbum sem hits óbvios, mas com muita porrada na orelha, soando como se a banda tivesse pegado elementos de várias fases dos seus 35 anos de carreira e os trabalhado à exaustão.

Por exemplo, a batucada e os elementos hardcore de “Capital Enslavement” soam como uma atualização das faixas do disco “Against”, primeiro trabalho gravado com o atual vocalista, Derrick Green, em 1998. Já “Isolation” e “Last Time” vêm da linhagem thrash metal dos primeiros anos da banda, trazendo os conhecidos riffs de guitarra de Andreas Kisser tão queridos pelos fãs.

“Raging Void” põe o Sepultura definitivamente no presente, lembrando bandas contemporâneas como Mastodon. 

O guitarrista Andreas Kisser diz que o trabalho anterior, “Machine Messiah” (2017), foi o ponto de partida para começar a visualizar musicalmente as possibilidades de “Quadra”, disco que considera mais ambicioso e de faixas mais complicadas.

“'Machine Messiah' foi muito positivo para nós e bem aceito pelos fãs e pela crítica. Foram quase três anos de turnê, e como queríamos desenvolver mais as ideias [daquele álbum] era óbvio tê-lo ao nosso lado novamente.”

Kisser se refere ao produtor Jens Bogren, dono de um estúdio em Orebro, no interior da Suécia, onde a banda se isolou para gravar o novo disco. Bogren —famoso por seus trabalhos com nomes como Opeth, At The Gates e Dimmu Borgir— conhece a história do Sepultura e é da mesma geração dos membros do grupo, o que ajudou na sintonia entre as partes, afirma o guitarrista. “Foi uma gravação difícil, mas não era pra ser fácil”, diz. 

Usando o conceito de quadra esportiva, Kisser afirma que o título do disco é uma analogia às regras sob as quais vivemos: “Quadra é uma região delimitada, um conjunto de regras. O Brasil é uma quadra, os Estados Unidos são uma quadra, cada país tem um conjunto de linhas imaginárias onde vivem as pessoas, de acordo com crenças políticas. Se você tivesse nascido na Arábia Saudita, veria o mundo por outro ponto de vista”. 

A essa altura, o Sepultura já lançou mais discos com o vocalista americano Derrick Green (nove) do que com o original, Max Cavalera (seis), que saiu da banda após a gravação de “Roots” (1996). O adeus do carismático membro fundador gerou um racha entre os fãs e culminou com bandas distintas tocando as mesmas músicas ao vivo —Max recentemente excursionou com o irmão Iggor reproduzindo clássicos do Sepultura do fim dos anos 1980 e início dos 1990.

Mas, diferentemente de Max Cavalera, que com suas bandas pós-Sepultura parece querer repetir continuamente o som que seu ex-grupo fez em “Roots”, o Sepultura se reinventou com Derrick Green.

Lançou discos conceituais, aproveitou a versatilidade de Green e poliu suas músicas, ressaltando o som de cada instrumento com produções cada vez melhores. “Quadra” é a linha de chegada de tudo isso.
 

Quadra

  • Onde Disponível nas plataformas de streaming
  • Autor Sepultura
  • Gravadora Nuclear Blast
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