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Podcast 'Noites Gregas' é uma aula de mitologia clássica, e das boas

Produção narra peripécias de deuses gregos com a intimidade de quem os conhece desde a barriga da mãe, ou a cabeça do pai

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São Paulo

Noites Gregas

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Se o Olimpo fosse um point turístico, Hesíodo seria um guia daqueles convencionais —o autor da “Teogonia”, espécie de árvore genealógica dos deuses clássicos, faria um tour de algumas horas mostrando os principais monumentos aos visitantes.

Já Homero seria o equivalente a uma estada de um mês num AirBnB, convivendo com os locais e compartilhando fofocas com os vizinhos por cima do muro.

A analogia é feita pelo professor gaúcho Cláudio Moreno num dos primeiros episódios do podcast “Noites Gregas”. E talvez se aplique à própria produção. Como Homero, Moreno narra as peripécias de deuses e heróis clássicos com a intimidade de quem os conhece desde que estavam na barriga da mãe —ou da cabeça do pai, no caso de Atena.

Cada episódio ou série de episódios apresenta um personagem do panteão clássico, da sua origem aos principais mitos em que aparece.

'O Nascimento de Vênus', obra do artista Sandro Botticelli - Reprodução

As exceções, até agora, foram um capítulo inteiro sobre um mito específico, o romance entre Eros e Psiquê. E os cinco episódios iniciais, em que o apresentador esclarece alguns conceitos gerais da mitologia clássica. Neles, conta por que há tantas versões diferentes para um mesmo mito, cita os diferentes nomes dos deuses na Grécia e na Roma Antiga, e explica qual é a origem dessas histórias em primeiro lugar —daí as menções a Homero e Hesíodo.

Moreno até poderia escorregar no tom professoral. Mas os melhores momentos de “Noites Gregas” são quando ele abraça o papel. É o caso, por exemplo, de uma seção inaugurada mais para frente, em que o apresentador responde a perguntas enviadas por apoiadores do podcast. Quem diria que o clichê escolar de que os colegas podem ter as mesmas dúvidas que você enfim se provaria real?

Tudo isso é embalado por uma trilha sonora digna de um festival dionisíaco, uma lira cuja melodia o ouvinte logo passa a cantarolar junto.

É verdade que Moreno tem uma vantagem indiscutível. Os mitos são vibrantes por si só, e não é à toa que eles vira e mexe voltam à baila em séries, filmes e best-sellers infantojuvenis.

Mas mesmo mitos puídos ficam mais saborosos no tom cáustico do apresentador, que inclui, entre outros, comparações com super-heróis da Marvel e uma certa implicância com o "Hércules" da Disney.

Só vale avisar —como o próprio professor volta e meia repete— que o maior objetivo da produção é contar histórias, e não analisar as tramas à luz de outros campos, como a sociologia, da antropologia ou da psicologia. Ainda que, quando Moreno escorregue para as disciplinas, suas ponderações sejam sempre bem embasadas.

A boa notícia é que "Noites Gregas" ainda tem um vasto território a explorar. Segundo a equipe, a ideia é completar o rol de principais deuses gregos para, no mês que vem, mergulhar na Guerra de Troia. E, quando isso se esgotar, ainda restam as tragédias.

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