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Adele lança '30' e vai além da sofrência em disco sobre superação

Se 'Easy on Me' atendeu às expectativas dos fãs ao retratar o divórcio de Adele, o restante do álbum percorre temas até então inexplorados pela cantora

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Adele quer alcançar a plenitude. Está aprendendo a ser feliz, sozinha ou acompanhada. Em seu aguardado quarto disco, "30", o que mais a faz sofrer não são os amores impossíveis de concretizar ou de esquecer, como em "19", "21" e "25", mas a relação mais importante de sua vida —a que ela tem consigo mesma.

O fio condutor do álbum, que será lançado nesta sexta-feira (19), é a crise dos 30, idade que Adele completou em 2018, um ano antes de romper com seu então marido, Simon Konecki, com quem vivia desde 2011, e pai de seu único filho, Angelo, de nove anos.

A base da campanha de divulgação de "30" é o divórcio —seja nos ensaios fotográficos que ilustram as raríssimas entrevistas que a cantora deu para promover o disco, nenhuma delas para jornalistas brasileiros, seja na escolha de "Easy on Me" como single principal.

É que, quando a imprensa vazou que Adele havia se separado de Konecki, o divórcio chegou a ser comemorado, ainda que em tom brincalhão, por seus fãs. Agora, eles pensavam, a cantora teria sobre o que cantar e retornaria com tudo.

E de fato retornou. Ao ser lançado, em outubro, "Easy on Me" conquistou sem esforço o topo das paradas e quebrou o recorde de audições diárias no Spotify, o principal serviço de streaming de música.

Com isso, Adele saltou de 500 para 2.000 reproduções diárias nas rádios brasileiras no último mês segundo a Playax, uma startup que analisa audiência de músicas. "Easy on Me" já tocou 18,5 mil vezes, quase metade das 41 mil reproduções que "Someone Like You" acumula desde janeiro e prestes a ultrapassar as 26 mil de "Rolling in the Deep".

O clipe, que veio um dia depois, fez igual sucesso. Fazia, afinal, cinco anos que não se ouvia o vozeirão enfumaçado de Adele se fundir à melancolia do piano na espécie de simbiose que é sua principal marca.

"Você não pode negar o quanto tentei/ O quanto mudei para colocá-lo em primeiro lugar/ Mas agora desisto", canta uma Adele pensativa enquanto encara a paisagem através da janela ou entra no carro para dirigir sem rumo.

Um irmão quase gêmeo de "Someone Like You" e de "Hello", com semelhanças não só líricas e melódicas, mas até na fotografia monocromática do clipe, "Easy on Me" era o que todos esperavam.

Ocorre que o single não sintetiza a essência do álbum. Na verdade, ele é a única, entre uma dúzia de faixas, a retratar o divórcio. As demais percorrem assuntos até então inexplorados pela cantora.

Em "Oh My God", por exemplo, Adele canta sobre sua vontade de viver a vida sem as amarras que o estrelato lhe impõe sob um arranjo que mescla soul com gospel, enquanto em "Can I Get" dá vazão, entre assobios, ao medo de se entregar a um relacionamento que só sobreviva pela cumplicidade sexual.

Em "I Drink Wine", a cantora questiona por que se cobra tanto, tenta controlar o incontrolável e busca aprovação de pessoas com quem nem sequer se importa. "Dizem para você se esforçar, você se esforça, encontra um balanço no sacrifício/ Mas ainda não conheci ninguém que esteja realmente satisfeito", canta.

A insatisfação ainda a acompanha em "Hold On", faixa em que Adele canta estar cansada de lutar contra si mesma sem nenhuma chance de vencer a batalha. Esta, porém, abre espaço para ela dizer que tudo há de melhorar. "Aguente firme/ Você ainda é forte/ Cedo ou tarde, o amor virá", diz o refrão, ecoando a mensagem de superação que, sem soar piegas nem repetitivo, atravessa boa parte do álbum.

Parece que, após tanto sofrimento, Adele quer alcançar a plenitude. Não que "30" seja um disco todo alegre. "My Little Love", por exemplo, é de quebrar o coração. Dedicada a Angelo, com gravações de trechos de conversas entre mãe e filho, a cantora admite não saber bem o que está fazendo e se sente culpada por suas falhas, mas sabe que precisa segurar a barra.

A partir da faixa seguinte, no entanto, Adele segue em frente. "Chore até seu coração sair do peito/ Mas limpe o rosto/ Se estiver em dúvida, vá no seu próprio ritmo", ela canta em "Cry Your Heart Out", uma faixa que soa quase como um reggae.

É o sentimento de quem está pronta para amar novamente, o que ainda ressoa em "All Nights Parking Out", uma declaração de amor em que Adele canta, acompanhada do pianista de jazz Erroll Garner, que mal pode esperar para chegar em casa para passar a noite em claro com seu novo amado.

Não é ingenuidade. Em "To Be Loved" e "Love Is a Game", Adele mostra que sabe que nada será um mar de rosas. Canta que amar e ser amado significa perder tudo. Ainda assim, ela escolhe amar, perder o que tiver que perder e sofrer o que tiver que sofrer. Assim é a vida, afinal. Está tudo bem.

Ainda mais confiante no poder que sua voz tem de catalisar as mais intensas emoções, e recorrendo pouco a refrões fáceis ou aos sintetizadores eletrônicos que dominam a indústria musical, Adele mostra em "30" que tem talento para cantar sobre o que quiser. Resta saber, porém, se os ouvintes estão preparados para a quebra de expectativas e vão embarcar nesta nova jornada com a mesma fidelidade de outrora.

30

  • Quando Disponível nesta sexta (19), nas plataformas de streaming
  • Gravadora Sony Music Entertainment
  • Artista Adele

O jornalista viajou a convite da Sony Music

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