O obituário dos “skinny jeans” já foi escrito numerosas vezes desde que eles começaram a ganhar prestígio, um decênio atrás, mas as calças de pernas justas persistiram, apesar de tudo.
Ganharam novas cores e novos cortes e níveis variados de elasticidade, para se manter na moda e nas prateleiras de lojas como a Bloomingdale’s e a Old Navy, se moldando infatigavelmente às ancas e pernas dos Estados Unidos.
Mas atualmente, os sussurros de declínio podem ter peso real, porque os compradores parecem estar afluindo em massa aos jeans de cintura alta e corte mais largo.
Numa conversa recente sobre os resultados da empresa, executivos da Levi Strauss & Co disseram que as tendências de vendas mostram que os jeans soltos, ou mesmo largos, para homens e mulheres, estão vendendo muito e parecem destinados a se tornar uma referência no mundo pós-pandemia.
“O último ciclo do jeans durou mais de dez anos, e foi o ciclo do ‘skinny jeans’”, disse Chip Bergh, presidente-executivo da Levi’s, uma das maiores vendedoras de jeans do planeta, em entrevista.
Embora ainda seja cedo demais para dizer que a era do “skinny jeans” chegou ao fim, ele afirmou que há "muita aceitação das modelagens mais largas" e seus concorrentes estão "acompanhando a tendência, e todos eles estão vendo a mesma coisa”.
“Se isso se sustentar por mais uma ou duas temporadas”, acrescentou Bergh. “É bem possível que vejamos o início de um novo ciclo do jeans.”
O estilo em questão é muitas vezes definido como “mom jeans”, ou jeans de mãe, o que inclui o site da Levi’s, em que modelos que atendem a essa descrição são exibidos com destaque.
Eles se tornaram mais visíveis nos últimos meses nos perfis de moda do Instagram, em que há adolescentes vestidos como personagens de séries da Netflix, e vêm sendo defendidos pelos jovens no TikTok.
Bergh disse que os compradores mais jovens muitas vezes combinam jeans mais largos a tops mais justos. “Esse parece ser o look preferido da geração z e dos jovens da geração millennial, no momento”, disse ele.
Os tipos de jeans que os americanos usam, sejam eles calças boca de sino, calças de boca larga ou modelos “skinny”, são muitas vezes associados a eras específicas, e o varejo está interessado em saber que força terá a tendência do jeans mais largo, na aguardada era pós-pandemia.
Para os comerciantes de roupas, que estiveram entre os setores mais prejudicados da economia nos últimos tempos, a perspectiva de um novo estilo para os jeans é bem-vinda num momento de tentativas de promover novas vendas.
Os jeans “skinny” ainda representam a maior fatia nas vendas de jeans femininos, com 34% das vendas nos Estados Unidos, de acordo com dados do grupo NPD. Mas o estilo perdeu sete pontos percentuais de participação no mercado nos 12 meses até fevereiro. A empresa disse que o mercado de jeans femininos nos Estados Unidos movimenta US$ 7,1 bilhões ao ano.
No começo do ano passado, a Levi’s lançou uma pequena coleção de jeans de cintura alta, corte mais largo e pernas mais largas, para mulheres, definidos como “calças balão”, e as vendas foram “muito, muito boas”, levando a empresa a investir mais nesse tipo de corte, disse Bergh.
A companhia anunciou em seu anúncio de resultados que, no trimestre passado, também viu alta nas vendas dos modelos mais frouxos para homens, como o Levi’s 550 e o Levi’s 559, que venderam 50% a mais do que no período um ano antes.
A empresa havia chegado a discutir o encerramento da produção desses modelos, alguns anos atrás, devido ao seu mau desempenho no mercado.
A tendência não se restringe à Levi’s, que afirma ter inventado o blue jeans, em 1873. A Madewell, uma popular cadeia de varejo controlada pelo grupo J. Crew, também vem registrando entusiasmo pelos jeans de corte mais largo e pelas calças balão, mesmo entre os adeptos do jeans skinny, e isso foi considerado um ponto de inflexão para o novo corte.
“Pessoas que se mantiveram leais aos jeans ‘skinny’ por muito tempo parecem ter decidido que era hora de aderir ao outro lado e tomar uma atitude”, disse Anne Crisafulli, vice-presidente sênior de merchandising da Madewell.
A Madewell, conhecida por seus jeans, vem desenvolvendo estilos que ajudam na transição dos compradores para os modelos mais largos, num esforço para “ajudar as pessoas a se acostumarem a abandonar o ‘skinny’”, disse Crisafulli.
Os consumidores parecem desejar jeans “mais largos e confortáveis” no futuro, ela acrescentou.
Bergh apontou que os ganhos de peso associados à pandemia podem estar propelindo o interesse pelos novos jeans, agora que algumas pessoas estão pensando em atualizar seus guarda-roupas.
A Levi’s, sediada em San Francisco, registrou uma queda de receita de 23%, para US$ 4,45 bilhões, em 2020, já que muitos grupos de varejo perderam vendas por causa de fechamentos temporários de lojas e de mudanças nos hábitos dos consumidores.
As vendas também caíram no primeiro trimestre fiscal da companhia neste ano, encerrado em fevereiro, mas Bergh ressaltou que isso aconteceu antes de as vacinas começarem a circular “com força” nos Estados Unidos. Ele se disse otimista quanto a uma recuperação no mercado de jeans.
“Agora que as pessoas estão pensando em voltar a sair, vão querer saber qual é o look do momento. Vão consultar nosso site e outros sites, vão olhar as revistas de moda e ver que jeans mais largos são a nova tendência”, disse Bergh.
“O fato de que as pessoas se sentirão liberadas para enfim poderem fazer uma refeição com a família, com a namorada ou com o namorado, dará a elas uma ocasião de atualizar seus guarda-roupas, atualizar seus looks e gastar um pouco de dinheiro com elas mesmas, e acho que é isso que já estamos vendo.”
Mas ainda assim, mesmo que um corte mais solto seja o look do jeans na década de 2020, isso não significa que o “skinny jeans” desaparecerá. “Não acredito que o ‘skinny jeans’ desaparecerá de vez”, disse Bergh. “As pessoas estão misturando os estilos, e as mulheres, especialmente, têm escolhas variadas”.
Tradução de Paulo Migliacci
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