Matheus Gomes, de 23 anos, gostou do que ouviu na noite desta quinta-feira (5), na Sala São Paulo. Ele aparenta ser mais jovem, destacando-se entre as cabeças grisalhas que predominavam na plateia que foi assistir ao primeiro concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo na temporada 2020.
"O público erudito é maduro mesmo, não tem jeito. No ano passado, consegui fazer umas dez apresentações em lugares diferentes, e as plateias são sempre assim", disse Gomes. Há dois anos sem integrar uma orquestra, ele é violinista, mas ganha seu sustento como motorista de aplicativo. "Às vezes eu venho muito aqui para trazer e buscar pessoas."
O que atraiu Gomes à Sala São Paulo foi a curiosidade de ver o suíço Thierry Fischer pela primeira vez na condição de regente titular e diretor musical da Osesp. Para essa estreia, que também marcou o início de uma temporada dedicada aos 250 anos de nascimento de Beethoven, a orquestra apresentou a "Missa Solene", obra da maturidade do compositor.
Gomes considerou o concerto "fabuloso". O consultor financeiro Artur Brigatto, de 66 anos, que fala com orgulho de seus 12 anos como frequentador assíduo da Sala São Paulo (afirma que em alguns anos comprou "a assinatura da temporada completa"), preferiu esperar mais tempo para avaliar Fischer.
Ao lado de Brigatto, Valéria, de 65 anos, sua mulher, parecia mais empolgada. "Ele foi fantástico! E a obra escolhida não é fácil."
Ela está certa. Definitivamente, a "Missa Solene" é muito peculiar. Composta entre 1817 e 1823, enquanto Beethoven também criou sua icônica "Nona Sinfonia", difere de outras missas consagradas na música de concerto.
Enquanto Haendel, Haydn e Bach escreveram obras religiosas com exaltação à figura divina, Beethoven muda o foco de sua missa para o homem diante de seu criador.
Nessa perspectiva, digamos, "humana", o que se escuta é uma obra mais dramática, embora siga o formato tradicional da liturgia católica. Essa dramaticidade emerge de alterações de intensidade, entre momentos tranquilos e contundentes mudanças rítmicas.
Diante de Fischer, além da orquestra estavam o Coro da Osesp e o Coro Acadêmico da instituição, dedicado a formação de cantores desde 2013. Como solistas, vozes que há tempos não se apresentavam com a orquestra: a soprano alemã Susanne Bernhard, o barítono alemão Michael Nagy, e dois brasileiros, a mezzo soprano Kismara Pezzati e o tenor Atalla Ayan, este claramente o que mais empolgou o público.
O clima era de reencontro. Com as assinaturas para vários concertos na temporada, muitas pessoas frequentam a Sala São Paulo como se fossem sócias de um clube. No primeiro concerto de 2020, as conversas eram praticamente relatos de férias. No café, dentro da livraria, o público comprava exemplares da revista anual da Osesp.
Mirna Vasquez, dentista aposentada, elogiava a ampliação do balcão para tomar seu café e, como outras pessoas a seu lado, reclamava apenas de que a apresentação na noite, de uma hora e 20 minutos, não teria intervalo. "Adoro os intervalos, para a gente bater papo e saber coisas dos outros."
"Missa Solene" foi programada para três noites seguidas, com o último concerto neste sábado (7). Matheus Gomes disse que gostaria de voltar para assistir novamente. "Mas não vai dar O máximo que eu vou conseguir é vir aqui para levar alguém para casa."
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