Projeto reúne 48 músicas inéditas de Pixinguinha, que completaria 125 anos

Shows e discos celebram o legado do compositor, cujo aniversário é neste sábado (23), Dia Nacional do Choro

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Lucas Nobile
São Paulo

Em setembro de 2000 foi sancionada a lei que estabelece 23 de abril como o Dia Nacional do Choro. A data foi escolhida em virtude do aniversário de Pixinguinha. Agora, 125 anos após o nascimento daquele que é considerado o nome mais importante deste gênero, o público terá acesso a 48 músicas inéditas do saxofonista, flautista, arranjador e um dos maiores compositores da história do Brasil.

Depois de passar por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, o projeto "Pixinguinha como Nunca" —com direção artística de Marcelo Vianna, neto de Pixinguinha, direção musical e arranjos do cavaquinista e pesquisador Henrique Cazes— chega ao CCBB de Belo Horizonte nos dias 29 e 30 de abril e 1º de maio, apresentando parte deste repertório novo.

Pixinguinha no Centro do Rio de Janeiro, em 1965 (foto em exposição sobre o Músico no IMS do Rio de Janeiro)
Pixinguinha no Rio de Janeiro, em 1965 - David Drew Zingg/Acervo IMS/Divulgação

Em maio, o sexteto formado por Henrique Cazes (cavaquinho), Carlos Malta (flauta e saxofone), Silvério Pontes (trompete e flugelhorn), Marcelo Caldi (sanfona), Marcos Suzano (percussão) e João Camarero (violão de 7 cordas) entra em estúdio para gravar quatro discos com as 48 inéditas.

Os álbuns serão divididos da seguinte maneira: "Pixinguinha Virtuose", com peças que exploram questões técnicas e virtuosísticas dos instrumentos; "Pixinguinha na Roda", valorizando o balanço, o suingue, a fluência e a comunicação das rodas de choro; "Pixinguinha Internacional", destacando o quanto Pixinguinha também estava ligado em gêneros de outros países como o tango argentino, a mazurca, o ragtime e o one step; e "Pixinguinha Canção", cujo título é autoexplicativo.

Para este último álbum, grandes letristas já fizeram ou ainda vão criar versos para as músicas de Pixinguinha.

Entre eles estão Nei Lopes, que letrou o partido-alto "Me Leva, Neném"; Arnaldo Antunes, com o tango "Poética"; Eduardo Gudin, com o samba-canção "Modo de Olhar"; Salgado Maranhão, com a valsa "Ignez"; Cecilia Stanzione, com "Do Tango ao Amor"; e Paulinho Moska, com a modinha "A Dor Traz o Presente". Paulinho da Viola ainda deve fazer a letra do choro-canção "Para Não te Esquecer", e Gilberto Gil receberá a gravação instrumental de "Cafezal em Flor".

"Uma parte destas inéditas estava no baú preservado pelo Alfredinho [filho de Pixinguinha]. A outra apareceu em cadernos de chorões antigos como o Candinho do Trombone. Pixinguinha tinha uma produção ininterrupta, compunha como respirava, criava até em situações adversas, como quando ficou internado 14 dias e saiu com 17 músicas novas", diz Henrique Cazes.

"Encontramos composições feitas pelo Pixinguinha desde a juventude até o fim da vida dele, com a letra tremida, já enxergando mal. Mas a desenvoltura musical era maior do que a desenvoltura motora. No choro, Pixinguinha chegou ao domínio completo da forma, é como o Bach com os prelúdios e as fugas. Para fazer tudo o que o Pixinguinha fez, os Estados Unidos precisaram do Louis Armstrong, do Benny Goodman e do Duke Ellington", completa Cazes.

Outra iniciativa ligada ao gênero musical que consagrou Pixinguinha é a recém-lançada Choro Timeline (timeline.casadochoro.com.br). Desenvolvido e realizado pela Casa do Choro, o site é uma mistura de enciclopédia e almanaque.

São 520 verbetes com textos bilíngues, em português e em inglês, fotos, áudios e vídeo-aulas que vão desde a década de 1830 —com pioneiros como Henrique Alves de Mesquita, Chiquinha Gonzaga, Sátiro Bilhar, Anacleto de Medeiros e Ernesto Nazareth, passando por ícones como Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Garoto, Waldir Azevedo e Radamés Gnattali— até nomes do choro contemporâneo.

"É um desejo antigo, um projeto que leva uma vida toda. Quisemos fazer algo tanto para quem é familiarizado, quanto para quem não conhece muito de choro. É uma tradição de quase 200 anos de história. A gente chega à era digital, à linguagem contemporânea, mas sem ser superficial e sem perder a informação de qualidade. Enfim, a gente se atualiza como o choro sempre fez, sempre foi uma música de vanguarda", diz Luciana Rabello, cavaquinista e diretora da Casa do Choro.

O projeto, que foi idealizado por Pedro Aragão e teve coordenação de Luciana e de Paulo Aragão, contou com financiamento coletivo de 450 pessoas que contribuíram pelo site Benfeitoria. No próximo dia 27, a Casa do Choro, no Rio, recebe show de lançamento da Choro Timeline com Luciana Rabello (cavaquinho), Mauricio Carrilho (violão), Paulo Aragão (violão de sete cordas), Jayme Vignoli (cavaquinho), Marcílio Lopes (bandolim), Tomaz Retz (flauta) e Celsinho Silva (pandeiro).

Neste sábado (23), também em comemoração aos 125 anos de Pixinguinha, a Escola de Choro de São Paulo faz uma roda de choro com entrada gratuita, às 19h, na rua Belmiro Braga, 164, no bairro da Vila Madalena, zona oeste.

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