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Morre Luiz Alberto Mendes, autor do livro 'Memórias de um Sobrevivente'

Escritor, de 68 anos, ficou conhecido por escrever sobre histórias que viveu antes, durante e após a vida na cadeia

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São Paulo

O escritor Luiz Alberto Mendes, que foi internado em estado grave em 1º de abril após sofrer um aneurisma, morreu, aos 68 anos, nesta quarta-feira (8).

Mendes é autor dos livros "Memórias de um Sobrevivente", de 2001, "Às Cegas", de 2005, e "Confissões de um Homem Livre", de 2015. O primeiro é sua obra mais famosa. Publicado enquanto ele ainda estava na cadeia, o livro narra histórias vividas por ele ao longo dos 31 anos e dez meses em que esteve preso, condenado pelos crimes de homicídio e roubo.

"Fui processado 47 vezes e condenado 19", disse Mendes à Folha, em 2015. "Sobrevivi graças aos livros. Na prisão, descobri que não se morre só da vida. Você pode morrer dos seus sentimentos, e o sentimento do malandro está na sola do pé, para ser pisado em cima."

Preso aos 19 anos, Mendes, que, na época, mal sabia escrever, ganhou o interesse pela literatura dentro da cadeia. "Eu fui criado em Juizado de Menores, em institutos. Não gostava de livro, nosso negócio era roubar, matar, fazer desgraça", disse ele à Folha, em 2001. Foi um amigo, na cadeia, que o fez ganhar interesse pela leitura.

Mendes foi, então, ganhando aos poucos, gosto pela escrita com cartas que enviava a pessoas de fora da prisão.

Anos mais tarde, no Carandiru, ele conheceu o médico Drauzio Varella, que além de ter sido jurado em um concurso de artes do qual Mendes saiu premiado, em 1999, dentro da penitenciária, foi responsável por apresentá-lo à editora Companhia da Letras, que publicou seu primeiro livro enquanto ele ainda cumpria a pena.

A editora postou um texto no Instagram em sua homenagem nesta quinta-feira (9).

Na época em que escrevia roteiro do filme "Carandiru", em 1999, o dramaturgo Fernando Bonassi passou a fazer visitas frequentes no Complexo Penitenciário do Carandiru, e lá conheceu Mendes, que, segundo ele, o colocou em contato com a verdadeira realidade da cadeia. "Quem me levou lá no buraco onde jogavam os cadáveres do PCC foi o Luiz", diz Bonassi à Folha.

Para Bonassi, o escritor era um clássico autodidáta do século 20 e produziu obras tão boas quanto as do filósofo russo Dostoievski. O dramaturgo conta ainda que Mendes lhe entregou "Memórias de um Sobrevivente" escrito à mão. E após ler o livro, ele ficou surpreendido com a genialidade do autor.

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