Prince volta em disco póstumo cantando sobre o racismo e as fake news

Combinando lirismo com um funk suave em álbum, músico descreveu os Estados Unidos como o lar dos escravos

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Maggy Donaldson
AFP

O primeiro álbum póstumo de Prince será lançado nesta sexta (30). O disco é uma gravação inédita que estava no cofre do músico em Paisley Park, o enorme complexo residencial e artístico construído pelo artista no estado americano de Minnesota.

"Welcome 2 America", um álbum de 12 faixas concluído em 2010 e arquivado por razões desconhecidas, oferece uma visão profética das lutas sociais, do racismo, da fratura política, da tecnologia e da desinformação que prevalecem atualmente nos Estados Unidos.

Combinando lirismo com um funk suave, Prince descreve os Estados Unidos como "terra dos livres/ lar dos escravos".

Homem negro cantando em palco
O músico Princem show de 16 de junho de 1990 - Bertrand Guay / AFP

O artista, que morreu aos 57 anos, em 21 de abril de 2016 por uma overdose acidental de fentanil, não sabia que, nos anos após sua morte, sua cidade natal, Minneapolis, explodiria numa fúria de protestos após o assassinato de George Floyd.

Mas Prince era um ativista de carreira que defendia o empoderamento dos afro-americanos, e não apenas na indústria fonográfica.

“Você vai para a escola só para aprender/ sobre o que nunca existiu”, cantou ele em “One Day We Will All B Free", faixa que encerra o novo disco.

Segundo Morris Hayes, que foi tecladista e diretor musical do cantor, o álbum é "um ataque direcionado como um laser à situação dos Estados Unidos". "Este é um esforço conjunto para realmente falar sobre essas coisas", afirmou Hayes, que coproduziu o álbum.

Segundo Hayes, o artista "estava muito à frente" ao prenunciar o momento atual. "Ele queria, eu acho, um país que realmente representasse o que diz querer representar, liberdade e justiça para todos", disse Hayes em uma entrevista à AFP. "E sabemos, dolorosamente, que esse não é o caso."

Hayes afirmou ainda que Prince, que não usava celular e memorizava os números de telefone necessários, também abordou no álbum a liberdade diante da tecnologia, o que ele via como "algo que algema as pessoas".

Mais de 8.000 canções estão no cofre em Paisley Park. Parte do conteúdo, porém, foi transferido para Iron Mountain, um depósito climatizado em Los Angeles.

Hayes lembra que, em meados da década de 1990, Prince comentou que fez uma pausa pela primeira vez. “Ele disse 'nunca em minha carreira tinha ficado uma semana sem escrever uma música e pegar meu violão'."

A revelação do vasto tesouro musical de Prince é um assunto delicado. O astro controlava seu trabalho, sua imagem e sua enigmática persona cuidadosamente construída.

Prince, que administrava sua propriedade, agora nas mãos de sua irmã e cinco irmãos, nunca foi claro sobre suas intenções sobre o que fazer com o trabalho não editado, embora tenha tomado medidas para preservar suas fitas, filmes, roteiros e músicas, sugerindo que ele queria que fossem compartilhados.

Quando questionado pela revista Rolling Stone em 2014 sobre o que queria para seu trabalho após sua morte, Prince foi caracteristicamente nebuloso. "Não penso no 'depois'", disse.

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