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'O Canibal de Milwaukee' é série irresistível sobre vida de Jeffrey Dahmer

Produção de Joe Berlinger mostra conversas francas e sem dissimulação do prisioneiro com jovem advogada de defesa

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Conversando com um Serial Killer: O Canibal de Milwaukee

Desde o dia 21 de setembro, quando foi lançada a série de ficção "Dahmer: Um Canibal Americano", com dez episódios de quase uma hora cada, o nome –e os crimes— do serial killer Jeffrey Dahmer, assassinado na prisão em 1994, aos 34 anos, voltou ao noticiário como se fosse 1991, quando ele foi preso, e seu passado, revelado.

A série se tornou a segunda mais vista na história da Netflix, perdendo apenas para a quarta temporada de "Stranger Things". Se o sucesso foi comemorado pelo produtor Ryan Murphy, criador e produtor do seriado, e pelo canal de streaming que o exibe, nas redes sociais a coisa foi um pouco diferente.

Cena de 'Conversando com um Serial Killer: O Canibal de Milwaukee', série da Netflix
Cena de 'Conversando com um Serial Killer: O Canibal de Milwaukee', série da Netflix - Divulgação

As famílias das vítimas –Dahmer matou 17 homens, todos jovens, gays e atléticos, entre 1978 e 1991– se revoltaram contra a glamorização de suas tragédias pessoais e se uniram para dizer que a Netflix estava dando uma visibilidade mórbida ao caso e fazendo com que eles revivessem seus traumas depois de mais de três décadas.

Mas o sucesso venceu essa batalha, e o canal lançou mais uma minissérie, essa documental, sobre o caso. "Conversando com um Serial Killer: O Canibal de Milwaukee" tem três episódios, de uma hora cada, e mostra, pela primeira vez, as entrevistas que Jeffrey Dahmer deu, na prisão, à jovem advogada Wendy Patrickus —que estava no comecinho da carreira quando seu chefe, Gerald Boyle, pediu que ela pegasse os depoimentos de seu cliente para montar sua defesa.

Boyle já tinha advogado para Jeffrey Dahmer alguns anos antes, quando ele foi preso por aliciamento de um menor de idade. Mas, quando a polícia chegou a ele pela segunda vez, em 1991, e entrou em seu apartamento cheio de restos humanos, Dahmer sabia que não tinha a menor chance de se livrar das acusações. Então, pediu apenas que pudesse fumar cigarros e tomar café, em troca falaria tudo que a advogada quisesse saber.

Dahmer conta os maiores absurdos com transparência total, sempre muito educado, usando um tom de voz calmo e até mostrando a consciência de que alguns trechos podem ser por demais chocantes. Antes de relatar, por exemplo, suas tentativas de fazer lobotomias caseiras, ele alerta a advogada de que "isso não vai soar muito bem".

O assassino apelidado pela imprensa de canibal de Milwaukee, ou monstro de Milwaukee, costumava convidar suas vítimas, a maioria jovens negros, para irem ao seu apartamento posar para fotos, trabalho pelo qual pagaria US$ 50 (cerca de R$ 263).

Quando chegavam lá, eram drogados e, quando não conseguiam mais reagir, Dahmer fazia experiências com eles —como buracos com furadeira no cérebro, por onde injetava uma dose de ácido, na tentativa de transformá-los em uma espécie de mortos-vivos e assim evitar que eles pudessem abandoná-lo.

Ele disse que não matava por ódio, por racismo ou por homofobia. Matava porque não conseguia pensar em outra maneira de impedir que os moços fossem embora. Sua fantasia era o controle absoluto da pessoa, a não reação, para que, assim, ele se sentisse à vontade para fazer o que quisesse com aqueles homens –e alguns adolescentes— atraentes, fossem atos sexuais ou experiências científicas, sem inibição nem censura.

Como quase nunca conseguia essa colaboração total, estrangulava suas vítimas e, em seguida, com o corpo inerte, fazia seus experimentos macabros, transava com os cadáveres intactos e também com suas entranhas. Desmembrava alguns deles, jogava pedaços de corpos num barril cheio de ácido, guardava algumas partes na geladeira, outras no freezer e alguns crânios em uma espécie de pedestal que construiu para lembrar dos caras com quem fazia essas experimentações.

A minissérie documental é dirigida por Joe Berlinger, o mesmo das outras duas temporadas de "Conversando com um Serial Killer". A primeira, lançada em 2019, trazia as entrevistas de Ted Bundy, o assassino em série bonitão e carismático que matava mulheres nos anos 1970 e foi executado numa cadeira elétrica em 1989. Nesse ano mesmo, Berlinger lançou a segunda temporada, com depoimentos inéditos de John Wayne Gacy, o "Palhaço Assassino", que torturava, estuprava e matava adolescentes nos anos 1970 na região de Chicago.

Além das confissões de Jeffrey Dahmer, o programa tem entrevistas com a advogada nos dias de hoje, seu chefe na época, imagens do julgamento, depoimentos de policiais, psicólogos, promotores, juízes e familiares das vítimas, além de relatos dos crimes. Não é nem de perto tão instigante e bem produzida quanto a série de ficção, mas, para quem não consegue parar de pensar nessa história horrorosa, é um complemento irresistível. Doentio, talvez. Mas irresistível.

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