Descrição de chapéu

Vivienne Westwood deixa legado no cinema que é eterno como punk

Estilista britânica morreu aos 81, mas não sem antes assinar looks de 'Sex and the City' e inspirar figurinos de 'Cruella'

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Flavia Guerra

Jornalista, documentarista e crítica, apresenta o podcast Plano Geral

São Paulo

O questionamento da ordem vigente, mesmo quando ela traz fortuna, está no caráter de Vivienne Westwood, estilista que revolucionou a moda inglesa nos anos 1970. Se sua influência na música, na moda e no comportamento são bastante claros, no cinema sua presença passa um pouco despercebida.

Westwood assinou figurinos de longas e curtas-metragens e foi tanto objeto quanto personagem ativa de alguns documentários sobre suas facetas.

A estilista britânica Vivienne Westwood - Giuseppe Cacace/AFP

No entanto, em cada filme em que há um personagem outsider, rebelde com ou sem causa, camisetas punk com mensagens, jaquetas com tachinhas, looks combinando tule e couro, lingeries à
mostra, entre tantas outras referências que uniam tradição e contestação, há elementos das criações de Westwood.

"Cruella", filme lançado no ano passado, não tem figurinos assinados por Westwood e exibe criações de diversos estilistas. Ainda assim, o longa traz o DNA da britânica. Isso pode ser visto em cada um dos mais de 40 looks que a atriz Emma Stone usa na produção, que está no Disney+.

A figurinista Jenny Beavan afirmou à época do lançamento do filme, e na temporada do Oscar, que, entre as toneladas de inspiração, Westwood foi decisiva. Não só pela história se passar em Londres e por a moda ter papel crucial na trama, mas também pela atitude contestadora das peças que a protagonista usava e criava.

Em 1991, Westwood assinou o figurino do filme "Uma Mulher aos 21 Anos", de Don Boyd. Com este trabalho, ela abriu caminho para "Despedida em Las Vegas", dirigido por Mike Figgis e lançado em 1995. O figurino do longa ficou a cargo de Laura Goldsmith, mas Westwood foi quem cuidou dos looks da prostituta Sera, vivida por Elisabeth Shue.

Em um misto de decadência e leveza, Sera encanta por sua delicadeza e força, pelos looks sensuais e também sutis. Shue veste o espírito dos anos 1990, mas suas peças são atemporais. O duo de saia lápis de couro e top-sutiã meia-taça, um ícone da moda de Westwood, foram e ainda são copiados à exaustão na moda e nas telas. A jaqueta estruturada sobre o minivestido camisola de cetim é outra combinação que é sempre sucesso. Contrastes que ajudam a quebrar a sisudez que Sera ganhou em sua trajetória. Sem Westwood, a personagem não seria tão inesquecível.

Algum tempo depois, a estilista também assinaria o figurino do thriller de ação "Matadores de Aluguel", de 2005, dirigido por Lee Daniels, e de diversos outros curtas —sempre foi generosa e apostou nos novos cineastas. Foram trabalhos competentes, mas não tão marcantes.

Inesquecível mesmo é o vestido de (não) casamento que Carrie Bradshaw, vivida por Sarah Jessica Parker, usou no longa "Sex and the City" em 2008. Numa saga em que a mulher moderna se choca e vive em simbiose com sonhos românticos, nada mais coerente que dar um ar punk para o momento mais "conto de fadas" vivido pela personagem na trama.

O look tomara-que-caia tem silhueta marcada, garantida pelo corset de cetim, uma outra marca registrada de Westwood. A peça se funde à saia volumosa, assimétrica e densa, em camadas. "Cloud" é o nome dele, que praticamente leva a noiva às nuvens.

"Carrie, querida, vi sua fotografia da sessão para a Vogue. Este vestido é teu! Com amor, Vivienne Westwood", escreveu a estilista no bilhete que Carrie lê ao receber o vestido de presente. Na série derivada, "And Just Like That", disponível na HBO Max, o vestido volta repaginado e combinado com echarpe e chapéu da cor turquesa.

No terreno dos documentários, há vários que tratam de sua trajetória. Em "Westwood: Punk, Icon, Activist", de 2018, sua história de vida se une às de suas criações.

Já "Vivienne Westwood: Do It Yourself", de 2011, é um filme em estilo direto, que acompanha os bastidores dos preparativos do desfile da coleção "Do It Yourself" enquanto aborda os principais pontos de sua carreira.

Para terminar este texto com um clichê, é preciso dizer que Westwood partiu, mas seu legado, tanto na atitude quanto nas telas, é eterno, assim como é o punk.

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