De censura a assédio moral, relembre gestão de Sérgio Camargo na Palmares

Exonerado para poder concorrer à Câmara dos Deputados, ex-presidente da fundação teve mandato marcado por polêmicas

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São Paulo

À frente de um órgão de pouca expressão política e pouco orçamento do governo, Sérgio Camargo tornou a Fundação Cultural Palmares uma das repartições mais conhecidas da Secretaria Especial da Cultura —não exatamente pelas ações concretas que tenha tomado à frente dela, mas pelas polêmicas que protagonizou ao longo de seu mandato, que se encerrou nesta quinta.

Ex-presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, chega ao Palácio do Planalto para almoço com o presidente Jair Bolsonaro, em 2020 - Pedro Ladeira/Folhapress

Exonerado do órgão para concorrer ao cargo de deputado federal por São Paulo nas eleições de outubro, Camargo chegou à Fundação Cultural Palmares em novembro de 2019. Ele se definia como "negro de direita, contrário ao vitimismo e ao politicamente correto", e sua gestão foi marcada pela luta contra pautas do movimento negro.

De tentativas de mudar o nome da fundação até o banimento de livros de autores de esquerda do acervo da fundação, veja os momentos marcantes da gestão de Camargo na Fundação Cultural Palmares.

Mudança de nome da função

Desde que assumiu o cargo, Sérgio Camargo deixou claro que era contrário à personalidade que dá o nome à fundação, o líder quilombola Zumbi dos Palmares. Ele apresentou a proposta de mudar o nome da instituição assim que foi convidado para assumir sua presidência, em 2019. Seu plano, disse, era rebatizar o órgão com o nome de Fundação Princesa Isabel, em homenagem à filha do imperador Dom Pedro 2ª que assinou a Lei Áurea.

Numa publicação no Twitter em janeiro deste ano, ele comentou a sua vontade. "Não faz sentido homenagear Zumbi [dos Palmares], um líder tirano e escravocrata", escreveu, acrescentando ainda que, se essa alteração dependesse só dele, já teria sido feita "na base da canetada". Para fazer isso, no entanto, Camargo precisaria de chancelas de outros órgãos federais, como a Câmara dos Deputados, e o projeto não foi levado a cabo.

Constantemente criticado por Camargo, Zumbi liderou o quilombo de Palmares, o maior do eixo afro-atlântico, na antiga capitania de Pernambuco, na segunda metade do século 17.

Denúncias de assédio moral

Em agosto do ano passado, o Ministério Público do Trabalho pediu o afastamento de Sérgio Camargo da Fundação Palmares após denúncias de assédio moral, perseguição ideológica e discriminação contra funcionários da instituição.

Segundo a denúncia, funcionários do órgão relataram que havia um clima de terror psicológico no ambiente da fundação, uma vez que Camargo perseguia aqueles que chamava de "esquerdistas". Além disso, funcionários do órgão disseram que Camargo associava pessoas de "cabelos altos" a malandros.

Com a medida do Ministério Público do Trabalho, ele ficou proibido de nomear e exonerar servidores, bem como de intimidar trabalhadores nas suas redes sociais ou nas da Palmares, mas se manteve à frente do órgão.

Em fevereiro deste ano, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes determinou que a Justiça Federal, e não a do Trabalho, analisasse a ação civil pública contra Camargo.

Censura a livros do acervo

Servidores da Fundação Palmares revelaram, em junho de 2020, que Camargo ordenou a remoção de páginas do site da instituição sobre personalidades negras importantes no Brasil, em especial aquelas que se projetaram como símbolos da esquerda.

No mosaico de fotografias e nomes exibidos, foram removidas personalidades como os abolicionistas Luís Gama e André Rebouças e a escritora Carolina de Jesus, além de Zumbi dos Palmares.

Quase um ano depois, Camargo anunciou que todos os arquivos relacionados ao guerrilheiro comunista Carlos Marighella também seriam excluídos do acervo da instituição. "Além do imprestável Marighella, livros que promovem pedofilia, sexo grupal, pornografia juvenil, sodomia e necrofilia também estão com os dias contados na [Fundação] Palmares. Serão excluídos do acervo", escreveu Camargo à época em sua conta no Twitter.

Sob sua gestão, a Fundação Palmares também excluiu 27 negros de lista de personalidades homenageadas pela instituição, como os cantores Elza Soares, Gilberto Gil e Martinho da Vila, além da escritora Conceição Evaristo e da filósofa Sueli Carneiro.

Dia da Consciência Negra

Ao longo do mandato de Camargo, não faltaram em sua agenda críticas ao Dia da Consciência Negra, que ele vê como uma vitimização por parte do movimento. Em publicações no Twitter, ele ironizou a data, que chamou de "Dia da Mente Negra Escravizada pela Esquerda" e "Dia do Culto ao Ressentimento pelo Passado".

O ex-presidente da Fundação Palmares defende que comemorar a data, numa homenagem ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro, é uma atitude racista. Segundo sua visão, "não se trata de 'esnobar' a data, mas de expor sua real motivação". "Sob o disfarce de 'combate ao racismo', tentam segregar negros, despertando ódios e ressentimentos", escreveu ele nas redes sociais.

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