Como Maria Auxiliadora brincou com relevo usando tinta a óleo e massa plástica

'Entre o Cotidiano e o Ritual', da Coleção Folha Grandes Pintores, destaca artista marcada pela inventividade técnica

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Por trás de um nome tão simples e brasileiro, como destacou o crítico Frederico Morais, se esconde a artista extraordinária que foi Maria Auxiliadora Silva. Com uma produção marcada pela originalidade da linguagem e pela inventividade técnica, a pintora, que passou por um longo período de esquecimento, é foco da Coleção Folha Grandes Pintores no volume "Entre o Cotidiano e o Ritual".

De origem humilde, Maria Auxiliadora fez uso de uma técnica singular a partir da mistura de tinta a óleo e massa plástica, procedimento que foi se acentuando cada vez mais em sua obra por meio dos volumes que conferia aos corpos, roupas e objetos.

A artista plástica e poeta Maria Auxiliadora da Silva (1935-1974)
A artista plástica e poeta Maria Auxiliadora da Silva (1935-1974) - Arquivo da família

Uma das primeiras vezes em que brincou com o relevo, no entanto, foi por acaso, quando um fio de cabelo seu caiu sem querer na cabeça de uma figura do quadro. A partir de então, ela passou a utilizar mechas do próprio cabelo em suas composições.

A pintora, que queria ser modelista e aos 19 anos já trabalhava como bordadeira numa fábrica na José Paulino, em São Paulo, transferia também para a pintura o ofício que a sustentava. As roupas dos homens e mulheres retratados por ela são cuidadosamente desenhadas e adornadas —uma prática que Maria Auxiliadora tinha para si, já que desenhava e costurava suas próprias roupas.

Embora a vida afetiva nunca fosse mencionada nas várias entrevistas que concedeu, tampouco nas biografias, na pintura, as cenas amorosas aparecem quase como uma obsessão. Situações de conquista se passam nos cenários mais diversos, de parques a bares.

Nos bailes de gafieira e nas festas caipiras, folclóricas e religiosas —outros temas bastante abordados—, também predomina a dança a dois e a presença dos casais apaixonados.

Ainda que seu irmão Sebastião, que estudou desenho, dissesse a Maria Auxiliadora que ela precisava entrar na escola para estudar, já que considerava sua pintura malfeita, a artista foi celebrada pela crítica por seu senso inato de composição. Para Max Fourny, diretor do Musée d’Art de Île de France, a pintora era uma colorista nata e conseguia reunir de forma única as mais variadas nuances de cor.

A coleção também mostra como, em determinado momento de sua vida, a temática religiosa toma conta da produção da artista, com desenhos de santos e da Sagrada Família que aparecem juntamente com o início do uso de guache.

Católica de criação, dedicada à pintura de santos desde menina, Maria Auxiliadora chegou a frequentar centros espíritas e se envolveu com religiões afro-brasileiras como a umbanda e o candomblé. A vivência, que se dá muito em razão da descoberta de um câncer, aparece de forma clara nas suas escolhas iconográficas.

Um dos orixás mais representados por ela, não à toa, é Obaluaê, a divindade da cura, da saúde e da doença.

O período em que passou em hospitais, sendo cuidada por enfermeiros e familiares, não ficou de fora de suas telas. Uma delas, inclusive, pintada no ano de sua morte, em 1974, antecipa o acontecimento. Intitulada "Velório de Noiva", a pintura talvez seja uma metáfora de um amor não realizado, uma vez que Maria Auxiliadora nunca se casou. Mesmo assim, a artista sempre quis ser enterrada com um vestido de noiva.


COMO COMPRAR

Site da coleção

Telefone: (11) 3224-3090 (Grande São Paulo) e 0800 775 8080 (outras localidades)

Frete grátis SP, RJ, MG e PR (na compra da coleção completa)

Nas bancas por R$ 22,90 o volume

Coleção completa: R$ 687; lote avulso (com seis volumes): R$ 134,70

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.