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Casa de Criadores tem desfile só com trans e travestis e coleção de roupas de pelúcia

Semana de moda conhecida por revelar estilistas faz 25º aniversário com 40 apresentações de marcas independentes

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São Paulo

Em um misto de desfile, show e protesto, dezenas de transexuais e travestis levaram à passarela montada em um prédio em ruínas reformado, no centro de São Paulo, roupas confeccionadas por elas próprias. A apresentação do Ateliê Transmoras foi o auge da noite chuvosa desta terça-feira (6) na Casa de Criadores, evento responsável por revelar novos talentos da moda nacional que comemora agora 25 anos.

Não era um desfile comum, em que o casting entra com expressão sisuda e andar marcado antes de posar para os fotógrafos. O que se viu foi uma variedade de corpos fazendo da passarela uma festa —algumas modelos desfilaram com os peitos à mostra, outra fez passos de "voguing" e deu uma pirueta, uma terceira se apresentou de muletas, e outras tantas fizeram as roupas que vestiam brilharem.

Modelo desfila look do Ateliê Transmoras na Casa de Criadores - Marcelo Soubhia -06.dez.22/@agfotosite

O Ateliê Transmoras é um projeto de Vicenta Perrota, estilista que viaja pelo Brasil dando oficinas de costura para transexuais e travestis. Ela diz não gostar da expressão americana "upcycling" para definir o método com que as roupas são confeccionadas, a partir de tecidos encontrados ou descartados. Prefere "transmutação têxtil", termo que cunhou para designar "uma tecnologia social de travestis brasileiras, de entender o lixo como potência".

Isto se materializa, por exemplo, em calças de patchwork e balaclavas adornadas com brilhos, fichas, alfinetes, búzios e apliques de flores. As peças são integralmente costuradas pelas alunas, que, depois de aprenderem o ofício, repassam a técnica para as colegas.

O processo de confecção das roupas, afirma Perrota, tem terapia e autoconhecimento envolvidos, "porque [as travestis] são pessoas que não são lidas enquanto possibilidade não só dentro do mercado de trabalho, mas dentro da vida, das relações interpessoais". As roupas por ora não serão comercializadas.

A Casa de Criadores, que ocupa até sábado (10) as dependências de um prédio antigo na região da Sé, apresenta em sua 51ª edição desfiles de 40 etiquetas independentes, a maioria presencial.

Ser independente, contudo, não significa que os estilistas não querem viver de seu trabalho, diz André Hidalgo, o fundador do evento, mas que usam as marcas para contar suas histórias, trazendo para as criações suas vivências, dores e amores.

"São marcas que não querem seguir todas as normas, digamos assim, do sistema comercial de moda", afirma ele. Uma das atrações é a apresentação na sexta-feira (9) da Brocal, marca da cantora Tulipa Ruiz, para a qual ela vai desfilar.

Hidalgo não aponta esta ou aquela tendência nas roupas que estão sendo mostradas e diz que esta busca é até um pouco ultrapassada, dado que os escritórios que nos anos 1990 apontavam os hits da estação hoje perderam um tanto de sua relevância. Para ele, como a moda desfilada na Casa de Criadores é plural, a tendência "é a liberdade".

O evento já revelou grifes que hoje fazem bastante sucesso, como Isaac Silva e Another Place, por exemplo, que depois de estrearem na Casa de Criadores passaram a fazer desfiles concorridos na São Paulo Fashion Week, uma passarela que recebe mais atenção do mercado, do público e da imprensa e que exige, pela sua dimensão, maior estrutura das marcas. Por outro lado, o espaço dos estilistas para experimentação é menor.

A terça teve também outros desfiles. O estilista pernambucano Jorge Feitosa mostrou uma coleção monocromática branca inspirada na vegetação da caatinga, com vestidos, camisetas e camisas alongadas que cobriam o corpo inteiro, além de bermudas e shorts de alfaiataria.

A alfaiataria também apareceu na estação da UMS 458 - LL, que desfilou looks com influências do streetwear, do punk e do grunge —destaque para as calças utilitárias, com muitos bolsos, para as bolsas e casacos com mangas em pelúcia, e para uma camiseta com a estampa do rosto e de algumas obras do arquiteto modernista Le Corbusier.

Já Rafael Caetano, que desfila há dez anos no evento, mostrou uma coleção com uma estética que remetia ao universo de piratas, com homens com faixas pretas nos olhos.

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