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Games coloridos bombaram, Exército quis virar gamer e 'Bolsokid' levou ban em 2020

Ano foi uma mistura de fofura, fúria e fiasco no universo dos videogames, que cresceu 9,3% em receita

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São Paulo

Neste ano que impôs restrições difíceis de aceitar e notícias indigestas, os jogos de videogame escapistas foram os grandes hits.

“Animal Crossing: New Horizons”, da Nintendo, foi lançado em março deste ano, e ainda antes do mês terminar, já haviam sido vendidas 11,77 milhões de cópias —até setembro, foram 26 milhões.

No game, o jogador monta uma cidadezinha em uma ilha deserta, onde passa a morar junto a bichinhos fofinhos, antropomorfos e falantes.

Apesar da cara infantil, o jogo foi atraiu os jovens adultos. A congressista americana Alexandria Ocasio-Cortez chegou a fazer campanha dentro de “Animal Crossing”.

Não há objetivos difíceis a serem cumpridos e não tem como “perder”. O que dá para fazer é pescar, colher frutas, caçar borboletas, presentear os amiguinhos virtuais, além de interagir com outros jogadores na modalidade online.

Um outro aspecto bem diferente da vida real dos millennials que jogam “Animal Crossing” é que é perfeitamente possível ter uma casa própria no game e ali pagar as suas contas —a um capitalista monopolista que não cobra juros e que de quebra também é um animal fofinho.

Outro hit colorido foi “Fall Guys”, jogo em que se disputa gincanas malucas ao estilo “Olimpíadas do Faustão”.

Segundo a Mediatonic, o estúdio inglês responsável pelo jogo, “Fall Guys” vendeu 11 milhões de cópias só na plataforma Steam e se tornou o jogo mais baixado de todos os tempos no PlayStation Plus.

Os personagens controláveis são desajeitados e usam roupas absurdas, vestindo-se de dinossauro a abacaxi. Tudo isso, aliado a uma trilha sonora animada, torna engraçado quando o jogador cai num buraco, tromba nos outros ou não consegue passar de fase.

Mas talvez a maior surpresa de 2020 seja “Among Us”, um multiplayer de gráficos simples, em 2D, que consiste em descobrir qual dos jogadores está tentando sabotar a nave espacial em que eles estão, o impostor, que também assassina os demais —um assassinato nada gráfico, engraçado até.

O jogo foi lançado há dois anos, mas foi na pandemia que ganhou o mundo. Em novembro, tinha meio bilhão de usuários, segundo a SuperData.

No Game Awards 2020, “Among Us” foi eleito o melhor jogo mobile e o melhor multiplayer, desbancando “Animal Crossing”, “Fall Guys” e “Call of Duty: Warzone”.

Mas quem levou o principal prêmio desta cerimônia foi “The Last of Us Part 2”, eleito o jogo do ano —nada colorido, escapista ou alegre.

O game de ação e aventura trata de uma pandemia, mas de um fungo que infecta o cérebro dos humanos e os transforma em zumbis. A história se passa décadas depois do início do surto e retrata uma sociedade em que vigora um novo tipo de contrato social.

Nesse futuro, é matar ou morrer —e os personagens matam bastante, de forma bastante violenta e gráfica.

A protagonista do jogo é lésbica, e isso irritou alguns gamers conservadores. O diretor do game chegou a receber ameaças de morte.

Cada vez mais inserida no contexto de guerras culturais, a indústria de games deu sinais de reação a discursos ofensivos, preconceituosos e a fake news, que são comuns em jogos online de multiplayer
massivos, mas também entre streamers famosos.

Em maio, Jair Renan, filho do presidente Jair Bolsonaro, teve o perfil “Bolsokid” banido da Twitch, plataforma onde fazia transmissões de “League of Legends”, após negar a pandemia e a necessidade de isolamento social.

Num ano de crise generalizada, a indústria de games cresceu 9,3% em receita mundialmente, segundo previsão da consultoria Newzoo —e muita gente quis um pedacinho desse bolo.

A cantora Anitta fez live jogando “Free Fire” e Guilherme Boulos (PSOL) jogou “Among Us” com Felipe Neto uma semana antes do segundo turno das eleições municipais.

Até o Exército brasileiro quis se aventurar. Em julho, encomendou um estudo de viabilidade para um projeto de um videogame de guerra, com o objetivo de melhorar a imagem da instituição e atrair jovens para a carreira militar.

Segundo desenvolvedores brasileiros acostumados a trabalhar com títulos blockbusters internacionais, o projeto poderia custar R$ 50 milhões. O resultado desse estudo de viabilidade estava previsto para outubro, mas não saiu até hoje. Procurado, o Exército afirma que o projeto “não foi concluído e continua em processamento”.

O ano de 2020 viu o lançamento da nova geração de consoles da Sony e da Microsoft. O PlayStation 5 e o Xbox Series chegam ao Brasil custando alguns salários mínimos.

Esses novos consoles, porém, devem demorar para se difundir no Brasil, onde videogames mais antigos ainda são muito procurados.

Segundo um levantamento da OLX, Xbox 360, Playstation 3 e Playstation 2 estão no top 5 dos consoles mais procurados pelos brasileiros na plataforma entre janeiro e dezembro de 2020. Ou seja, uma parte significativa do público nacional joga com videogames lançados na década passada. Ainda segundo a OLX, a procura por videogames usados cresceu 15% entre fevereiro e setembro.

O ano chegou ao fim trazendo desfecho para um dos maiores hypes de 2020, com o lançamento do aguardado “Cyberpunk 2077”, dos poloneses da CD Projekt Red, os mesmos criadores da franquia “The Witcher”, que é sucesso de crítica e de público.

A ansiedade era tanta que 8 milhões de cópias foram vendidas antes do lançamento, adiado três vezes só em 2020.

Mas foi um fiasco. O jogo veio cheio de bugs, principalmente nos consoles PS4 e Xbox One —falhas graves no acabamento gráfico, problemas na inteligência artificial de personagens não jogáveis e
objetos flutuando no cenário.

As falhas fizeram o valor das ações da empresa despencar cerca de 25% na Bolsa de Varsóvia. A Sony tirou o jogo da sua loja virtual e ofereceu reembolso, movimento inédito.

Para muitos, o jeito foi esperar para ver se a situação melhora no ano que vem.

*

Videogame em 2020

Fogo
O Exército brasileiro encomendou um estudo de viabilidade para um projeto de um videogame de guerra, com o objetivo de melhorar a imagem da instituição e atrair jovens para a carreira militar.
Segundo especialistas, o game poderia custar até R$ 50 milhões

Fúria
‘The Last of Us Part 2’ trouxe a história da sanguinária Ellie num mundo dominado pela violência. Do outro lado do balcão, alguns gamers conservadores deram chilique quando souberam que a protagonista seria lésbica

Fiasco
Depois de muito hype, ‘Cyberpunk 2077’, do estúdio criador de ‘The Witcher’, foi lançado repleto de bugs que tornaram a jogabilidade penosa. As ações da empresa caíram 25% e a Sony tirou o jogo de sua loja virtual, oferecendo reembolso a quem já havia comprado

Fofura
Dois grandes sucessos de vendas fizeram a linha escapista colorida. ‘Animal Crossing: New Horizons’ misturou o sonho da casa própria com bichinhos amigáveis. ‘Fall Guys’ veio com a proposta ‘Olimpíadas do Faustão’, com cenários coloridos e personagens engraçados

Futuro já começou
Foram lançados o PlayStation 5 e o Xbox Series, a nova geração de consoles da Sony e Microsoft. Enquanto isso, brasileiro ainda compra videogames da década passada, como o PS2 e o Xbox 360

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