Entenda por que Maxwell Alexandre quer o seu trabalho fora do Inhotim

Obra do artista compõe a exposição temporária 'Quilombo: Vida, Problemas e Aspirações do Negro'

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Brumadinho (MG)

O artista plástico Maxwell Alexandre usou seu perfil no Instagram para protestar contra o Instituto Inhotim, pedindo a remoção de sua obra, da série "Novo Poder", da exposição temporária "Quilombo: Vida, Problemas e Aspirações do Negro". Na publicação, o artista critica a falta de pessoas negras na equipe do museu.

Artista Maxwell Alexandre posa em frente a sua obra da série 'Novo Poder', no Palais de Tokyo, em Paris, em novembro de 2021 - AFP

O trabalho de Alexandre recebe grande destaque na exposição realizada a partir de uma pesquisa sobre o trabalho de Abdias Nascimento. Ela ocupa uma parede inteira no primeiro núcleo da mostra, cujo nome é o mesmo da série feita por ele, em que retrata negros em espaços de arte.

"Eu não nego a importância de tematizar e falar sobre ser negro e tudo o que isso implica", escreveu ele na publicação. "A única maneira de lidar com legitimidade e tentar diminuir erros tão grotescos seria ter na equipe de projetos o máximo de pessoas negras, principalmente em cargos altos de poder decisivo", continua.

A obra, no entanto, não foi retirada, uma vez que faz parte do acervo do Inhotim. Ao todo, a exposição traz trabalhos de 34 artistas negros. Muitos deles compareceram à inauguração da exposição na galeria Lago do museu e mostraram orgulho e satisfação de estar na instituição que tem um dos principais acervos de arte contemporânea do Brasil. A artista e curadora Yedda Affini, do coletivo Nacional Trovoa, está expondo pela primeira vez no museu, por exemplo.

Por outro lado, Alexandre disse ter se sentido constrangido pelo "fato de ter o assunto do negro tratado da forma que está sendo tratado".

Segundo Deri Andrade, curador assistente do museu, a exposição se propõe a dar um panorama da produção artística de artistas negros no Brasil atual, assim como fazia o jornal Quilombo, criado por Nascimento. "A gente foi pesquisar esses trabalhos para ver o que eles poderiam dar como resposta ao que o jornal estava propondo a discussão na época", diz.

Na publicação, o artista também desaprova a inauguração paralela da exposição "O Mundo É o Teatro do Homem", também a partir dos trabalhos de Abdias Nascimento no Teatro Experimental do Negro, com três artistas brancos, Jonathas Andrade, Bárbara Wagner e Benjamin de Burca.

Alexandre critica em seguida a falta de pavilhão de artistas pretos no Inhotim. "No momento em que, já atrasados, decidem finalmente dar algum espaço, enfiam todos numa galeria só, em uma exposição temporária", escreveu. Em um outro post ele voltou a dizer "a única maneira de eu estar em Inhotim com minha aprovação é em meu próprio pavilhão, assim como Tunga e Adriana Varejão".

As exposições integram o programa do Inhotim, de 2021 a 2023, que gira em torno de Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, em parceria com o Ipeafro.

Maxwell Alexandre fez sucesso com a série "Pardo é Papel", que apresenta o "preto, marrento, ostentando, rico e poderoso" em pinturas no papel pardo. Em 2020 ele estava na lista daqueles com menos de 30 anos da Forbes, na categoria artes plásticas.

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