Point da boemia paulistana, a Casa dos Artistas fecha as portas no centro da cidade

Vítima da crise causada pela pandemia, bar de Lilian Gonçalves apareceu sem sua clássica decoração com retratos de famosos

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Matheus Lopes Quirino
São Paulo

Um dos mais tradicionais points da boemia paulistana, A Casa dos Artistas, na rua Canuto do Val, na Vila Buarque, apareceu depenada neste domingo (30).

A casa da empresária da noite, Lilian Gonçalves —filha do cantor Nelson Gonçalves— teve o letreiro, toldo e as famosas molduras que adornavam a sua fachada, com retratos de Cauby Peixoto, Hebe e Nelson, transferidas para a entrada do outro restaurante da conhecida rede Biroska da empresária, o Frango com Tudo, que fica na outra ponta da mesma rua.

“E fechou o bar Casa dos Artistas, na Santa Cecília”, publicou em suas redes o escritor João Varella, morador da Santa Cecília. Como Varella, outros habitués do endereço também se espantaram com a repentina transfiguração do espaço, que funciona desde 1971.

O reduto boêmio era um templo que fazia referência às personalidades da televisão e do rádio do século passado. O próprio Nelson Gonçalves, considerado o Rei do Rádio que embalou gerações com canções como "Odalisca" e "A Volta do Boêmio", nos anos 1940 e 1950, era a estrela guia do carro-chefe da rede de bares.

O bar Biroska, no centro de São Paulo
O bar Biroska, no centro de São Paulo - Divulgação

No complexo mantido por Gonçalves, sete bares faziam a festa de quem, depois do toque de recolher imposto pela prefeitura à meia-noite, queria que o show continuasse. “A gente fecha só quando o último cliente vai embora”, afirmou uma das simpáticas garçonetes num dos últimos finais de semana antes de a pandemia do coronavírus fechar todos os bares.

A incerteza pairou sobre a região e fregueses assíduos se preocuparam com o destino das casas da Canuto do Val. Com o fechamento do comércio, centenas de outros estabelecimentos também baixaram as portas.

“Foi inesperado, porque, pelas redes sociais, parecia que eles iam atravessar essa maré, a Lilian sempre sorridente, não deixava a peteca cair”, disse uma frequentadora do lugar, que trabalha na região da Vila Buarque.

A vice-presidente da rede de bares, Carla Fiori, demonstrou descontentamento com os rígidos protocolos impostos pela prefeitura. Em julho, em reportagem da Rede Brasil, ela se posicionou contra as normas impostas pela vigilância sanitária.

“Por que limitar até às cinco da tarde [o horário de funcionamento], impedindo bares noturnos, como o nosso? O protocolo exigiu não ter mesa na calçada, 40% do público já fica limitado”, disse.

Nos meses seguintes, Lilian Gonçalves tentou angariar recursos para que as casas continuassem funcionando com lives de amigos e frequentadores do local, do Conde Chiquinho Scarpa ao cantor sertanejo Marcio Jonas.

O último post da Casa dos Artistas foi em 14 de agosto, anunciando um debate com a atriz Amandha Lee sobre os impostos e fiscalização abusivos em tempos de coronavírus.

Empresária de sucesso e socialite, Lilian Gonçalves é considerado um ícone da noite. Não era incomum a ver desfilando com roupas arrojadas, figurinos repletos de brilho e adereços e pompons com chapéu de caubói pelos seus bares na Canuto do Val.

A Casa dos Artistas ornava com os adereços de sua dona, que era figurinha carimbada em colunas sociais, como na faixa homônima do jornalista Amaury Júnior, que fazia questão de dar a ela a alcunha de a rainha da noite paulistana.

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