Descrição de chapéu
Renato Terra

'Amor à Flor da Pele' resgata a intensidade dos amores reprimidos

Clássico de Wong Kar-wai, disponível no Mubi, tem foco nas sutilezas da atmosfera de sedução

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Hong Kong, anos 1960. Um homem e uma mulher sublocam quartos em apartamentos vizinhos. Os espaços são exíguos. Os ambientes são impessoais. Ambos são casados, mas o marido dela e a mulher dele estão sempre viajando. O primeiro vínculo entre os dois se estabelece pela ausência.

A atmosfera entre os dois, no entanto, é de sedução. Uma sedução sutil que se expressa nos olhares contidos, nos climas e nas possibilidades. Um outro vínculo se forma quando os dois descobrem que estão sendo traídos em seus casamentos.

São os sentimentos reprimidos que conectam a senhora Chan —papel de Maggie Cheung—, uma secretária, e o senhor Chow Mo-wan —Tony Leung—, um jornalista. Aos poucos, nessa rotina minguada, um envolvimento poderoso vai surgindo entre eles.

Homem e mulher próximos a uma parede
Cena de 'Amor à Flor da Pele' - Imdb

Em "Amor à Flor da Pele", O diretor Wong Kar-wai joga o foco sobre as sutilezas dessa relação intensamente abafada. “No começo, eu achei que seria um filme fácil porque tinha dois personagens e o filme todo é sobre eles. Mas me dei conta que era muito mais difícil que meu filme anterior, que tinha dez personagens, porque eu precisava pôr uma série de detalhes ali”, ele disse para o site Indiewire.

Kar-wai explicou a escolha por ambientar o filme nos anos 1960. “É um período logo depois de 1949 [quando aconteceu a revolução comunista]. Vários chineses estavam vivendo em Hong Kong e eles ainda tinham sonhos de voltar para a China. Assim como as comunidades chinesas do filme, havia pessoas de Xangai que tinham seus dialetos, seus próprios filmes, músicas e rituais.”

As sutilezas estão nas luzes, cores, diálogos, figurinos, enquadramentos, trilha sonora, na montagem, nas escolhas do roteiro. Um exemplo: os rostos dos cônjuges infiéis nunca é mostrado. São vultos impessoais, com quem a Chan e o Chow não têm mais relações. Outro exemplo é a escolha de cores fortes, como o vermelho, em tons opacos.

A montagem usa a trilha sonora para enfatizar a duração daquela situação enfastiada. De tempos em tempos, a voz de Nat King Cole vem dar o recado, em espanhol. “Y así pasan los días/ Y yo, desesperando/ Y tú, tú contestando/ Quizás, quizás, quizás.”

Num “mood” tão opaco, contido e impessoal, os estilosos vestidos de Chan chamam atenção. Kar-Wai afirmou que eles não trazem apenas uma sensualidade elegante para a personagem.

“Nós tínhamos 20, ou 25, vestidos para ela. Ela se troca o tempo todo. A gente repete a música, a posição da câmera, o relógio, o corredor, as escadas. Eu queria mostrar que nada muda, exceto as emoções desses dois personagens.”

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