Baby e Pepeu saem em turnê e dizem ter superado 'quebra pau': 'é só amor, bolo e pizza'

Dupla completa 70 anos em 2022 com tributo a Elza Soares e Moraes Moreira em série de shows da nova '140 Graus'

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Rio de Janeiro

Uma quarentena não faria a cantora e compositora Baby do Brasil, 69, morrer de tédio. No seu apartamento em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, ela pintou cada parede de uma cor diferente. No meio da sala, montou uma cabana, passando, dentro dela, madrugadas em claro. Para assistir o amanhecer, percorria de carro a orla deserta de ponta a ponta. Tempos depois, resolveu morar com um amigo em São Paulo, onde ficou sete meses. Ela tentou viajar duas vezes –na primeira, foi impedida por carregar 14 malas.

Ao lado do guitarrista e compositor Pepeu Gomes, 70, com quem foi casada por 18 anos e teve seis filhos, ela parte, em clima de festa, para um recomeço. A dupla, que chega aos 70 anos em 2022, apresenta, nesta sexta-feira (8), uma nova versão de "Masculino e Feminino", sucesso do álbum homônimo de Pepeu, lançado em 1983. No sábado (9), eles fazem, no Morro da Urca, o show "Baby e Pepeu - 140 Graus", antes de sair em turnê e lançar, juntos pela primeira vez, um disco ao vivo.

Baby Consuelo e Pepeu Gomes em foto de 1984
Baby Consuelo e Pepeu Gomes em foto de 1984 - 1º.ago.1984 - Acervo/Folhapress

"Agora parece o início da década de 1970, quando a gente via surgir um mundo novo. Esse tipo de ambiente é positivo para nascerem novos projetos", diz Baby, que incluirá inéditas no próximo álbum. Por ironia, foi também num cenário pós-apocalíptico –após o musical "Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal"–, que eles formaram, em 1969, o Novos Baianos. Morto em 2020, Moraes Moreira, ex-integrante do grupo, será homenageado na nova turnê. "A morte dele desabou o mundo para mim", lembra Pepeu.

Baby, por sua vez, prestará homenagens à cantora Elza Soares, morta em janeiro, que tanto influenciou sua identidade vocal. No disco gravado ao vivo em Montreux, na Suíça, em 1980, ela canta "Se Acaso Você Chegasse", que será incluída na nova turnê.

A canção "Masculino e Feminino" foi composta em trio com Didi Gomes, sendo Baby a autora da letra. Após ter visto naves alienígenas, ela se converteu, na década de 1990, à religião evangélica. A fundadora do Ministério do Espírito Santo de Deus em Nome de Jesus evita qualquer leitura política dos versos "Se Deus é menina e menino/ Sou masculino e feminino". Ela, que se define como "popstora" –uma pastora pop– analisa a canção à luz do autoconhecimento.

"Os homens não entendiam quase nada das mulheres. Pensei que eles deveriam ter esse lado para compreender o universo do sexo oposto", explica. "Uma canção dessas na voz do Pepeu, que usava ‘legging’ e roupas coloridas, seria muito mais impactante, como realmente foi."

Para a nova roupagem de "Masculino e Feminino", Baby mudou um pouco a letra. "Ser uma mulher masculina/ Não fere o meu lado feminino/ Porque pra parir seis meninos/ Eu tive que ser masculino e feminino." Pepeu retirou o excesso de sintetizadores da gravação original, destacando o solo de sua guitarra. O single, lançado pela MSK Records, selo da Musickeria, porém, preserva elementos da música disco, num ritmo 120 bpm, que facilita a adaptação da faixa para as pistas.

"Ficou uma versão tipo de altíssimo nível, meio escola para a galera", afirma Baby. Considerado em 1988 pela revista americana Guitar World como um dos dez melhores guitarristas do mundo, Pepeu cultivou uma rotina mais acinzentada nos últimos dois anos.

Ele conta que os dias eram todos iguais. Tocava por quatro horas até esgotar todo o repertório. As mesmas pessoas lhe telefonavam, mas se aproximou de Roberto Frejat, com quem pretende elaborar um dueto instrumental. Na concepção do projeto "140 Graus", Pepeu formou uma banda com dez músicos, com outros dois guitarristas dando corpo às suas próprias levadas. Ele define o som alcançado como uma "maçaroca".

O repertório do novo show se concentra nas carreiras solo de cada um, passeando pelos principais discos de Pepeu –"Um Raio Laser" (1982) e "Energia Positiva (1985)— e Baby –"Canceriana Telúrica" (1981) e "Sem Pecado e sem Juízo" (1985).

Na tardinha da quarta-feira (6), a dupla realizou o último ensaio antes do show. Em cena, os opostos trabalham em harmonia. No meio da música, Baby, quase uma executiva, mexe em seus dois celulares, faz nebulização, explica a posição dos instrumentos no palco –e canta e dança. Pepeu, olhos baixos nos pedais, é absorto pelo som e comanda a "maçaroca".

O projeto "140 Graus" só foi possível graças a Pedro Baby, filho do casal, que reaproximou os pais para um show no Rock in Rio 2015. Ali, eles se reuniam no palco pela primeira vez depois de 27 anos. "É uma união familiar-musical, antes era só musical. Agora quem quebrava pau um com o outro não quebra mais. É só amor, bolo e pizza", conta Pepeu. "Essa amizade que a gente conquistou no terceiro milênio não deixa de ser referência para os novos casais."

A passagem do tempo não incomoda tanto assim o guitarrista. "Alguns movimentos são prejudicados e ficam mais lentos", diz. "Mas só sou idoso para estacionar o carro. Já está tudo debaixo do dedo."

Por influência de Baby, ele começa agora a fazer uma reposição hormonal bioidêntica –prática clínica em que hormônios idênticos aos produzidos pelo corpo humano são repostos. Ambos são adeptos da medicina biortomolecular –com vitaminas e ozônio– e só ingerem alimentos compatíveis ao tipo sanguíneo.

De olho na medicina do futuro, eles seguem todas as tendências anti-idade. Perguntada se busca a imortalidade, a "popstora" tem a resposta na ponta da língua. "Imortal eu já sou, porque sou de Cristo."

Baby e Pepeu - 140 Graus

  • Quando Sábado (9), às 23h
  • Onde Morro Da Urca, Rio de Janeiro
  • Preço R$ 132 a R$ 348
  • Gravadora Noites Cariocas Discos
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