Descrição de chapéu Livros

Basta de ouvir militares e pastores, diz futuro presidente da Biblioteca Nacional

Escritor Marco Lucchesi, que presidiu a ABL, assumirá entidade envolta em polêmicas durante o governo Bolsonaro

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São Paulo

O escritor Marco Lucchesi mal deixou de comandar uma das principais instituições culturais do país —a Academia Brasileira de Letras, que presidiu até 2021— e já foi convidado para assumir outra.

Autor prolífico e defensor da diversidade na cultura, ele foi anunciado pela ministra Margareth Menezes nesta segunda como o novo presidente da Biblioteca Nacional.

marco lucchesi de fardão
Marco Lucchesi em cerimônia de posse de Joaquim Falcão na Academia Brasileira de Letras - Raquel Cunha - 24.nov.2018/Folhapress

"Independentemente do posicionamento político, a volta do Ministério da Cultura é a volta do sonho para a agenda política", afirma ele por telefone. "Estávamos vivendo sob um pesadelo, com ameaças fascistoides constantes aos professores e artistas. Esse gesto simbólico já é importantíssimo."

"Os artistas saem da condição de párias. Basta de ouvir pastores e militares enlouquecidos, vamos ouvir os poetas", se empolga Lucchesi.

O imortal passou um ano sabático estudando na Universidade de Nápoles, após deixar o comando da ABL, e afirma que todos os seus interlocutores internacionais ficavam incrédulos ao saber da extinção da pasta da Cultura. As secretarias colocadas no lugar, diz ele, tinham "representantes pouco adequados, para dizer de forma diplomática".

Numa tomada de posição menos diplomática, no ano passado, o escritor foi um dos artistas que recusaram a Ordem do Mérito do Livro entregue pela própria Biblioteca Nacional, como protesto contra a condecoração que a mesma instituição havia feito ao deputado bolsonarista Daniel Silveira.

A medalha seria entregue a 200 personalidades em homenagem ao bicentenário da Independência do país e o parlamentar, conhecido por quebrar em público uma placa com o nome da vereadora assassinada Marielle Franco, havia sido um dos eleitos.

Não foi a única polêmica envolvendo a instituição bicentenária sediada no Rio de Janeiro, que tem missão de preservar e difundir a memória da literatura brasileira.

O presidente anterior da Biblioteca Nacional, Luiz Ramiro Júnior, citou Olavo de Carvalho em seu discurso de posse. Antes dele, Rafael Nogueira era criticado por defender posições monarquistas e ser próximo à produtora de direita Brasil Paralelo.

Entre as duas presidências, houve até a tentativa de pôr um capitão da Marinha para comandar a instituição, mas Carlos Fernando Rabello caiu antes mesmo de tomar posse.

Agora, Lucchesi diz que o período é de reconstrução, alinhado ao novo slogan do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e se mostra ávido para integrar um "corpo de funcionários apaixonado de guardiões da memória".

O sabático do escritor foi interrompido no último dia 30 pelo convite de Margareth, uma pessoa que ele conhecia apenas pela música, mas de quem teve a "melhor impressão humana, gentil, educada, afinada".

Como ainda não se reuniu com a ministra da Cultura, Lucchesi diz não poder detalhar seus planos à frente da entidade. Mas afirma que continuará um comportamento que teve durante sua carreira, que marcou inclusive sua presidência na ABL —as visitas recorrentes a presídios e comunidades indígenas e quilombolas. "E não é para levar livros, mas perguntar que livros eles querem ler."

"Da mesma forma que se diz que a beleza salvará o mundo, eu digo que a diversidade e a polifonia salvarão o Brasil."

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