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'Noite Passada em Soho' tem Anya Taylor-Joy em bagunça previsível

Novo filme de Edgar Wright fica entre os excessos do giallo e a elegância de uma boa história de fantasmas

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Noite Passada em Soho

  • Quando Estreia nesta quinta (18), nos cinemas
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Anya Taylor-Joy, Thomasin McKenzie e Matt Smith
  • Produção Reino Unido, 2021
  • Direção Edgar Wright

Nascido em 1974, o diretor Edgar Wright cresceu obcecado pelos anos 1960. Embalado pela coleção de discos dos pais, ele queria retornar ao antigo Soho, bairro boêmio de Londres, durante os anos rebeldes e visitar as casas noturnas. É o sonho que a protagonista de seu oitavo longa-metragem, "Noite Passada em Soho", consegue realizar –apenas para se deparar com um pesadelo.

Thomasin McKenzie interpreta Ellie, uma jovem aspirante a estilista que ganha uma bolsa de estudos para cursar moda em Londres. Após alugar um quarto da misteriosa Sra. Collins —a icônica Dianna Rigg, que morreu em 2020, em sua última performance—, ela passa a ter sonhos vívidos com Sandie, uma cantora iniciante da década de 1960, encarnada pela magnífica Anya Taylor-Joy.

Anya Taylor-Joy em cena do filme "Noite Passada em Soho", de Edgar Wright
Anya Taylor-Joy em cena do filme "Noite Passada em Soho", de Edgar Wright - Divulgação

A princípio, os sonhos são como visões fabulosas de um passado vibrante e sedutor. Sandie é uma cantora promissora, prestes a conquistar o mundo –a versão de Taylor-Joy de "Downtown" chega a provocar arrepios. À medida que os limites entre as personalidades de Ellie e Sandie começam a se embaralhar, porém, o filme adota um tom mais sinistro para tratar dos perigos da nostalgia.

Wright começou a pensar na trama de "Noite Passada em Soho" há mais de dez anos, quando ganhou uma cópia do livro "Hammer Glamour", com fotos e dados biográficos de atrizes como Ingrid Pitt e Raquel Welch, estrelas do famoso estúdio britânico de terror. Apesar do magnetismo das imagens, ele percebeu que muitas das carreiras das atrizes terminaram abruptamente ou até mesmo em tragédia.

Para fundamentar o roteiro que assina junto com Kristy Wilson-Cairns, Wright contratou a pesquisadora Lucy Pardee para coletar histórias de abuso sexual de mulheres que viveram e trabalharam no Soho naquela época. Wilson-Cairns, que trabalhou em um pub e morou ao lado da Sunset Strip, a casa de striptease mais antiga de Londres, também foi testemunha da misoginia característica da região.

Além dos relatos coletados pela pesquisadora e das histórias que a própria mãe lhe contou sobre homens abusivos do passado, Wright se inspirou em clássicos como "A Tortura do Medo", "Seis Mulheres para o Assassino", "Blow Up – Depois Daquele Beijo" e "Repulsa ao Sexo". Há também uma clara influência estética de "Inferno", obra inacabada de Henri-Georges Clouzot, entre várias referências à nouvelle vague britânica.

"Noite Passada em Soho" marca uma ruptura significativa do estilo mais leve e jocoso da "trilogia Corneto" de Wright, composta por "Todo Mundo Quase Morto", "Chumbo Grosso" e "Heróis da Ressaca". Após "Scott Pilgrim Contra o Mundo" e "Em Ritmo de Fuga", chama a atenção também por ser o seu primeiro longa centrado em personagens femininas.

Nos Estados Unidos, algumas críticas feministas acusaram o diretor de retratar a indústria do sexo com um moralismo anacrônico, que perpetua estereótipos nocivos. Há uma cena nos bastidores de uma boate, por exemplo, que é repleta de prostitutas drogadas, forçadas a trabalhar. "Noite Passada em Soho" seria uma boa obra de terror se este fosse o único problema.

Apesar do óbvio talento técnico de Wright, com fotografia e edição de som sempre impecáveis, fica claro que o diretor tentou fazer muitos filmes diferentes em um só. O terceiro ato do roteiro é uma bagunça previsível –e, mesmo quando antecipamos o que está para acontecer, o desenrolar dos fatos é ainda um pouco pior do que havíamos imaginado.

Muitas vezes, o gênero do terror peca na quase obrigatoriedade de uma reviravolta final, por mais decepcionante que ela seja. O assustador nem sempre reside naquilo que parece, mas não é —às vezes, o que provoca horror é apenas a confirmação de uma suspeita. Com "Noite Passada em Soho", Wright parece ter tomado o caminho errado entre os excessos do "giallo" e a elegância de uma boa história de fantasmas.

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