Emicida e Djonga elevam voltagem do João Rock com coros contra Bolsonaro

Paulista pediu que presidente voltasse ao esgoto de onde saiu e mineiro o xingava enquanto punha o público para dançar

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Ribeirão Preto

Ribeirão Preto foi tomada por coros de ataques contra Jair Bolsonaro neste sábado (11). A 312 quilômetros de São Paulo, a cidade do noroeste paulista é o satélite de uma região que detém uma das maiores programações do país de shows sertanejos, gênero que ficou associado aos eleitores do presidente. Neste fim de semana, porém, as arenas de montaria foram substituídas por pistas de skate, e as violas, por guittaras, com a volta do João Rock.

O festival, considerado o maior do país dedicado ao rock nacional, tem uma trajetória marcada por manifestações políticas. O mesmo público que não poupou a ex-presidenta Dilma Roussef em 2014 e 2015, contudo, agora gritou a plenos pulmões "fora, Bolsonaro", "ei, Bolsonaro, vai tomar no cu" e "olê, olê, olá, Lula, Lula" —a mesma tônica do Lollapalooza e da Virada Cultural, que ocorreram em março e maio na capital paulista.

Emicida, Céu e Criolo protestam contra Jair Bolsonaro no João Rock 2022, em Ribeirão Preto, no interior paulista
Emicida, Céu e Criolo protestam contra Jair Bolsonaro no João Rock 2022, em Ribeirão Preto, no interior paulista - Denilson Santos e Francisco Cepeda/Divulgação

Boa parte das manifestações partiram da platéia, composta por 70 mil pessoas. Enquanto alguns cantores preferiram se abster, dizendo apenas que "este ano só está tocando hit no João Rock" e emendando o coro político a qualquer outra canção —caso da maioria dos representantes do rock e do pop-rock, como Pitty e Nando Reis—, outros levantaram suas vozes contra o presidente às vésperas do pleito que deve ser marcado pela oposição entre Lula e Bolsonaro.

Entre eles, estava Emicida. Ao fim do segundo ato do show-manifesto que lançou no festival —"Amor, Ordem e Progresso", com Criolo e Céu—, o rapper interrompeu o coro anti-Bolsonaro e fez um pedido ao público. "Faz um favor pra mim? Quando chegar outubro, mandem este lixo de volta para o esgoto de onde ele nunca deveria ter saído."

As manifestações atravessaram toda a apresentação, que tomou o palco com projeções das faces de ícones do movimento negro como a escritora Suely Carneiro e o ator Milton Gonçalves, que morreu à espera de um presidente negro.

Houve também projeções de fotografias emblemáticas da ditadura militar, como a de Evandro Teixeira, tirada no centro do Rio de Janeiro, que retrata um homem indo ao chão ao ser perseguido por dois policiais em 1968 durante a manifestação estudantil que ficou conhecida como "Sexta-feira Sangrenta".

É uma lembrança, afirmou Emicida à reportagem, de que, mesmo "em momento de autoritarismo mais agudo", "a arte brasileira soube se colocar como um bastião da liberdade". "Tem uma insegurança pairando no ar, porque a gente tem assistido a uma escalada antidemocrática nos últimos anos, mas o Brasil tem capacidade de produzir uma resposta à altura".

Antes de Emicida subir ao palco, houve ainda Djonga, que elevou a voltagem política do João Rock à sua máxima potência. Primeiro, o rapper pediu que o público levantasse as mãos, erguesse bem os dedos do meio e pensasse em alguém que "odeiam muito e não respeitam".

Foi a deixa para que o recinto fosse dominado por ataques contra Bolsonaro, que se repetiram por pelo menos mais três vezes até que, a 15 minutos de o show com duração de uma hora ser encerrado, Djonga pediu que a plateia formasse uma roda para bater as cabeças, prática conhecida como "mosh".

Foi o prelúdio para o ápice de sua apresentação —e também um dos pontos mais catárticos do festival—, que se deu quando Djonga improvisou com a boca batidas de funk e colocou seus bailarinos para dançar ao som do coro de "ei, Bolsonaro, vai tomar no cu", que ele arrematou cantando "Olho de Tigre", música responsável por tê-lo alçado a o estrelato em que pede nada menos do que "fogo nos racistas".

O jornalista viajou a convite do festival

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