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Alexandre Herchcovitch reassume as rédeas da marca que fundou, vendeu e deixou

Estilista reata relação com donos do selo que carrega seu nome, do qual se afastou em 2016, e prepara desfile da nova coleção

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O estilista Alexandre Herchcovitch Divulgação

São Paulo

Poderia ser só mais uma leva de roupas prestes a ir à vitrine, mas a nova coleção da Herchcovitch;Alexandre tem uma novidade que escapa de agulhas rotineiras. É o retorno de Alexandre Herchcovitch à direção criativa da grife —fato que deve ser anunciado oficialmente nesta semana.

Há quase sete anos afastado da marca que leva seu nome, o estilista volta a assinar as peças da empresa que fundou em 1993 e, no próximo dia 8, comanda o primeiro desfile da grife em mais de seis anos.

Ao centro, o estilista Alexandre Herchcovitch, ao lado de modelos usando peças de nova coleção da marca que leva seu nome - Divulgação

"Tentei encontrar alguém que já tivesse feito esse movimento, de criar, sair e voltar a uma marca de moda, mas não consegui", afirma o designer, ao enfatizar o ineditismo. "Esse retorno é o maior desafio da minha vida."

Com três décadas de carreira e consagrado como um dos maiores nomes do setor têxtil brasileiro, Herchcovitch deixou a empresa no início de 2016, anos depois de vendê-la ao grupo InBrands, que domina o negócio há quase uma década e está por trás do motivo que levou à sua saída.

À frente de gigantes como Ellus e Richards, o grupo comprou 70% da marca em 2008, e 100% em 2013. Segundo o paulistano, vender a empresa foi uma estratégia de investimento.

"Era preciso. Senão, a marca continuaria do mesmo tamanho, o que não seria um problema, ela estava bem estruturada, mas queria que crescesse", diz ele.

Ainda que Herchcovitch negue qualquer arrependimento com a decisão, seu desejo de impulsionar a marca com a venda não chegou a ser concretizado.

Em 2016, este jornal mostrou que, até então, Herchcovitch;Alexandre respondia a apenas 1% do faturamento da InBrands. O motivo, segundo o estilista, está atrelado à quantidade de produção de cada uma das grifes do grupo, que diferem em tamanho no setor.

Agora, embora se mantenha como o menor segmento da InBrands, a marca vive sob altas expectativas e apostas —tanto do estilista quanto de seus donos. Isso porque durante a saída de Herchcovitch, o número de produtos fabricados e vendidos pelo selo ficou enxuto, com quase nenhum destaque. E nesse tempo, ninguém foi nomeado para assumir a direção criativa.

"Falei com Nelson [Alvarenga, diretor da InBrands] sobre meu desejo de voltar à criação e ele disse que seria um bom momento para retrabalhar a marca", afirma o designer, que também assume a direção de comunicação da marca. "É um desejo antigo. Não foi sempre assim, até porque eu quis sair de lá. Mas já faz um tempo que penso em voltar."

Quando disse adeus à Herchcovitch;Alexandre, o paulistano foi sucinto no anúncio. Se limitou a informar da saída e agradecer pelos então 23 anos que esteve na empresa. Como ele não revelou o motivo, brotaram dúvidas e teorias da conspiração pela indústria.

A verdade, segundo o estilista, é que a decisão veio depois de ele se ver numa encruzilhada, na qual precisou escolher entre o selo e seus outros trabalhos. Para ter o contrato renovado na empresa, em 2016, teria que aceitar uma condição imposta pela InBrands —abandonar produções paralelas.

Acostumado a trabalhar para mais de uma marca ao mesmo tempo, Herchcovitch, que também já esteve à frente da criação de nomes como Cori e Zoomp, não topou o acordo.

"Não tenho problemas em trabalhar em três, quatro, lugares. Nunca deixo ninguém na mão. Mas por algum motivo, queriam que eu fosse exclusivo, então falei que não seria bom nem para mim nem para eles", diz. "Enquanto faço trabalhos na Rosa Chá, ou em qualquer outra marca, conheço novos mercados, tipos de fabricação e equipes. Tudo o que faço de um lado reverbera do outro."

Quando procurou Alvarenga para propor seu retorno à marca, há cerca de sete meses, Herchcovitch diz que mais uma vez foi honesto e expôs suas preferências. Desta vez, funcionou.

Segundo ele, a marca tem demonstrado empolgação com sua volta. No período em que esteve fora, o estilista bisbilhotava vez ou outra o que era produzido ali e, ao longo dos anos, acompanhou o processo de afrouxamento da marca.

"Quando saí, tinham 30 licenciamentos. Depois, o número foi diminuindo. Hoje, existe somente um, o da linha de cama, mesa e banho da Zelo", afirma. "Se alguém quiser comprar um produto da Herchcovitch;Alexandre, encontra antigos no Enjoei, ou em alguma loja do tipo, mas se for produto novo, só na Zelo."

O estilista é conhecido por encapar licenciamentos diversos, com marcas que vão do universo infantil da Disney ao jeanswear da Mafferson. Entre os produtos licenciados, há roupas, sapatos, óculos, joias e utensílios variados.

Novamente no selo, Herchcovitch afirma que pretende traçar novos licenciamentos e coleções, dando ares de vida à marca que, no próximo ano, completará três décadas.

Para seu retorno à empresa, o paulistano desenhou 32 looks, que serão exibidos no desfile na quinta-feira (8). Ele diz que há chances de criar outros itens até o evento, mas já está satisfeito com a produção.

A caveira, figura que virou quase uma assinatura do estilista, estampa algumas das peças, que emulam uma sofisticação juvenil. Entre elas, há um moletom de streetwear com zíper decorativo e um vestido branco com ossos animalescos desenhados numa modelagem também urbana.

Mulher usa vestido branco com detalhes
Ana Oliveira usa peça da nova coleção de Alexandre Herchcovitch - Pedrita Junckes

"É uma coleção que passa por uma estética rebuscada, mistura estampas, cores e, em algumas peças, usa materiais inusitados, como borracha e matérias-primas que pesquiso há bastante tempo", afirma o designer.

"Pensei muito no que as pessoas veriam na passarela. O que vou apresentar não é uma coleção de retorno, de ocasião especial, ou de roupas que explodem e acendem luzes. Também não tem um tema definido. É uma coleção de inverno de 2023."

O estilista afirma que todas as roupas têm tecidos que estavam intocados nos porões da InBrands desde sua saída, o que ele celebra, num aceno à moda sustentável —bandeira que vem erguendo nos últimos tempos.

Ainda segundo o designer, diferentemente do que acontecia antes, ele não tem mais uma relação de empregado com a marca. Em vez disso, paga para explorar criações com o nome da Herchcovitch; Alexandre, que um dia foi seu.

Ele também é livre para tocar projetos paralelos —como À La Garçonne, etiqueta de street e sportswear que divide com Fabio Souza e, na última São Paulo Fashion Week, levou às passarelas um misto de arroz de festa reluzente com um urbanismo de jeanswear, cheio de roupas oversize.

Aos 51 anos, Alexandre Herchcovitch se mostra ansioso e, acima de tudo, entusiasmado com o futuro, que ainda reserva para o próximo ano dois projetos audiovisuais —um programa no canal E! e um documentário biográfico na HBO Max—, além das metas de venda que precisará cumprir na empresa para quem anos atrás torcia seu nariz.

Resta a ver, então, os próximos capítulos dessa relação.

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