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'Silêncio dos Inocentes' calava há 30 anos todas as lendas sobre o Oscar

Filme surpreendeu ao abocanhar cinco principais troféus da cerimônia e virar sucesso de bilheteria

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O ator Anthony Hopkins em cena do filme

O ator Anthony Hopkins em cena do filme "O Silêncio dos Inocentes" Divulgação

Norman Bates? Darth Vader? Bruxa Má do Oeste? Nada disso. Quando o tradicional Instituto de Cinema Americano, AFI na sigla em inglês, listou os 50 maiores vilões do cinema de todos os tempos, o primeiro lugar ficou com Hannibal Lecter, o psiquiatra com um peculiar hábito alimentar de “O Silêncio dos Inocentes”.

Cortesia de Anthony Hopkins e sua performance hipnótica. Com só 16 minutos em cena, o personagem entrou para o imaginário popular. Hopkins diz que se inspirou no robô Hal-9000 para encontrar o tom e pausa ideais para a voz sinistra do personagem.

Dizem que, na primeira cena lida num ensaio com Jodie Foster, um dos produtores ficou tão impressionado que pediu para que ele não mudasse absolutamente nada.

Essa é uma das muitas histórias que cercam o filme de Jonathan Demme, inspirado num best-seller de Thomas Harris. Lançado em fevereiro de 1991 nos Estados Unidos, o suspense demorou três meses para chegar ao Brasil, em 17 de maio.

E fevereiro não é, digamos, o principal mês de estreias nos cinemas americanos. Os estúdios guardam suas principais fichas para a temporada de verão, aproveitando as férias escolares para lotarem a programação com seus filmes-pipoca.

Também não é comum um filme do início do calendário ter fôlego para chegar com chances às principais premiações, normalmente reservadas aos longas distribuídos no finzinho do ano. “A Academia tem memória curta”, brincam os oráculos do Oscar, Globo de Ouro e afins. Sem falar que era um suspense. Suspenses não ganham Oscar.

Pois “O Silêncio” calou todas as lendas urbanas do meio cinematográfico. Foi um sucesso de bilheteria, a terceira maior daquele ano, com US$ 129,6 milhões —atrás apenas de “O Exterminador do Futuro 2” e “Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões”. E olha que ele tinha a classificação etária mais severa dos Estados Unidos.

Mais de um ano depois de seu lançamento, em março de 1992, o filme surpreendeu os favoritos “Bugsy” (com dez indicações) e “JFK - A Pergunta que Não Quer Calar” (com oito) para ser o grande vencedor do Oscar, com cinco estatuetas.

Não cinco quaisquer, mas as mais importantes –melhor filme, direção (Demme), roteiro (Ted Tally), ator (Hopkins) e atriz (Jodie Foster). Apenas três filmes da história conseguiram a proeza –os outros foram “Aconteceu Naquela Noite, de 1934, e “O Estranho no Ninho”, de 1975. Desde então, ninguém mais.

A atriz Jodie Foster em cena de "O Silêncio dos Inocentes"
A atriz Jodie Foster em cena de "O Silêncio dos Inocentes" - Divulgação

Mas nem tudo foram flores naquela cerimônia, na qual Billy Crystal subiu ao palco com a icônica máscara de Hannibal Lecter. Do lado de fora do Dorothy Chandler Pavilion, vários manifestantes de grupos ativistas LGBT protestaram contra a representação de homossexuais em Hollywood. Um dos alvos preferenciais era “O Silêncio dos Inocentes”, cujo vilão Buffalo Bill, papel de Ted Levine, era um serial killer, que matava mulheres e arrancava suas peles para costurar uma para si.

Anos depois, Demme elogiou os protestos contra o filme. Mas tentou defender o personagem, dizendo que ele não era exatamente transgênero. “Ele não queria ser de outro gênero, realmente não tinha preferência sexual. Ele se odiava e queria se transformar de forma que não houvesse nada dele no ‘novo ele’ se tornando uma mulher, esse era seu método”, disse o diretor em 2014, três anos antes de sua morte.

Curiosamente, nem Jodie Foster nem Anthony Hopkins eram as primeiras escolhas para o filme. Demme queria Michelle Pfeiffer e depois sondou Meg Ryan. Ambas recusaram pelos temas pesados abordados no longa. Foster, que vinha de um recente Oscar por “Acusados”, surgiu como um nome de consenso.

Hopkins ficou com o papel após o “não” de Sean Connery. O ator disse recentemente que ficou impressionado com o roteiro desde a primeira vez que leu, sentimento que só se repetiu agora, com “Meu Pai”, drama que rendeu a ele nova indicação ao Oscar.

“O Silêncio dos Inocentes” é um tipo de filme que os estúdios praticamente não fazem mais. Não é uma superprodução, mas está longe de ser rotulado como pequeno ou independente. Era o que se chamava antes de “filme médio”, com orçamento razoável e grandes estrelas no elenco —estilo de produção que vem encontrando no streaming seu novo lar.

Porém, 30 anos depois, ainda é possível ver o suspense de Demme tão encorpado quanto um bom vinho chianti, como diria Lecter.

Em tempo, Norman Bates, Darth Vader e a Bruxa Má do Oeste ficaram em segundo, terceiro e quarto lugar, respectivamente, entre os 50 maiores vilões de todos os tempos eleitos pela AFI em 2003.

Outros ‘Silêncios’

  • “O Silêncio dos Inocentes” não foi a primeira aparição de Hannibal Lecter nas telas. Em 1986 foi lançado “Caçador de Assassinos”, de Michael Mann, com Brian Cox no papel de Lecter. O filme, que fracassou nas bilheterias, foi uma adaptação do livro “Dragão Vermelho”, de Thomas Harris
  • “Hannibal”, de 2001, é a sequência de “O Silêncio dos Inocentes”. O próprio Anthony Hopkins teria indicado Julianne Moore para o papel da agente Clarice Starling após Jodie Foster se recusar a repetir o papel
  • “Dragão Vermelho” ganhou nova adaptação, homônima, em 2002, novamente com Hopkins como Hannibal Lecter. O elenco incluía ainda Edward Norton e Ralph Fiennes e teve boa bilheteria
  • O próprio autor Thomas Harris assinou o roteiro de “Hannibal - A Origem do Mal”, fracasso de 2007 com título autoexplicativo que tinha o francês Gaspard Ullliel no papel do jovem Lecter
  • Em 2013, o personagem ganhou novo fôlego com a série “Hannibal”, que teve três temporadas, ou 39 episódios, sempre com o ótimo ator dinamarquês Mads Mikkelsen no papel-título
  • Depois de tanto Hannibal, a rede CBS lançou neste ano a série “Clarice”, com a australiana Rebecca Breeds no papel que foi de Jodie Foster. Sem Hannibal, a trama acompanha a jovem agente um ano após os acontecimentos de “O Silêncio dos Inocentes”. A produção chegou a ser interrompida pela Covid, mas cinco episódios, de um total de dez, já foram ao ar na TV americana
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