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Nem pretensiosa, nem burocrática, Osesp é destaque em 2023

Temporada abre com Mahler, em março, e conta com sinfonias que marcaram trilha do clássico '2001: Uma Odisseia no Espaço'

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São Paulo

Na música clássica brasileira, o ano passado foi marcado pela alegria da conquista do jovem violinista Guido Sant’Anna, nascido e criado na periferia de São Paulo, que aos 17 anos venceu o cobiçadíssimo Concurso Fritz Kreisler, em Viena, e também pela perda, aos 94 anos, do compositor catarinense Edino Krieger, nome central do mundo erudito nacional. Eventos como esses não podem ser previstos.

Analisar programações futuras é, obviamente, pinçar as atrações mais aguardadas, mas não só, é também o momento de buscar os sentidos, os conceitos por trás das séries de concertos.

Thierry Fischer e Osesp
Thierry Fischer, regente da Osesp - Isabela Guasco - 3.jul.2019/Divulgação

Para além do anúncio das temporadas com antecedência —infelizmente o Theatro São Pedro, que fez um belo trabalho em 2022, ainda não divulgou o que haverá na casa em 2023—, é esperada a informação tanto acerca das obras que serão apresentadas como dos elencos (vozes solistas, por exemplo, no caso das óperas).

A programação da Cultura Artística, com sete atrações na série internacional na Sala São Paulo e cinco na série de violão no teatro B32, mantém alta qualidade nos nomes anunciados, apesar de algumas atrações não especificarem, ainda, os respectivos programas.

Se isso pode ser desnecessário no caso de um pianista como András Schiff, em setembro —a mera presença para um recital solo em São Paulo dispensa qualquer outra demanda—, já faz mais falta em outros casos, afinal, o "quem toca" e o "o que se toca" são parte de um todo indissoluto.

Camerata Salzburg com o violinista Renaud Capuçon, em junho, Orquestra Sinfônica de Lucerna, em agosto, música barroca francesa com o especialista Jordi Savall e seu grupo, em setembro, a pianista Maria João Pires, em outubro, e a soprano Kristine Opolais, em novembro, estão na programação.

No caso do Theatro Municipal, ocorre o inverso —títulos de óperas foram anunciados, mas sem detalhes sobre os elencos; em vez da informação, as escolhas dos curadores tentam se sustentar através de um texto que propõe elos longínquos com a etimologia de expressões de origem grega e guarani.

Nada disso seria necessário para anunciar um conjunto —equilibrado dentro da equação quantidade e diversidade— de seis óperas, todas a serem dirigidas pelo titular da casa, Roberto Minczuk —"Così Fan Tutte" de Mozart, em março, "O Guarani" de Carlos Gomes, em maio, "La Fanciulla del West" de Puccini, em julho, "O Navio Fantasma" de Wagner, em novembro, e "Isolda. Tristão", uma encomenda à compositora brasileira Clarice Assad, nome em ascensão no cenário internacional, que será apresentada juntamente com "Ainadamar", do argentino Osvaldo Golijov, em setembro.

Entre os diretores cênicos estão nomes importantes, como Julianna Santos, Carla Camurati e Caetano Vilela.

A despeito de sua alta complexidade e da enorme quantidade de concertos, a temporada 2023 da Osesp, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, oferece, em si, uma completude de experiências, todas conectadas em seus mínimos detalhes, com cada item de repertório e performance elencado para o público se programar com antecedência. Como de hábito, em 2023 serão 32 semanas de programas de assinatura, num total de 150 apresentações.

A abertura, em 2 de março, e o encerramento, em 16 de dezembro, ambos a cargo do regente titular, Thierry Fischer, conversam a distância —para começar, a "Sinfonia n.3" de Mahler; para fechar, o resgate do histórico programa, de quase quatro horas de duração, em que Beethoven estreou, em 1808, algumas de suas obras mais importantes, como "Sinfonia n.5" e "Sinfonia n.6" e "Concerto para Piano n.4".

São imperdíveis programas com o cravista iraniano-americano Mahan Esfahani, em maio, e com o artista em residência, o pianista britânico Stephen Hough, como o que junta Bach, Rachmaninov e duas obras seminais do século 20, "Atmosphères" e "Lux Aeterna", do húngaro György Ligeti —ambas centrais na trilha do filme "2001: Uma Odisseia no Espaço", de Kubrick.

São igualmente imperdíveis os programas com composições de Aylton Escobar, que completará 80 anos, preparatórios para a gravação de um álbum; o final do ciclo de sinfonias de Sibelius; e obras importantes de Olivier Messiaen, como "Vinte Olhares Sobre o Menino Jesus", em junho, e "Sinfonia Turangalîla", em novembro.

Entre as novidades que merecem ser acompanhadas de perto está a estreia do novo Quinteto Osesp, formado por cinco mulheres do naipe de cordas da orquestra. Do primeiro programa, com os quintetos com duas violas de Mozart e Brahms, em abril, ao final, com o igualmente fantástico "Quinteto op.111" de Brahms ao lado da estreia de uma nova obra de Escobar, em dezembro, o repertório chama por si.

Nem pretensiosa, nem burocrática, a temporada da Osesp flui com liberdade entre as efemérides, sem se subordinar a elas. Conversa com o passado, traz o presente, e propõe conexões internas, a partir do som das obras. Não por acaso, a orquestra estabeleceu um modelo que tem sido seguido de perto pelas melhores séries de concertos fora de São Paulo, cujos exemplos mais auspiciosos são os das excelentes temporadas 2023 anunciadas pela Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, e pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.

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