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Escola de ioga que virou seita assassina com arma nazista é relembrada em Sundance

Aum Shinrikyo, que segue com fiéis até hoje, teve líder carismático que comandou ataque a metrô com gás mortal

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Los Angeles

De escola de ioga a seita assassina, a trajetória do grupo terrorista japonês Verdade Suprema, o Aum Shinrikyo, é esmiuçada em detalhes escabrosos no documentário "AUM: The Cult at the End of the World", em exibição no Festival Sundance.

Monges vestidos de rosa em monte de pedras
Cena de 'AUM: The Cult at the End of the World', de Ben Braun e Chiaki Yanagimoto, exibido no Festival Sundance - Sundance Institute

Liderada pelo guru Shoko Asahara, a seita aterrorizou o país nos anos 1990, culminando com os ataques de gás sarin —uma arma química de destruição em massa, usada pelos nazistas— em Tóquio, em 1995. Em plena hora do rush, cinco membros usaram seus guarda-chuvas para perfurar pacotes de sarin em cinco trens do metrô. Treze pessoas morreram e milhares ficaram feridos. Asahara foi condenado à morte e executado em 2018.

Mas, como mostra o documentário, os assassinatos cometidos pela seita vinham de muito antes e proliferaram com a leniência da polícia, temerosa em agir contra grupos religiosos, e da mídia, enamorada pelo carisma de Asahara. O guru prometia ensinar levitação com meditação e outros superpoderes, em centenas de livros de autoajuda e mangás.

O filme é a estreia na direção da japonesa Chiaki Yanagimoto e do americano Ben Braun. Ele diz que se interessou pela história por conta da complexidade e aspectos sombrios similares aos ataques do 11 de Setembro, uma vez que cresceu em Nova York e sua escola ficava ao lado das Torres Gêmeas.

Já Yanagimoto cresceu em Yamanashi, uma região rural famosa por ter o monte Fuji e onde a seita tinha sua maior sede. O local era um complexo mal-ajambrado de galpões que chegaram a esconder fábricas de agentes químicos e armas leves, além de um helicóptero militar russo.

"Lembro da minha mãe me alertando para ter cuidado com aqueles caras de robes brancos circulando pelas montanhas", disse Yanagimoto à imprensa em Sundance. "E, mesmo com essas memórias tão claras na minha mente, eu não sabia muito bem porque isso havia acontecido. Foi o que me atraiu ao projeto."

Tecnicamente cego, Asahara foi abandonado pelo pais quando criança numa escola para pessoas com deficiência. Adulto, se meteu a vender remédios picaretas, como tangerinas em álcool. Ao abrir uma escola de ioga, pegou gosto pelo papel de guru e transformou o espaço numa ordem religiosa em 1989, com ensinamentos budistas, bíblicos e esotéricos.

Depois de uma vergonhosa derrota nas eleições de 1990, quando o grupo gastou milhões de ienes tentando em vão ganhar cadeiras no Congresso, Asahara radicalizou seu discurso. Enquanto prepara seus discípulos para o fim do mundo, a seita passou a fazer incursões no exterior. Levava suas práticas à Rússia e trazia de volta armamentos e treinamento militar.

O documentário revela as excentricidades típicas de culto, como os discípulos que pagavam para beber a água na qual o guru havia se banhado e drinques feitos com seu sangue. O grupo atraía membros da elite universitária e também jovens que abandonavam suas famílias.

Pais e mães criam uma associação para conseguir ter acesso aos filhos, e o principal advogado do caso é o primeiro a sumir junto com a mulher e o bebê do casal. Os corpos só foram encontrados após os ataques de 1995.

Apesar da história parecer coisa do passado, os diretores mostram que o Verdade Suprema ainda tem tentáculos vivos. Um dos entrevistados é Fumihiro Joyu, ex-porta-voz e sucessor de Asahara. Joyu, engenheiro espacial e de inteligência artificial, escapou da pena de morte por estar no exterior na época dos ataques e serviu pena de três anos.

Ao sair da prisão, continuou com os ensinamentos num grupo de nome diferente e hoje lidera o Hikari no Wa —ou círculo da luz do arco-íris. Ele mesmo concorda que deve ser "o homem mais odiado do Japão".

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