Descrição de chapéu

Como Marília Mendonça abriu a porteira para o agronejo de Ana Castela

Cantora morta há um ano levou feminismo para o sertanejo antes que a Boiadeira cantasse sobre fazendeiras sensuais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Marília Mendonça morreu há um ano, mas seu legado ainda dita os rumos do feminejo, vertente do sertanejo em que as mulheres são protagonistas. Se estivesse viva, ela veria surgir Ana Castela, uma cantora de 18 anos que tenta reciclar o gênero com elementos de funk e pop num ritmo chamado agronejo.

Marilia Mendonça, morta há um ano, e a cantora Ana Castela - Instagram/mariliamendoncacantora e Instagram/anacastelacantora

Castela quer levar o sertanejo para as pistas eletrônicas cantando sobre sua vida caipira. Apesar de inusitada, foi essa mistureba que deu certo no hit "Pipoco" e a içou ao topo da lista de músicas mais ouvidas do Spotify.

É um movimento pioneiro, como o de Mendonça com "Infiel", de 2015. Numa época em que o sertanejo era dominado por homens, a cantora explodiu ao cantar sua sofrência feita para humilhar o macho traidor.

Castela canta sobre fazendeiras patricinhas que passam perfume com cheiro de mato e têm unhas de gel sujas de terra em "Boiadeira", nome pelo qual passou a ser conhecida. Se hoje ela faz sucesso versando sobre fazendeiras que sensualizam, é porque Mendonça um dia quebrou os paradigmas do gênero para empilhar hits feministas.

A rainha da sofrência, como ficou conhecida, nunca escondeu que gostava de uma cervejinha. Foi uma das primeiras cantoras de sertanejo a fazer música sobre bebedeira. Em "Bebaça", por exemplo, canta sobre uma noitada entre garotas. "Amiga, cê tava bebaça, subindo na mesa, virando garrafa, tomou tudo, tomou fora, só não tomou vergonha na cara."

Em "Supera", cujo clipe tem quase meio bilhão de visualizações no YouTube, Mendonça estende o ombro amigo para uma colega rejeitada. "Ele tá fazendo de tapete o seu coração, promete pra mim que dessa vez você vai falar não. De mulher pra mulher, supera."

Apesar de ter crescido fã de Mendonça, Castela afirma que a sonoridade das duas não é a mesma. "Sou muito eclética", disse em entrevista a este jornal. "Não sou sertanejo. Não canto sertanejo. Quem canta sertanejo é Maiara & Maraisa, Marília Mendonça. Eu canto agro com pop e com funk. Meu estilo na roupa é sertanejo, mas o que sai da minha voz é diferente. Sou do agro e gosto de Luísa Sonza, de Anitta."

Castela pode até dizer que se vê distante do sertanejo, mas ela pisa hoje num terreno preparado por Mendonça. A cantora fez suas canções caírem na boca dos brasileiros, fãs de sertanejo ou não, mexendo nas engrenagens de um mercado machista e abrindo as portas não só para Castela, mas para Mari Fernandez e Alexia Reis, esta a nova aposta do WorkShow, escritório do qual Mendonça fazia parte.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.