Descrição de chapéu mostra de cinema

Cinemas nos EUA oferecem pacote de filmes ilimitados pelo preço de dois ingressos

No Brasil, projetos semelhantes esbarram na inflação e em negociações potencialmente complexas com distribuidoras

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Washington

Nos Estados Unidos, uma vantagem do streaming vai ganhando espaço nos cinemas: ver filmes à vontade pagando um valor fixo por mês.

As duas maiores redes de cinema do país possuem pacotes do tipo. Na AMC, o plano Stubs A-List permite ver até três sessões por semana, por uma mensalidade que varia entre US$ 19,95 a US$ 23,95, de acordo com a cidade. O plano inclui projeções em 3D e Imax, taxa zero para reservar ingressos pelo site e desconto de 10% na bombonnière.

Na Regal, pode-se ver ainda mais filmes: o plano Unlimited é praticamente ilimitado: pode-se ver quantas sessões quiser, mas apenas em salas 2D. Para acessar 3D ou Imax, paga-se a diferença de valor. Há também taxa de US$ 0,50 por reserva online.

cartão em que se inscreve "movie pass" é inserido em máquina
Um espectador usa o MoviePass para comprar um ingresso no Angelika Film Center em Nova York em 2018; startup faliu em 2019, depois que as redes americanas AMC e a Reagal lançaram planos próprios - Vincent Tullo/The New York Times

Ao comprar o plano da Regal, que custa entre US$ 18 e US$ 23,50, o app cria uma carteirinha digital, com a foto do cliente e um QR Code, a ser apresentado na bilheteria para retirar as entradas.

O valor dos ingressos de cinema em Washington varia entre US$ 5 e US$ 13, dependendo do dia da semana e horário. Assim, o pacote ilimitado da Regal custa menos do que dois ingressos comuns nos fins de semana. Vale notar que no país, não há meia-entrada obrigatória, e os cinemas dão descontos em torno de 20% para crianças e idosos. Estudantes têm desconto similar em dias e horários específicos.

Na Cinemark, terceira maior rede do país, o pacote Movie Club dá direito a um ingresso grátis por mês e descontos na compra de entradas e comida, por mensalidade de US$ 8,99 ou US$ 9,99.

A onda de oferecer ingressos mais em conta para visitantes frequentes começou nos EUA a partir de 2011, com a startup MoviePass. A iniciativa recebeu investimentos de peso e tentou vários modelos diferentes, que variavam o preço e a quantidade de filmes, em parcerias com vários exibidores. No entanto, a empresa faliu em 2019, meses depois que a AMC e a Reagal lançaram planos próprios.

Na retomada pós-pandemia, a Reagal reduziu o período mínimo de permanência no plano, de 12 para 3 meses. E a AMC, que também determina três meses de fidelidade, tem feito promoções: na Black Friday, a primeira parcela saiu por US$ 1,99.

Em outubro, a AMC teve seu melhor mês desde o começo da pandemia, em termos de venda de ingressos e faturamento. Embora não revele números de público, a empresa diz ter arrecadado US$ 1,8 bilhão no terceiro semestre de 2021, número 96% maior do que no mesmo período de 2020. A marca opera 596 cinemas nos EUA.

"No entanto, ainda não estamos onde queremos estar. Ninguém deve ter ilusões de que não haverá desafios à frente. O vírus continua presente, precisamos vender mais ingressos do que vendemos no trimestre passado e a margem de lucro EBITDA ainda está abaixo dos níveis pré-pandemia", disse Adam Aron, CEO da AMC, ao anunciar os resultados da empresa, no começo de novembro.

Em Washington, as salas da Regal tem ficado cheias aos fins de semana, especialmente em estreias de blockbusters. Todas as salas dali possuem poltronas reclináveis, que lembram os espaços VIPs de cinemas de São Paulo. O preço da pipoca também é caro: os sacos custam de US$ 8 a US$ 10, sem refil.

No Brasil, a volta do público vem ocorrendo de forma gradual. O Kinoplex, por exemplo, recebeu mais de 500 mil espectadores em outubro deste ano. O número é cerca de metade do registrado em outubro de 2019 (1,2 milhão), antes da pandemia, mas cinco vezes mais do que em outubro de 2020, quando vieram apenas 102 mil frequentadores. "Os números mostram que estamos em recuperação, mas ainda temos um longo caminho pela frente", afirma Patricia Cotta, gerente de marketing da rede.

As principais redes brasileiras não pretendem oferecer planos ilimitados, mas apostam em ofertas variadas para atrair público e dar desconto a clientes cadastrados —a lista de programas pode ser vista ao final da reportagem.

No país, o benefício da meia-entrada é estendido a clientes de bancos, operadoras de telefonia e empresas que fazem parcerias com os cinemas. Isso facilita o acesso de alguns públicos, mas ao mesmo tempo mantém o valor do ingresso cheio mais alto.

Para Humberto Neiva, coordenador do curso de cinema da Faap e programador do Espaço Itaú, a instabilidade econômica do Brasil dificulta a adoção de pacotes ilimitados no país. "Custos como o da energia vem aumentando muito, e aí um pacote de ingressos que custasse digamos, R$ 20 hoje, poderia não cobrir mais os custos daqui a alguns meses", pondera.

Neiva aponta que para criar planos de descontos é preciso negociar com os distribuidores dos filmes, pois eles recebem parte do valor dos ingressos. Em caso de grandes lançamentos, o valor pode ser dividido meio a meio entre cinema e o distribuidor. "Você pega um filme como o ‘Eternos’, que vai querer fazer um dinheiro rápido na estreia. Uma promoção no preço do ingresso vai diminuir o ganho do distribuidor do filme, então isso teria de ser acertado com ele. E seria preciso haver um acordo com todas as redes, pois se um exibidor puder dar desconto, outros vão querer dar também."

Por outro lado, um maior afluxo de frequentadores pode aumentar o ganho dos cinemas com comida e bebida, receita que fica toda para o estabelecimento. "Ganha-se muito mais com pipoca e guaraná do que com bilheteria. Isso sempre aconteceu. As pessoas compram muito e o custo-benefício é muito maior", afirma.

O coordenador lembra também que havia cineclubes no Brasil, nas décadas de 1960 a 1980, com proposta similar: os afiliados pagavam um valor fixo e podiam ver quantos filmes quisessem, geralmente produções de fora do circuito comercial. O modelo, no entanto, acabou falindo.


Planos de vantagens no Brasil

Cinemark
Plano Meu Cinemark dá 50% de desconto no ingresso em alguns filmes, até 15% de abatimento em itens de bombonnière e um ingresso grátis ao fazer a adesão. Há taxa anual de R$ 14,90.

Cinépolis
Programa Clube de Vantagens dá desconto em ingressos em alguns dias da semana e uma pipoca mini grátis às segundas, na compra de uma entrada. Sem taxa de adesão.

Espaço Itaú
Clube do Cinéfilo permite juntar pontos que podem ser trocados por ingressos grátis ou combo de pipoca e refrigerante. Sem taxa de adesão.

Kinoplex
Programa Kinopass vende combos de ingressos com desconto: cinco ingressos para salas standard e KinoEvolution saem por R$ 65 (R$ 13 por sessão). Já cinco ingressos para salas Platinum custam R$ 140 (R$ 28 cada).

UCI
Plano UCI Unique dá direito a pagar meia-entrada em todas as sessões, upgrade no tamanho da pipoca e um ingresso grátis no momento da aquisição. Adesão custa R$ 12 e não há mensalidade.

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