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Televisão

Série de 'O Senhor dos Anéis' traz a beleza dos filmes com muito ruído

Primeiros episódios de superprodução 'Os Anéis de Poder' são belo retorno à Terra-Média, mas não deixam apreciar sua magia

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O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder

  • Quando Estreia na sexta (2), no Amazon Prime Video
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Morfydd Clark, Maxim Baldry e Nazanin Boniadi
  • Produção EUA, 2022
  • Criação Patrick McKay e J.D. Payne

A chegada de uma série de TV inspirada na obra de J.R.R. Tolkien preocupa há anos os entusiastas da Terra-Média. É fácil escorregar na hora de recriar um mundo tão complexo —e por isso tão delicado—quanto o de Tolkien.

Foi, aliás, o que aconteceu com o livro "O Hobbit", uma breve e divertida história que virou uma ambiciosa trilogia épica de horas e horas de duração. Ali se perdeu a essência do texto —uma sátira de gêneros medievais.

Cena de 'Os Anéis de Poder', série derivada de 'O Senhor dos Anéis' - Ben Rothstein/Amazon Prime Video

Mas, a julgar pelos primeiros episódios de "Os Anéis de Poder", os fãs podem baixar —um pouco— a guarda e admirar as gaivotas voando no céu da Terra-Média. A série reconstrói com carinho e sensibilidade o universo que há décadas alucina leitores e espectadores. É uma merecida viagem de volta à Terra-Média, com paradas em Valinor e em Númenor. Tem aquela magia que parecia perdida desde 2003, data do último filme da trilogia de "O Senhor dos Anéis".

O roteiro de "Os Anéis de Poder" é inspirado nos apêndices dos livros de Tolkien e em anotações soltas. A história se passa milhares de anos antes dos acontecimentos de "O Senhor dos Anéis", mas há intersecções entre os dois enredos.

Esses pontos de contato ajudam a criar uma sensação de familiaridade para quem não conhece o universo a fundo. A protagonista, por exemplo, é a elfa Galadriel, imortalizada por Cate Blanchett nos filmes e agora interpretada por Morfydd Clark.

A Galadriel da série é mais jovem e mais impetuosa do que a de "O Senhor dos Anéis". Tenta convencer os elfos de que o ser maligno Sauron —que na era retratada em "Os Anéis de Poder" ainda não era um terrível olho em chamas— não foi destruído. Deslumbrados pelos anos de paz, os elfos não acreditam nela.

A série mostra, também, as profundezas de Khazad-Dûm, que aparece na trilogia posterior com o nome de Moria. Há alguma beleza em por fim ver o esplendor daquelas cavernas, que já estavam abandonadas quando Frodo e a Sociedade do Anel passaram por ali uma era depois.

O fio condutor da série, ademais, é a criação dos anéis do poder que são centrais à trama dos filmes. Os fãs já conhecem a história toda, mas é a primeira vez em que ela aparece em detalhes, fora da sua imaginação.

Não são só os personagens e cenários que evocam a trilogia do cinema. Os efeitos especiais foram feitos pelas mesmas empresas, de maneira a manter a coerência estética. A trilha sonora é do mesmo compositor, Howard Shore.

Mesmo algumas das soluções visuais são semelhantes, como a decisão de fazer a lente da câmera sobrevoar o mapa da Terra-Média durante narrações. Em tese, vai ser fácil fazer a transição entre a última cena da série e a primeira dos filmes.

Os dois enredos provavelmente se entrelaçam na histórica aliança entre homens e elfos para derrotar Sauron, narrada nos primeiros minutos de "A Sociedade do Anel", que estreou a trilogia em 2001.

Apesar de todas essas reconfortantes semelhanças, "Os Anéis de Poder" se distingue de "O Senhor dos Anéis" em um ponto fundamental. A série, ao contrário do filme, escalou atores não brancos para diversos papéis. A Terra-Média finalmente representa a variedade do nosso mundo.

Não faltaram detratores quando foi anunciado, no começo do ano, que "Os Anéis de Poder" teria personagens negros. Incomodou em especial a decisão de ter um elfo negro, o personagem Arondir, interpretado por Ismael Cruz Córdova. Houve quem insistisse em que os elfos precisam ser brancos para convencer o público de que são reais. Vale o spoiler aqui —elfos não são reais.

A série acerta em cheio na decisão de espelhar a nossa Terra real na Terra-Média de Tolkien. Com isso, "Os Anéis de Poder" cria um mundo em que diferentes povos, sejam elfos, hobbits ou humanos, brancos ou negros, homens ou mulheres, podem colaborar para derrotar Sauron, a encarnação do mal.

Com todas essas qualidades, decepciona um pouco que a série corra o risco de ser mais um épico do fim dos tempos —o mesmo escorregão da adaptação de "O Hobbit". Tudo é estrondoso demais, tudo parece prestes a desmoronar. Sobra pouco tempo para apreciar a fragilidade desse belo mundo mágico.

Nos dois primeiros episódios, a série mostra Galadriel escalando paredões de gelo, derrotando um monstro, enfrentando ondas gigantes no mar. Não precisava de tanto suor. Uma das coisas mais singelas do texto de Tolkien é justamente o controle da mão, a capacidade de emocionar mesmo quando narra uma espada se chocando com outra no escuro.

A trilogia de "O Senhor dos Anéis" conseguiu reproduzir esse dom. Resta ver se "Os Anéis de Poder" vai repetir o feito.

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