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Novo Superman bissexual traz marco para era da diversidade nas HQs

Jonathan Kent, filho de Clark Kent e Lois Lane, terá relacionamento com um homem, anunciou a DC Comics

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George Gene Gustines
Nova York | The New York Times

O novo Superman, Jonathan Kent —filho de Clark Kent e Lois Lane— vai ter em breve uma relação com um homem, anunciou a DC Comics na segunda.

O relacionamento homossexual é só uma das maneiras com que Jonathan Kent, conhecido apenas por Jon, está provando ser um herói diferente de seu pai famoso.

Um homem vestido com o traje de super-herói beija outro rapaz de cabelos roxos e blusa laranja
Jonathan Kent, o novo Superman, filho de Clark Kent e Lois Lane, beija seu amigo Jay - Reprodução

Desde que a série que protagoniza, “Superman: Son of Kal-El”, ou Superman, filho de Kal-El, começou a ser publicada em julho, Jon já combateu incêndios causados pelas mudanças climáticas, impediu um atirador numa escola e protestou contra a deportação de refugiados em Metropólis, cidade fictícia que habita.

“A ideia de substituir Clark Kent por outro herói branco e hétero me parecia um desperdício”, diz Tom Taylor, que escreve a série. Ele afirma que “um novo Superman tinha que ter novas lutas —problemas da vida real— que ele poderia enfrentar como uma das pessoas mais poderosas do mundo”.

A saída do armário de Superman, talvez o mais arquetípico super-herói americano, marca um momento importante mesmo em uma era em que várias HQs abraçam a diversidade e exploram problemas sociais.

Parceiro de Batman, Robin recentemente saiu do armário como bissexual (não Dick Grayson, que foi o companheiro do herói por quatro décadas, mas Tim Drake, que assumiu o papel mais tarde; há múltiplos Robins, assim como há vários Supermans). E um novo gibi do Aquaman tem como protagonista um homem negro e gay que assumirá o personagem-título.

É uma evolução e tanto para uma indústria que se censurou continuamente desde que “Seduction of the Innocent”, um livro do psiquiatra Fredric Wertham de 1954, indicou que temas como sexo, violência e sanguinolência apareciam com frequência entre as suas páginas e sugeriu uma conexão entre o hábito de ler quadrinhos e delinquência juvenil.

Em um trecho, o psiquiatra descreve Batman e Robin como “o desejo sonhador de dois homossexuais vivendo juntos”.

O livro inspirou pautas de sessões do Congresso americano e levou a própria indústria de quadrinhos a criar um código de regulamentação, o Comics Code Authority, que definia padrões do que os gibis podiam retratar.

A personagem da Batwoman surgiu naquele ano como um interesse amoroso do herói mascarado. Ela acabou ostracizada, mas ressurgiu em 2006. (Parte da história da personagem inclui o fato de que ela sai do serviço militar porque se recusa a mentir sobre ser lésbica.)

Um dos primeiros quadrinhos a ter personagens gays e lésbicas surgiu em 1980. Não era um retrato positivo da comunidade LGBTQIA+. Na trama, Bruce Banner, alter ego do Hulk, está em um clube quando dois homens gays o tentam estuprar.

As coisas começaram a evoluir em 1992, quando Estrela Polar, outro herói da Marvel, saiu do armário —um marco elogiado por um editorial do New York Times. “A cultura pop vai, um dia, fazer as pazes com os americanos gays”, afirma o texto. “Quando isso acontecer, a revelação de Estrela Polar será vista pelo que é, um sinal bem-vindo de mudança social.”

Embora o Superman não seja nem o primeiro, nem o último herói LGBTQIA+, especialistas afirmam que há algo particularmente antenado com os tempos nessa saída do armário de agora.

“Não é o Estrela Polar, de quem a sua tia nunca ouviu falar”, afirma Glen Welson, autor de “Superman: Uma Biografia Não Autorizada” e um dos apresentadores de um programa sobre cultura pop na rádio NPR. “Não é o Hulkling. Não é o Wiccan. Não são Fogo e Gelo. Não é o Taz. É o Superman. Isso faz diferença —mesmo que só em termos de visibilidade, de atrair atenção.”

Weldon afirma que as mudanças nos quadrinhos podem levar a narrativas mais vibrantes. “Qualquer passo que torne o universo reproduzido na página de um HQ de super-herói mais parecido com o mundo fora dele é positivo”, diz ele. “Isso nos dá acesso a histórias mais variadas, interessantes, envolventes, e também a novas formas de contar.”

Jonathan Kent vestiu o manto do Superman ao lado de seu pai neste ano. Já a versão de Clark Kent para o super-herói surgiu em 1938. O personagem casou com Lois Lane em 1996. Jonathan foi apresentado ao público em 2015 e —aproveitemos para pular várias firulas da trama— passou um tempo como Superboy antes de ser encorajado pelo pai a se tornar o novo Superman.

Jonathan e Jay Nakamura, seu interesse romântico, se conheceram em um gibi publicado em agosto em que dá errado a tentativa do novo Superman de estabelecer uma identidade secreta ao mesmo tempo em que frequenta a escola. No mês passado, Jay, que quer ser jornalista, conheceu os pais de
Jonathan —e ficou embasbacado com Lois Lane.

Jonathan e Jay se beijarão em uma edição publicada em novembro. Neste mês, os leitores descobrirão que Jay tem habilidades especiais. “Jay pode representar a única pessoa na vida de Jon que ele não precisa proteger”, diz Taylor, o criador da nova série. “Queria que a relação deles fosse realmente igualitária, que eles ajudassem um ao outro.”

Segundo Taylor, os editores da DC já estavam considerando um desenvolvimento nessa linha para o personagem do Superman e apoiaram a sua decisão.

“Sempre disse que todos precisam de heróis e que merecem ver a si mesmos como heróis”, afirma Taylor. “Para tanta gente, ver o herói mais poderoso das HQs sair do armário tem uma potência imensa.”

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