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Nicole Kidman polemiza em Hong Kong depois de ser dispensada de quarentena

População viu exceção à atriz, que está gravando uma série na cidade, como injusta, e tema gerou debates entre legisladores

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Mike Ives
The New York Times

Quando Nicole Kidman viajou a Hong Kong a fim de gravar uma série de TV sobre expatriados ricos, a população local certamente notou alguns dos privilégios da atriz –jatinho executivo, motorista particular e, acima de tudo, uma dispensa da quarentena obrigatória.

Houve quem visse a situação como um caso de a vida imitando a arte, ou como prova do poder das celebridades, ou pelos menos de um tropeço de relações públicas em meio a uma pandemia.

Mas, de qualquer forma, muita gente no território chinês considerou que a maneira pela qual a atriz australiana foi autorizada a contornar as regras locais quanto ao coronavírus —que estão entre as mais severas do planeta— era um símbolo da injustiça que caracteriza uma cidade de desigualdades gritantes. No dia 20 de agosto, a rara isenção concedida a Kidman se tornou tema de debate no Legislativo da cidade.

“Agora que vocês criaram um precedente, isso significa que todas as estrelas de cinema estrangeiras estarão isentas se desejarem voar a Hong Kong para fazer filmes?”, perguntou Michael Tien, um legislador situacionista, à secretária da Saúde, Sophia Chan. “Se não é esse o caso, você pode me explicar por que Nicole deve ser considerada superior a todo mundo mais? Ainda que eu goste bastante dela”.

Kidman foi às compras no centro de Hong Kong dois dias depois de chegar de avião de Sydney, em um jato executivo, noticiou o jornal South China Morning Post. O governo mais tarde confirmou que ela e mais quatro membros da equipe haviam sido autorizados a contornar uma regra que requeria que viajantes vacinados vindos da Austrália fizessem quarentena em um hotel por uma semana —o prazo foi estendido para duas semanas na sexta.

Um regulamento de Hong Kong permite que um funcionário de primeiro escalão do governo local conceda isenções de quarentena a pessoas cujo trabalho seja considerado como “de interesse” para o desenvolvimento econômico da cidade.

O Escritório de Desenvolvimento Comercial e Econômico de Hong Kong informou na semana passada que a isenção concedida a Kidman permitiria que ela realizasse seu “trabalho profissional designado” e visto como necessário para a economia local.

A atriz australiana Nicole Kidman em Hong Kong, durante as gravações da série 'Expats' - Tyrone Siu/Reuters

Mas em uma cidade cujas fronteiras estiveram fechadas aos não residentes por boa parte da pandemia –e na qual alguns dos visitantes continuam sujeitos a regras que exigem três semanas de quarentena em hotel—, a isenção a Kidman não caiu bem.

Diversos críticos apontaram que ela está em Hong Kong para filmar “Expats”, série da Amazon Prime Video baseada no romance “The Expatriates”, de 2016, de Janice Y. K. Lee, que satiriza os ocidentais ricos que vivem no território.

Outros contrastam a liberdade que ela teve para viajar com as condições vigentes na Austrália, apontando que a atriz visitou uma loja de roupas fina de Hong Kong no momento em que Sydney estava entrando em lockdown. Um jornalista de Hong Kong noticiou que o motorista de Kidman estacionou o Range Rover que ele dirigia em uma vaga ilegal, prejudicando um cruzamento, enquanto a esperava voltar da loja.

Representantes de Kidman não responderam de imediato a um pedido de comentário. Algumas das fotos da viagem dela a Hong Kong a mostram usando máscara em público, como a maior parte das pessoas vem fazendo desde que a Covid-19 emergiu, na vizinha China.

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Paisagem de Hong Kong à noite - Lam Yik Fei/The New York Times

Alguns residentes de Hong Kong veem a série da Amazon como infeliz em seu momento de rodagem, já que alguns moradores tiveram de fugir da cidade para escapar a uma onda de repressão que resultou na prisão de políticos de oposição, universitários e outros que apoiaram os grandes protestos antigovernamentais no território em 2019.

Muitos moradores se queixam há bastante tempo sobre a desigualdade em Hong Kong, e os líderes do território já enfrentaram outras reações públicas por adotar regras diferentes quanto à Covid para os ricos e para os pobres.

Em maio, o governo discretamente anunciou um plano que isentaria executivos de empresas da quarentena, mas depois suspendeu a medida.

Mais ou menos ao mesmo tempo, as autoridades recuaram quanto a uma ordem que exigiria que trabalhadores migrantes fossem vacinados. Mas o governo foi adiante com um plano para submeter esses trabalhadores a uma segunda rodada de exames compulsórios de coronavírus, embora a primeira rodada só tenha registrado três resultados positivos em 340 mil pessoas.

Tradução de Paulo Migliacci

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