Descrição de chapéu
Zeca Camargo

Com a morte de Lisa Marie, Priscilla Presley herda sozinha os tesouros de Elvis

Em Graceland, mansão que guarda a memória do astro, mãe de cantora não deixa que ninguém toque na vida de sua família

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Era uma casa muito engraçada. Tinha teto, tinha tudo, mas Graceland, imortalizada na memória dos fãs de Elvis, à primeira vista parecia menos uma mansão do que a miniatura de uma. E aí Priscilla Presley entrou na sala e o lugar virou um palácio.

Essa foi a sensação que eu tive quando fui até Memphis, no Tenesse, para conhecê-la. A mãe de Lisa Marie, que morreu na quinta-feira, estava prestes a viajar para o Brasil acompanhando uma generosa exposição de objetos pessoais do rei Elvis Presley. E naquela tarde ela foi uma anfitriã perfeita.

A cantora Lisa Marie Presley, filha de Elvis, em retrato de 2012 - Mario Anzuoni - 10.mai-12/Reuters

Nada de perguntas sobre sua vida pessoal, claro. O brevíssimo casamento de sua filha com Michael Jackson estava absolutamente fora de questão. Fora isso, tudo que fosse memória da esposa de um dos maiores astros pop de todos os tempos foi gentilmente compartilhado por Priscilla.

Tudo parecia intocado. De volta ao hall de entrada da casa, reproduzido à minúcia por Baz Luhrmann no seu excelente filme do ano passado, que acabou de dar a Austin Butler o Globo de Ouro de melhor ator em um drama. Como é estranho lembrar que, para prestigiar a produção, a própria Lisa Marie esteve na festa alguns dias antes de morrer.

Era de certa maneira surreal visitar um lugar tão icônico como aquele, destino de incontáveis peregrinações de devotos de Elvis. Ver Priscila de perto só acentuava essa impressão, uma vez que ela pegou emprestado do marido, com quem se casou em 1967, uma áurea quase mítica.

Ao me dar as boas-vindas, no entanto, ela foi a mais gentil e mais humana das celebridades. Saímos passeando pela casa e em cada cômodo ela me presenteava com uma lembrança.

Priscilla se divertia com o Jungle Room, todo com motivos "havaianos" —as aspas necessárias pela apropriação bem livre daquela cultura—, ele talvez fosse escuro demais para uma menina brincar despreocupada. Mas deixou entender que não era seu espaço favorito na casa.

Já da sala de jantar, que os que viram "Elvis" de Luhrmann, conheceram como no original, ela tinha lembranças felizes. Refeições em família, festas e Natais que para ela eram o ponto alto da convivência com seu marido e sua filha. Especialmente os dias de Ação de Graça. "Elvis adorava dar presentes", ela lembrou emocionada.

Não subimos para o segundo andar para visitar a parte íntima de Graceland. Visitar o quarto de Lisa Marie estava fora de questão. Mas era no subsolo que a casa guardava a maior riqueza —a coleção de roupas, instrumentos e discos de ouro de seu marido, imaculadamente guardados em vitrines e molduras de vidro.

Priscila não disfarçava seu orgulho ao mostrar cada uma delas, mesmo as que Elvis usou em Las Vegas, na fase final de sua carreira. "Ele ficava bem charmoso nessas roupas", comentou ela com carinho, lembrando que algumas delas pesavam até 20 quilos.

Ainda passamos pelo que podemos chamar de uma sala de música, ou estúdio, que se encaixaria bem nos cenários futuristas de "2001: Uma Odisseia do Espaço", de Stanley Kubrick. Com o equipamento mais arrojado para época, era ali que o rei ouvia as próprias canções e ensaiava alguns registros.

E havia também a cocheira, que ficava ao fundo do jardim de Graceland. Os cavalos eram uma paixão sua e de Elvis. Certamente mais memórias com o pai de Lisa Marie vinham à tona naquele lugar: são várias as fotos com a família montada. O carinho dela com os animais era visível.

De música mesmo falamos pouco. Quase nada a acrescentar à genialidade de Elvis, a não ser o fato de ela não esconder a honra de ser a guardiã de todos aqueles tesouros —que agora, mais uma vez, estão de luto em Graceland.

Em 2020 ela perdeu seu neto, filho de Lisa Marie. E agora sua filha. Na história trágica da família, Priscilla agora é a única herdeira daquele lugar que talvez pequeno demais para guardar emoções tão gigantescas.

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