Descrição de chapéu Virada Cultural

Virada Cultural tem 'fora, Bolsonaro', 'olê, Lula', som baixo e palcos vazios em SP

Clima eleitoral acirrado, pandemia e vacinas marcaram discursos de artistas e gritos da plateia

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São Paulo

A Virada Cultural teve início na tarde deste sábado (28) com alguns palcos esvaziados e manifestações políticas contra o governo do presidente Jair Bolsonaro, do PL.

Tradicionalmente a Virada é palco de protestos, o que se acentua em um ano de eleição presidencial polarizada como este, entre Bolsonaro e Lula, do PT. Artistas e público também mencionaram a pandemia de Covid-19 e a vacinação no país, temas no centro do debate político em função da postura negacionista do Planalto.

No palco Parada Inglesa, na zona norte de São Paulo, por exemplo, a cantora Ana Cañas se manifestou favoravelmente ao SUS, o Sistema Único de Saúde, e à ciência, dizendo "viva a Terra, que não é redonda".

Cantora Ana Cañas se apresenta no palco da Parada Inglesa na zona norte
Cantora Ana Cañas se apresenta no palco da Parada Inglesa na zona norte - Eduardo Knapp/Folhapress

Ao cantar "Alucinação", de Belchior, o público também se manifestou contra Bolsonaro e em favor de Lula. Conversando com a plateia, Ana Cañas pediu que "a gente saiba votar e mudar essa realidade dura que estamos vivendo". O público respondeu entoando "olê, olê, olá, Lula, Lula".

No palco do Campo Limpo, na zona sul, no intervalo entre o show de Vitão e Xande de Pilares, o público gritava "fora, Bolsonaro" e "Bolsonaro, você acabou com a minha vida".

Na Praça das Artes, na região central da cidade, o rapper Don L disse que esta seria a "Virada da Vacina". Ao fim da música "Éldwood", o rapper pediu que o público fizesse um "L" com a mão, em referência ao seu nome, mas gesto que também pode ser entendido como menção a Lula, e depois declarou "com certeza, se não tivéssemos um presidente genocida, muito mais pessoas estariam aqui com a gente".

Na metade do show, Paulo Galo, líder do grupo Entregadores Antifascistas, subiu ao palco. Ao lado dele, Don L exibiu a frase "pare de nos sufocar" nos prédios próximos ao palco, referência a Genivaldo de Jesus Santos, que morreu asfixiado após ser trancado numa viatura por agentes da Polícia Rodoviária Federal em Sergipe.

Na zona norte de São Paulo, antes de iniciar a última música de sua apresentação, os cantores Romero Ferro, Bixarte e Doralyce pediram também "fora, Bolsonaro" e cantaram "Tolerância Zero".

Os cantores disseram que, neste ano eleitoral, é necessário votar com consciência. Parte do público respondeu à manifestação aplaudindo.

O começo da Virada, contudo, teve tom mais brando, com palcos de pouco público. Mesmo nomes mais conhecidos e celebrados da música não conseguiram atrair muitas pessoas nas primeiras apresentações do evento.

Foi com 28 minutos de atraso e uma plateia reduzida que o maestro João Carlos Martins subiu ao palco da Freguesia do Ó, da Virada Cultural, e deu início aos shows da primeira edição pós-pandêmica da Virada. Ele se apresentou ao lado da escola de samba Vai-Vai, que chegou pouco depois.

Na Virada Cultural 2022, o rapper MV Bill se apresenta no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo
Na Virada Cultural 2022, o rapper MV Bill se apresenta no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo - Andreza de Oliveira/Folhapress

Músicas como "Maluco Beleza", de Raul Seixas, e "Codinome Beija-flor", de Cazuza, animaram o público, que, ao som da orquestra comandada por Martins, fez o vocal dos sucessos.

Pouco antes, o prefeito, Ricardo Nunes, do MDB, e a secretária de Cultura da cidade, Aline Torres, fizeram um pronunciamento.

"A periferia é de todo mundo", afirmou Torres, em referência à descentralização desta Virada. Neste ano, a madrugada do centro paulistano, que há semanas vem sendo palco de violentas operações nos arredores da cracolândia, terá somente atrações modestas —mas nem a secretária, nem o prefeito atrelaram isso à escolha.

"Que a gente tenha uma Virada Cultural histórica. E segunda-feira quem tem entre 12 e 17 anos já pode tomar a terceira dose da vacina [contra a Covid-19]."

Além do prefeito e da secretária, o diretor do Sesc paulista, Danilo Santos de Miranda, também falou no microfone e prometeu lançar em breve mais duas unidades da instituição, uma na Casa Verde e outra em Pirituba.

O rapper MV Bill, em seu primeiro show desde o início da pandemia, se apresentou para plateia também reduzida no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, ao lado de sua irmã, a também rapper Kamilla CDD.

Ele relembrou a inspiração dos Doctors Mc, grupo formado na zona leste paulistana, e exaltou felicidade por se apresentar na região. "Quando fiquei sabendo que a minha volta seria num palco na zona leste, foi uma satisfação muito grande", afirma.

MV Bill também atraiu público relativamente pequeno para o palco do Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, na zona leste da capital. Durante a faixa "Respeito É pra Quem Tem", ele puxou coro contra o governo federal. "É para o povo de Brasília escutar."

Na sequência, o rapper afirmou que não precisa mencionar, nem xingar, o nome de qualquer político. "Quem acompanha nossa música sabe o que pensamos", afirmou.

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