Descrição de chapéu Rock in Rio

Emicida no Rock in Rio exalta voto contra Jair Bolsonaro e a cultura preta

Rapper respondeu a xingamentos da plateia contra o presidente dizendo 'dia 2 de outubro, faça isso na urna'

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Rio de Janeiro

Com um cenário de projeções simulando enormes vitrais, Emicida ergueu no palco Sunset do terceiro dia do Rock in Rio, neste domingo (4), uma catedral em celebração à cultura negra brasileira.

Show do rapper Emicida no Rock in Rio 2022
Show do rapper Emicida no Rock in Rio 2022 - Eduardo Anizelli/Folhapress

Passaram pelo palco sua trajetória até aqui, a antiga parceria com Rael, a afirmação feminina de Drik Barbosa e Priscilla Alcântara, seus três convidados da noite, assim como a raiz plantada por Racionais MCs, citados como referência ao afirmar a política pela música.

Foi logo depois de o rapper ironizar pessoas que diziam que palco não é lugar para política, possível alfinetada nos organizadores do festival, que têm dado declarações nesta linha. Roberta Medina, chefe do Rock in Rio Lisboa, disse a este jornal que "política não se faz em cima do palco".

Quando a plateia entoou um coro de "ei, Bolsonaro, vai tomar no cu", Emicida fez graça pedindo para falarem mais alto porque não conseguia ouvir. Em seguida, emendou um recado eleitoral: "Dia 2 de outubro, por favor, faça isso na urna."

O rapper iniciou seu show com "Triunfo", incendiada pelo excelente naipe de metais e recebida com empolgação pela plateia. A apresentação, aliás, teve o calor do público como contraponto ao frio da noite carioca. O único momento em que a temperatura baixou no palco foi na etérea "Você Aprendeu a Amar?", de Priscilla Alcântara.

O repertório certeiro passou por hits de diversos períodos, como "Levanta e Anda", "Pantera Negra", "Amarelo" e "Gueto", que teve citação ao clássico "Rap da Felicidade", de Cidinho e Doca. "Música preta brasileira é isso", sintetizou o rapper a certa altura.

As rimas de Emicida —em suas diferentes maneiras de cantar as mil camadas de penetração do racismo na sociedade e nas mentes brasileiras— tiveram forte apelo sobre a plateia. O público, em sua maioria branco, cantou com vontade versos de valorização de autoestima negra, ecoando um "nós" que na verdade era "eles". A contradição carrega algo de belo pelo que anuncia de futuro, mas também expõe certa perversidade da estrutura social brasileira.

Emicida não ignora nada disso. O tempo todo sua música aponta essa perversidade e essa beleza - temperadas pela pressão dos metais e pelas sugestões de rítmicas brasileiras na percussão, como o maracatu em "Boa Esperança".

Depois Alcântara, a primeira que foi chamada ao palco, Emicida lembrou com Rael canções como " A Chapa É Quente" e "Levanta e Anda". Sozinho, o convidado fez o hit "Envolvidão", com direito a drible na rima machista. Em vez de "Nem combina com as mulheres vulgares/ Uma noite e nada mais", cantou: "Nem combina com aquela rima antiga/ Que eu nem rimo mais".

Com Emicida e Rael ao lado, Drik Barbosa, apresentada por Emicida como "nosso cristal brilhante", se saiu bem com sua "Luz", que citou "Andar com Fé", de Gilberto Gil, atração seguinte no palco Sunset.

Com a plateia cantando em coro "Amarelo", Emicida encerrou o show, lembrando, ao ouvir o onipresente coro contra Bolsonaro, que o público deveria repeti-lo nas urnas, como se deixasse evidente aquilo que seu show diz: para ele e para sua música, a política e a vida são mais do que jogo de cena ou palavras de ordem num festival de rock.

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