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Documentários em primeira pessoa dão lições de empatia em tempos de quarentena

Ao expor suas fraquezas, diretores fazem espectadores enxergarem mundo através de suas lentes

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São Paulo

Nas redes sociais, empatia parece ser a palavra da vez. Isso porque as medidas de distanciamento adotadas por vários países para combater a Covid-19 só são efetivas se aqueles que não fazem parte do grupo de risco, como os jovens, também deixarem de lado o convívio social.

Para exercitar a empatia, nada melhor do que documentários autobiográficos. A ideia dessas obras, de voltar a câmera para a vida de seus próprios diretores, pode não parecer muito revolucionária na era da selfie. Mas, se as redes sociais estão cheias de imagens posadas, aqui os cineastas não temem o julgamento alheio. É isso que faz com que sucedam na tarefa de filtrar o mundo pelas suas lentes.

Dos cinco filmes listados, três são brasileiros. Uma lembrança de que se pôr no lugar do outro é um processo que começa no próprio quintal.

'Elena'

Adolescente, a cineasta Petra Costa se viu refazendo os passos da irmã, Elena, que tinha se suicidado quando a diretora era criança. “Elena”, seu documentário de estreia, é, assim, um delicado acerto de contas com o fantasma da personagem-título.

Quem gostou de “Democracia em Vertigem”, filme da diretora que concorreu ao Oscar de documentário neste ano, vai perceber as muitas semelhanças entre os títulos. Quem não gostou pode aproveitar para dar uma chance à diretora num terreno menos polarizado.

Disponível na Netflix


'Histórias que Contamos'

A atriz e diretora Sarah Polley (de "Longe Dela") sempre ouviu que não era parecida fisicamente com o pai. Mas, ao investigar a vida da mãe, morta quando ela era pequena, descobre que é grande a chance de ser filha de outra pessoa. Polley entrevista família e amigos próximos da mãe para juntar pistas sobre o pai biológico. Mais do que uma trama de mistério, porém, esta é uma meditação sobre como as memórias nascem.

menina loira numa sala de estar aponta uma câmera de filmagem para o fotógrafo
A cineasta Sarah Polley em cena do documentário 'Histórias que Contamos' (2012) - Divulgação/IMDb

Disponível para aluguel no iTunes canadense por US$ 4,99 (R$ 24,93)


'Santiago'

Mais de dez anos se passaram até que o documentarista João Moreira Salles confrontasse as entrevistas que fez com Santiago Badariotti Merlo, mordomo de sua família por 30 anos. Quem assiste a “Santiago” entende o motivo. Nos bastidores, o diretor interrompe o mordomo aposentado, pede que ele fale mais rápido.

O trunfo desse filme é justamente mostrar o que acontece antes e depois do “corta”. É a partir desses momentos que o diretor tece uma reflexão sobre o fazer cinematográfico e a própria experiência, tão honesta quanto redentora.

O mordomo Santiago Badariotti Merlo durante cena do filme 'Santiago', dirigido por João Moreira Salles - Divulgação

DVD disponível para compra no site do IMS por R$ 44,90


'Visages, Villages'

Em “Os Catadores e Eu”, uma Agnés Varda septuagenária posa com ramos de trigo, simulando as tantas pinturas do tipo na história da arte europeia. Então, larga os ramos, apanha uma câmera de vídeo digital e a aponta para os espectadores.

A imagem é simbólica da trajetória da cineasta —só depois daquele filme, Varda, morta aos 90 anos no ano passado, ainda realizaria outros três documentários, costurando com maestria a própria vida com o mundo ao redor.

Um deles é “Visages, Villages”. Ao lado do artista de rua JR, ela roda a França em busca de, como diz o título, rostos e cidades. Os cinéfilos ainda ganham um presente —Godard, colega de Varda na nouvelle vague, faz, digamos, uma participação especial.

Disponível para compra (R$ 9,90) ou aluguel (R$ 4,90) no iTunes brasileiro


'Um Passaporte Húngaro'

A premissa deste filme é, a princípio, simples —ele acompanha a tentativa da diretora Sandra Kogut de tirar um passaporte da Hungria, país onde seus avós nasceram e do qual fugiram na Segunda Guerra. Mas a aparente banalidade acaba numa labirinto burocrático digno de Kafka.

Kogut revela pouco sobre si, coisa rara nos documentários autobiográficos. Aqui, o que vale é a sutileza com que ela explora as noções de identidade nacional.

Cena do documentário 'Um Passaporte Húngaro' (Brasil, 2003), da cineasta Sandra Kogut - Divulgação
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