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Cinema

Emma Thompson diverte ao buscar o orgasmo em 'Boa Sorte, Leo Grande'

Atriz vive professora aposentada que se envolve com um garoto de programa em busca de prazer

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Boa Sorte, Leo Grande

  • Quando Estreia nesta quinta (28)
  • Onde Nos cinemas
  • Elenco Emma Thompson e Daryl McComarck
  • Produção Reino Unido, 2022
  • Direção Sophie Hyde

"Boa Sorte, Leo Grande" é um daqueles filmes raros com um roteiro cheio de cascas de banana, distribuídas estrategicamente para fazer com que os atores ou a diretora escorreguem e caiam de boca num clichê, mas desvia charmosamente de todas.

Menos uma, totalmente desnecessária –na hora de divulgar o lançamento do filme, produzido pelo canal de streaming americano Hulu e que chega nos cinemas do Brasil na próxima quinta-feira, alguém, que não se sabe quem, decidiu que a protagonista, interpretada por Emma Thompson, é uma mulher de 55 anos.

A atriz Emma Thompson dança com o ator Daryl McComarck
Emma Thompson e Daryl McComarck em 'Boa Sorte, Leo Grande' - Genesius Picture

A atriz britânica, nascida em 1959, completou 63 anos em abril. Um longa-metragem demora a ser produzido, então vamos assumir que ela leu o roteiro aos 61 anos, fez as filmagens com 62 e, na hora do lançamento, tinha completado 63.

Emma Thompson não é adepta de um estilo de vida de atleta, como muitas mulheres de Hollywood hoje em dia, e nem fez de seu rosto um laboratório para novos métodos de rejuvenescimento estético. Jamais mentiu a idade ou fez a passagem do tempo parecer um trauma do qual pouca gente se recupera.

Sua carreira, que nunca foi baseada em sua juventude ou sua aparência, não sofreu o baque pelo que costumam passar as estrelas que se destacam por um dos adjetivos aqui lembrados, pela confusão entre eles ou, mais usualmente, pela combinação das duas coisas. Com dois Oscar, um Emmy e vários prêmios Bafta, trabalha consistentemente desde o começo da década de 1980, quando migrou dos palcos do West End para o cinema.

Se esse roteiro, criado pela britânica Katy Brand, tivesse sido escrito para uma mulher de 55 anos, certamente a diretora australiana Sophie Hyde teria escolhido outra intérprete. Emma Thompson com certeza também não teria aceitado se fazer passar por uma mulher tão mais jovem justamente numa história que tem em seu clímax a exposição do corpo nu da atriz, cena que fez do longa-metragem um fenômeno da ousadia.

"Boa Sorte, Leo Grande" não é uma boa opção de entretenimento porque Emma Thompson aparece pelada. O filme vale por tudo o que acontece até esse momento, pela rara química entre os seus dois atores, pela história simples e bem contada, pelas discussões atuais e universais que levanta e pelas soluções que apresenta, pela direção econômica e eficiente, pelo roteiro esperto e ágil.

Se algum corpo nu vai servir de isca para o público, será o de Daryl McCormack, o jovem irlandês que interpreta o tal Leo Grande da trama, um garoto de programa que, de fato, faz esse programa soar com uma ótima ideia. Não só porque ele é jovem, lindo, atraente, atlético, sexy e tudo mais que se espera de um michê nível Hollywood —você se lembra de Brad Pitt em "Thelma & Louise"?—, mas porque ele parece ter uma compreensão quase fabular de como funciona —e como não funciona— uma mulher.

Quando começa a história, que se passa quase toda num quarto de hotel, Nancy, personagem de Thompson, uma professora de religião viúva e aposentada, espera, agitada, pela chegada do garoto de programa que contratou para tentar mudar o rumo de sua história sexual. Viúva do único homem com quem transou na vida, de forma mecânica, Nancy nunca teve um orgasmo. E nem está preocupada com isso. O que ela quer é uma outra experiência erótica.

Mas tudo nessa situação a deixa desconfortável –sexo com um jovem experiente, cobiçado, caro. E ela, velha e avexada, "com coxas grossas, barriguda e os peitos caídos até o umbigo".

A atriz Emma Thompson encara o ator Daryl McComarck
Emma Thompson e Daryl McComarck em 'Boa Sorte, Leo Grande' - Genesius Picture

Não disse que o roteiro tinha várias cascas de banana? A premissa é a maior delas, e o filme podia ter descambado para uma coisa melosa e farsesca, mas, por sorte nossa, isso não acontece.

Ao contrário, a história se transforma num conto divertido e tocante sobre a psique humana, a carcaça que nos cobre a todos, as ciladas em que ela nos põe e a experiência radical da autoaceitação.

Contar mais do que isso pode botar a perder o que tem tudo para promover uma hora e 37 minutos de deleite total. A menos, é claro, que a sua opção seja gastar esse tempo com Leo Grande, o tal garoto de programa da história. Mas nem no filme ele existe de verdade.

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