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Lô Politi lança 'Sol', sobre pais e filhos, e lamenta que Gal Costa não verá biografia

Novo filme da diretora fala sobre abandono e antecede 'Meu Nome É Gal', que mostrará a juventude da cantora

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São Paulo

Não foi ao vasculhar sua vida familiar que Lô Politi encontrou inspiração para o filme que lança nesta semana, "Sol". Curiosamente, no entanto, depois de ter finalizado a produção, a diretora descobriu que seu passado estava marcado por dramas que se assemelham aos que roteirizou.

Rômulo Braga, Everaldo Pontes e Malu Landim em cena do filme "Sol", de Lô Politi
Rômulo Braga e Everaldo Pontes em cena do filme "Sol", de Lô Politi - Divulgação

No cerne do longa está um sentimento de desconexão entre pais e filhos, que começa com o abandono, muito antes e fora da tela, do personagem de Rômulo Braga pelo de Everaldo Pontes. Ainda criança, ele foi deixado desamparado junto com a mãe.

Politi descobriu muito depois que o próprio pai, já falecido, havia sido abandonado, e que suas tias-avós por parte materna também. Pode parecer uma coincidência estranha, mas a própria cineasta reforça que no país em que vivemos, em que muitas mães precisam criar seus filhos sozinhas, não é raro descobrir esse tipo de situação tão próxima a você.

"Há mil possibilidades para um pai abandonar um filho. Existe a questão social, que é muito complicada, mas o que eu quis explorar no filme foram as camadas mais psicológicas", diz a diretora de "Jonas" e "Alvorada".

"Eu queria ir além do óbvio, que é o ódio que esse filho abandonado tem pelo pai. Mais profundamente, isso deixa várias marcas, porque ele próprio não consegue se conectar com a filha. É uma investigação muito sutil que as pessoas às vezes não querem entender, não querem enfrentar. A gente tende a soterrar as emoções das quais não damos conta."

Em "Sol", a dinâmica acontece entre um avô, um pai e uma filha. Esta passa as férias na casa do genitor, que, divorciado, ficou um longo período sem vê-la. É difícil para ambos encontrarem pontos de conexão, até que o protagonista recebe uma ligação, de uma cidade do interior da Bahia, e fica sabendo que o pai que ele não vê há três décadas está com a saúde debilitada, nas últimas, e não há ninguém para cuidar das burocracias.

Contrariado, ele entra no carro e vai com a garota para a tal cidade. Assim que chega, percebe que o idoso está, sim, debilitado, mas que sua situação está longe de ser terminal. O personagem de Braga, então, decide internar o de Pontes numa casa de repouso em Salvador e pega o caminho de volta rumo à capital baiana.

Daí nasce uma espécie de road movie, em que as três partes tentam se entender e superar traumas e dramas que carregam há muito tempo. A viagem é "toda trabalhada no não dito", diz Politi, que privilegiou o silêncio na interação entre seus personagens.

Mas se avô e pai são calados, tímidos e introvertidos, a filha, vivida pela estreante Malu Landim e moldada à imagem da skatista Rayssa Leal, é uma pré-adolescente elétrica, questionadora e que acaba servindo de cola para reparar as relações quebradas à sua volta.

"As contradições são preciosas para o cinema", afirma a cineasta, que em suas obras gosta de explorar a masculinidade a partir do seu ponto de vista feminino. Seus próximos projetos, no entanto, devem escapar da tendência.

A história de suas tias, que foram abandonadas, já está se transformando em roteiro, mas antes disso ela deve acompanhar uma adolescente e seus dilemas, em "Apneia". No caminho até essa dobradinha, porém, há ainda "Meu Nome É Gal", filme sobre Gal Gosta que ela dirige ao lado de Dandara Ferreira e que deve ser lançado no próximo semestre.

Morta no mês passado, a cantora conhecia o projeto e havia aprovado tanto o recorte temporal do roteiro, quanto a escolha de Sophie Charlotte para interpretá-la em sua juventude.

Politi, diferentemente da codiretora Dandara Ferreira, não era próxima de Gal. Nem por isso a notícia de sua morte deixou de ser um baque –morria, afinal, um ícone. Para além disso, ela foi tomada pela frustração ao perceber que a cantora não veria a cinebiografia pronta.

"Todo mundo ficou muito triste com isso. Há uma potência dela ali, naqueles anos de juventude dela, que muitas pessoas não conhecem. Para ela ia ser mágico rever aquilo. Que bom que a gente fez o filme, que pena que ela não viu", lamenta.

Sol

  • Onde Em cartaz nos cinemas
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Rômulo Braga, Everaldo Pontes e Malu Landim
  • Produção Brasil, 2021
  • Direção Lô Politi
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