Entenda como Ruy Ohtake pensou o diálogo entre as artes em seu último projeto

Sua Praça das Artes, um complexo cultural em Barueri, abrigará um teatro e salas para uso dos núcleos artísticos da cidade

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Barueri (SP)

Na tarde da última quinta, o sol se esmerilava na rodovia Castelo Branco. A luz era só calor, refletindo nos automóveis, passando um a um, no pavimento de concreto que parecia derreter. Nessa aridez, se erguia, imenso, um bloco retangular, também solar, em amarelo, com ondulações no topo em laranja e vermelho.

Praça das Artes em Barueri, SP - Divulgação


A Praça das Artes de Barueri, que será inaugurada neste sábado, na cidade da Grande São Paulo, foi o último projeto concebido em vida pelo arquiteto Ruy Ohtake, morto em novembro de 2021, aos 83 anos. Com mais de 20 mil metros quadrados, o edifício começou a ser construído ainda em 2017, mas as obras pararam por causa da pandemia. No total, a prefeitura investiu R$ 110 milhões para a conclusão do prédio.

A ideia surgiu com o secretário de Cultura e Turismo, Jean Gaspar, que desejava dar um novo destino ao teatro, que o terreno abrigava. A Praça das Artes atenderá aos projetos culturais da cidade, combinando a programação da nova sala de espetáculos com as diversas funcionalidades do prédio. Em Barueri, cerca de 9.000 alunos estão inscritos em núcleos de dança, música e teatro. Com a Praça das Artes, as oficinas passam a ganhar uma casa, equipada para o exercício artístico.


No total, o prédio abriga 32 salas de aula —sendo 12 para música, 12 para oficinas de artes plásticas, cinco para o balé da cidade, equipado com piso amortecido, e três salas para a companhia de teatro. A Praça das Artes também terá um ponto do Museu da Imagem e do Som, o MIS, ganhando um centro multimídia. Já palestras e reuniões podem ser feitas em seis ambientes em separado.


Os espaços se dividem em três pisos, sendo um mezanino, onde há uma sala para leitura. Concebido como um ambiente de convivência, o átrio, que antecede o teatro, vai receber alunos em oficinas de artesanato, figurinos e cenários, além de um restaurante. Nele, fica um palco circular e aberto para apresentações fora da caixa cênica.


Com acústica de última geração, a sala de espetáculos tem capacidade para 952 espectadores. O palco tem varas cênicas que respondem a um sistema eletrônico. Desde o início, o desejo da prefeitura foi conceber um teatro com fosso para 80 músicos. Sendo assim, a sala pode receber peças musicais, espetáculos de dança, concertos e óperas.

Para dar vazão ao diálogo entre tantas formas de arte, Ohtake pensou numa estrutura circular —e de circulação. Nesse sentido, não haveria barreiras entre as expressões artísticas. Em última instância, o desenho da Praça das Artes valoriza o espaço público, que nunca se desenvolveu no imaginário dos brasileiros, acostumados aos bens privados.

Autor do projeto do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, o arquiteto oferece, com a Praça das Artes, um contraponto à aridez das redondezas. No projeto, ele reforça a natureza lúdica de suas construções. Além do bloco de concreto em amarelo, três painéis são instalados na fachada. O primeiro, todo envidraçado, reflete o movimento da rodovia. Os outros dois, um maior do que o outro, colore a superfície amarelada com tiras em alumínio nas cores azul e vermelho.

Na parte interior do prédio, as tiras de alumínio voltam, ainda mais coloridas, agregando um tom de festa, quase infantil, para aquele espaço vivaz. No primeiro fim de semana, a Praça das Artes recebe um concerto da Orquestra Bachianas, do maestro João Carlos Martins, e o musical "Barnum: O Rei do Show", um sucesso vindo da Broadway.

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