Descrição de chapéu The New York Times

Terráqueos, e não alienígenas, devem ter removido o monólito de Utah

Fotógrafo diz que quatro homens desmantelaram o misterioso objeto reluzente que cativou os Estados Unidos

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Zoe Rosenberg Deborah Solomon Serge F. Kovaleski
The New York Times

Foi uma temporada bem curta, para quase qualquer padrão. O monólito metálico que surgiu espetado num canto distante do estado de Utah e conquistou atenção internacional ao ser avistado em 18 de novembro foi desmontado só dez dias mais tarde.

Funcionários do governo estadual continuavam a insistir, nesta segunda-feira, que não tinham informações, quer sobre a instalação, quer sobre a remoção —e possível roubo— da peça instalada em terras públicas.

A polícia do condado de San Juan anunciou inicialmente que não investigaria o caso, já que não tinha recebido queixas sobre qualquer propriedade perdida. Para sublinhar esse ponto, as autoridades subiram para o seu site um cartaz de “procurados”, ou uma versão brincalhona de um cartaz de procurados, no qual os rostos dos suspeitos foram substituídos por faces de alienígenas de olhos esbugalhados.

Mas ao anoitecer da segunda-feira, o departamento mudou de posição e anunciou que estava planejando uma investigação conjunta com o Serviço de Administração de Terras, uma agência do governo federal americano.

A tarefa de postar provas no Instagram ficou a cargo de um fotógrafo de aventura, Ross Bernards. Bernards, de 34 anos, da cidade de Edwards, no estado de Colorado, estava visitando o monólito na noite de sexta-feira quando, ele diz, quatro homens chegaram como que vindos do nada, para desmontar a escultura.

Bernards havia feito uma viagem de carro de seis horas de duração para ver a escultura e tirar fotos dramáticas dela. Usando holofotes sofisticados da Lume Cube, presos a um drone, ele produziu uma série de imagens reluzentes, iluminadas pelo luar, que mostram o monólito brilhando contra um fundo de encostas de rocha vermelha e o azul profundo do céu noturno.

Repentinamente, por volta das 20h40, ele conta, chegaram os quatro homens; as vozes deles ecoavam pelo cânion. Trabalhando em duplas, e claramente bem preparados para a tarefa, eles passaram a empurrar com força o monólito, que começou a se inclinar na direção do solo. Em seguida, passaram a empurrar na direção oposta, como que para o afrouxar.

“É por isso que não se deve deixar lixo no deserto”, disse um dos homens, dando a entender que ele considerava o monólito como uma mácula, como um poluente que estragava a paisagem, de acordo com Bernards.

A escultura terminou por ser desalojada, e caiu no chão com um estrondo. Os homens em seguida a desmontaram em pedaços e a transportaram num carrinho.

“Quando eles estavam indo embora com os pedaços da escultura, um deles instruiu os demais a não deixar qualquer traço dela”, lembrou Bernards, em entrevista por telefone.

Ele não fotografou os homens que removeram a escultura, dizendo que temia um confronto com eles e que teve medo de que estivessem armados. Mas um amigo que o acompanhou na viagem, Michael James Newlands, de 38 anos, de Denver, registrou algumas fotos rápidas com seu celular.

“Deve ter demorado no máximo dez ou 15 minutos para eles derrubarem o monólito e o removerem”, ele disse ao The New York Times. “Não sabíamos quem eram e não tentamos fazer coisa alguma para os deter”, ele acrescentou. “Eles chegaram lá prontos para executar a tarefa, e sua atitude era a de ‘essa é a nossa missão’.”

As fotos são meio tremidas, mas ainda assim fascinantes. Há imagens de diversos homens trabalhando no escuro, usando luvas mas não máscaras, e olhando para o monólito caído no chão. É possível ver a estrutura da peça exposta. O monólito era oco, com uma armação interna de compensado.

As fotografias são as únicas imagens conhecidas dos responsáveis pela remoção da escultura; talvez não tenham sido eles que a instalaram, para começar. O tenente Nick Street, porta-voz do departamento de segurança pública estadual do Utah, declarou na semana passada que o monólito estava fincado na rocha.

Nos últimos dias, artistas vinham discutindo em tom especulativo que a pessoa que colocou a peça no local a deve ter removido quando foi descoberta, como se a aspiração fosse a de ser um artista-ativista anônimo, o Banksy do deserto.

Mas as especulações do mundo da arte não resultaram em muitos fatos. Inicialmente, o monólito foi ligado a John McCracken, um artista nascido na Califórnia que morreu em 2011 e tinha interesse por ficção científica. David Zwirner, o marchand nova-iorquino que representa o espólio do artista e foi o primeiro a identificar o monólito como um McCracken autêntico, contatou o The New York Times na segunda-feira declarando que tinha estudado fotos do objeto e já não estava seguro de quem o possa ter produzido.

Almine Rech, que representava McCracken em suas galerias em Paris e Bruxelas, também entrou em contato com um repórter para negar que o monólito do deserto fosse obra de McCracken.

E surgiram reportagens sobre a descoberta de um monólito que parece uma cópia do objeto encontrado no Utah, dessa vez nas colinas da Romênia.

E nada disso nos aproxima um passo que seja de resolver o mistério da escultura de Utah.

O monólito que cativou os Estados Unidos pelos últimos sete dias e depois desapareceu tão rapidamente quanto tinha surgido na consciência pública continua a nos oferecer uma agradável sensação de incerteza. Será que ele perderia sua aura e seu poder caso soubéssemos quem o criou?

Tradução de Paulo Migliacci

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