'O país dividido enlouqueceu as pessoas', afirma Marco Nanini, que votará em Lula

Parceria com Camila Amado, morta em 2021, 'As Cadeiras' chega ao cinema, enquanto ator planeja trabalho com Gerald Thomas

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São Paulo

Foi graças ao isolamento causado pela pandemia de Covid-19 que Marco Nanini conseguiu realizar o antigo desejo de dividir o palco com Camila Amado, que morreu em 2021.

Amigos de longa data, os dois vinham adiando o encontro até que, com o cenário cultural congelado, conseguiram trabalhar na parceria, que deu origem a "As Cadeiras", projeto multimídia que marcou a despedida da atriz.

Marco Nanini e Camila Amado em As Cadeiras
Marco Nanini durante as gravações de 'As Cadeiras' - Carlos Caberá

Clássico do teatro do absurdo escrito por Eugène Ionesco, o texto ganhou montagem no Brasil no final da década de 1950 e foi o responsável por lançar Amado na carreira. Desde então a atriz desejava voltar à cena com a obra, desde que do lado de Nanini.

"Era o momento adequado para pegar um texto de dois atores e, principalmente, dois atores que eram muito amigos. Eles sempre quiseram fazer e as agendas não permitiam, então aproveitamos que o mundo parou e decidimos que era hora de pôr isso para funcionar", diz Fernando Libonati, produtor e companheiro de Nanini há mais de 30 anos, que estreia como diretor.

Inicialmente, "As Cadeiras" daria origem a uma peça-filme e a uma montagem que usaria elementos da gravação e rodaria o Brasil. A versão filmada estrearia durante a pandemia, enquanto a peça só chegaria aos palcos após o fim do isolamento. A saída de cena da atriz alterou os planos.

O filme de fato saiu e chegou ao Petra Belas Artes no último dia 13, onde permanece até quarta-feira (19). Já a montagem foi abortada. Montar a obra com outra atriz está fora de cogitação. "O processo foi muito forte e seria muito intenso emocionalmente falando. Era a Camila e vai ficar para sempre sendo a Camila", diz o diretor.

Amado, inclusive, foi presença fundamental para que Nanini aceitasse mergulhar na estética do teatro audiovisual. "Tudo favoreceu. Minha admiração pela Camila foi fundamental, porque agora isso sempre vai ficar na minha memória, e hoje ver a reação do público nas salas de cinema me deixa muito emocionado. É para ela que fazemos", diz o ator.

"As Cadeiras" narra o diálogo entre dois velhos num local deserto à espera de convidados ilustres, para os quais pretendem contar um segredo capaz de salvar a humanidade. Os convidados aparecem, mas o segredo nunca é revelado.

A montagem é, na concepção da dupla, uma forma de lançar um olhar mais ácido acerca da sociedade contemporânea e do momento político atual, que Nanini enxerga como estarrecedor.

"Essa coisa de país dividido enlouqueceu as pessoas. Isso é absurdo. Criamos um medo irracional da violência, e ninguém ficou calmo para escolher seu candidato. Essa coisa de torcida organizada é o que acho mais danoso", afirma, o artista, que vai votar em Lula.

O voto no petista vem com a crença de que o mercado cultural pode reagir com mais força com as políticas públicas que o candidato promete voltar a aplicar. Nos últimos anos, diretor e ator viram fechar seu Galpão Gamboa, um dos principais espaços culturais do Rio de Janeiro, desmontado pela falta de políticas culturais durante a gestão de Marcelo Crivella na prefeitura e o soterramento pelo governo de Jair Bolsonaro.

Em 2023, Nanini se reunirá com Gerald Thomas, numa obra que o diretor também pretende registrar para as telas de cinema.

As Cadeiras

  • Quando De 13 a 19 de outubro
  • Onde Cine Petra Belas Artes - r. da Consolação, 2.423, São Paulo
  • Preço R$ 17 (meia) e R$ 34 (inteira)
  • Autor Eugène Ionesco
  • Elenco Camila Amado e Marco Nanini
  • Produção Brasil, 2022
  • Direção Fernando Libonati
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