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'Jazz', documentário de Ken Burns, é mais do que uma série sobre música

Em 12 episódios, produção monumental disponível no Globoplay mostra o nascimento da identidade americana

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Renato Terra

Roteirista do Conversa com Bial e diretor dos documentários 'Narciso em Férias', 'Eu Sou Carlos Imperial' e 'Uma Noite em 67'. Trabalhou na revista piauí até 2016 e foi o ghost-writer do 'Diário da Dilma'

Jazz

  • Onde Globoplay
  • Classificação 14 anos
  • Produção EUA, 2001
  • Direção Ken Burns

“O jazz é a música que sintetiza os Estados Unidos. É uma forma de arte que nos dá uma maneira indolor de nos compreendermos. O grande poder do jazz é que ele oferece a um grupo de pessoas a possibilidade de se reunir e fazer arte. Para fazer uma arte improvisada que nasce da negociação entre os seus estilos pessoais. E essa negociação é a arte.” Essa fala do trompetista Wynton Marsalis abre a série “Jazz”, de Ken Burns.

Lançada em 2001, ela tem 12 episódios com quase uma hora de duração cada um. Ken Burns levou seis anos para realizá-la. A pesquisa de imagens, vídeos, histórias e personagens é monumental. Mas o grande mérito da série é a maneira como Burns organiza essa quantidade de informações.

Os depoimentos de Marsalis são deliciosos. Além de costurar pensamentos sofisticados, que mostram o jazz muito além da música, Marsalis saca seu trompete diversas vezes para mostrar as inovações musicais que surgiram ao longo das décadas.

Por exemplo: a série diz que Buddy Bolden foi o primeiro a produzir um som que trazia junto a sua personalidade. O narrador passa essa informação. Mas tudo fica absolutamente compreensível quando Marsalis mostra, com seu trompete, o que é essa música com personalidade.

Essa é a magia da série. Ken Burns é hábil em costurar imagens, sons, palavras para criar contextos. A cada novo contexto criado, o espectador sobe um degrau. É um documentário convencional com narrador, depoimentos e imagens de arquivo. Mas que se notabiliza pela excelência.

big band de jazz
Fotografia reproduzida em 'Jazz', série dirigida pelo documentarista americano Ken Burns lançada em 2001 - IMDb/Reprodução

Fica fácil entender como Nova Orleans criou um terreno fértil para a criação do jazz. A importância da chegada do blues do Mississippi. A liberdade sexual em Storyville. E depois juntar a peças no meio do primeiro episódio, quando o narrador diz: "Para alguns, era apenas uma música nova, cheia de alegria e vitalidade. Mas logo houve quem a apelidasse de 'jass', dizendo que o nome vinha de um perfume de jasmim que era usado pelas prostitutas de Storyville".

É comovente, no segundo episódio, a maneira como Louis Armstrong é compreendido como um artista genial que contribuiu para criar, a partir do jazz, uma noção de swing em todos os gêneros musicais.

Os outros episódios falam ainda de Bessie Smith, Bix Beiderbecke, Benny Goodman, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Miles Davis, John Coltrane, Ornette Coleman e do próprio Wynton Marsalis.

Ken Burns é um dos documentaristas que tentam captar a essência dos Estados Unidos em seus filmes. A série “Jazz” é a terceira parte de uma trilogia que começou com “Guerra Civil”, em 1990, e prosseguiu com “Baseball”, em 1994.

Numa entrevista no Charlie Rose Show, Ken Burns lembrou de uma frase dita por Gerald Early em seu documentário sobre o baseball. “Eu acho que há apenas três coisas pelas quais os Estados Unidos serão lembrados daqui a 200 anos: a Constituição, o baseball e o jazz." Foi ela que fez com que Ken Burns escolhesse o jazz para fechar sua trilogia sobre os Estados Unidos.

“Gerald Early disse que o gene dessa civilização é a improvisação. A Constituição tem quatro pedaços de papel. E é isso. Baseball é um simples jogo de crianças com infinitas combinações de xadrez. E, no coração da única forma de arte que os Estados Unidos inventaram, está a noção de que eu não preciso tocar as notas que estão na partitura. Eu posso tocar do meu jeito. E, tocando do meu jeito, eu mostro quem eu sou. E essa será a arte. É uma música nascida dentro de uma comunidade negra que tem o histórico da escravidão. É uma maneira de tocar na alma dessa nação.”

Ken Burns continua ativo. Em abril, lançou uma série sobre o escritor Ernest Hemingway. Seu próximo lançamento é um seriado documental sobre o pugilista Muhammad Ali.

Faixas extras

Ken Burns fala sobre jazz (Emmy TV Legends)

Ken Burns e Wynton Marsalis em entrevista a Charlie Rose (Charlie Rose Show)

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