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Moda

Vestido com cabeça de leão de Kylie Jenner polemiza desfile da Schiaparelli

Grife foi acusada de glamorizar uso de peles e animais mortos durante apresentação na Semana de Alta-Costura de Paris

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Flávia Boggio
São Paulo

Um dos principais eventos do calendário internacional de moda, a Semana de Alta-Costura de Paris
começou com a presença de celebridades e os desfiles das casas Dior e Schiaparelli.

A grife italiana, comandada pelo diretor criativo Daniel Roseberry, é queridinha entre as fashionistas por suas peças cheias de significado que se parecem com esculturas.

Kylie Jenner usa look com cabeça de leão para desfile da Schiaparelli - instagram

As criações, inspiradas em roupas da Idade Média e filmes de ficção científica, possuem armações que parecem móbiles de quarto infantil, com golas e mangas em formatos de bambolê. O fato de muitas delas nem sequer passarem pela porta torna inviável seu uso no dia a dia. São feitas para uma chegada triunfal, como fez a influencer Gkay, quando usou uma peça da marca para abrir sua Farofa.

No primeiro dia da semana de moda parisiense, a grife fez uma abertura triunfal e causou polêmica nas redes.

Antes mesmo de o desfile começar, a convidada de honra Kylie Jenner, irmã mais nova de Kim Kardashian, apareceu com uma peça da grife. Era um tomara que caia de veludo preto, com uma cabeça de leão em tamanho real pregada do lado direito do vestido. Para quem cresceu nos anos 1980, a imagem remeteu imediatamente ao rei Jaffe Joffer, do filme "Um Príncipe em Nova York", de Eddie Murphy. O personagem, vivido por James Earl Jones, usava uma estola de pele de leão, com a cabeça do animal prendendo as duas pontas.

Diferente do filme, a estrela de "Keeping Up with the Kardashians" não estava fazendo uma piada, mas dando um spoiler do tema da coleção.

Kylie Jenner usa look com cabeça de leão para desfile da Schiaparelli - instagram

Logo que começou o desfile, a modelo Irina Shayk entrou com a mesma peça com a cabeça de leão, seguida por Shalom Harlow com um vestido de pele com uma cabeça de leopardo das neves costurada na parte frontal e Naomi Campbell, com um sobretudo com uma cabeça de lobo.

Embora a marca tenha deixado claro que as cabeças eram falsas, a semelhança com animais reais causou indignação nas redes sociais. Muitos acusaram a grife de glamorizar o uso de peles e animais mortos como troféus.

Não que seja possível usar uma cabeça de leão real, fruto de taxidermia, como um broche. O tomara que caia definitivamente cairia no chão, junto com a modelo. Sem falar que as representações falsas de animais na moda são tão comuns quanto o uso do pretinho básico.

O que pouco se fala é da total falta de praticidade dos modelitos da alta-costura. Como a vida de uma mulher pode ser viável carregando uma cabeça de leão, em tamanho real, com juba e tudo, presa no vestido? O adereço torna impossível qualquer movimento e inviabiliza o uso da mão direita. Para assistir ao desfile, a própria Kylie Jenner precisou ficar na ponta da primeira fileira, pois quem se sentasse ao lado dela seria esmagado pelo animal. E como ela fez para comer? Beber água? E ir ao banheiro?

Assim como a peça usada com a cabeça de leopardo-das-neves, costurada nos seios. Ela até seria útil para mulheres que, como eu, usam transporte público. Seria um aviso aos abusadores. Mas em um metrô cheio, impossibilitaria a locomoção.

Também seria complicado ir a um evento dirigindo, já que o nariz do leopardo ficaria apertando a buzina do veículo. Resultaria em multa e apreensão do carro. Se locomover com uma dessas roupas só com um "Papamóvel".

Está certo que a alta-costura, como diz o nome, é muito mais do que uma roupa para ir a uma festa ou pegar transporte público. São peças feitas à mão por centenas de profissionais que viram obras de arte.

O criador Daniel Roseberry contou que a coleção foi inspirada no "Inferno" da "Divina Comédia", de Dante Alighieri. O leopardo, o leão e o lobo representariam, respectivamente, a luxúria, orgulho e avareza. A pessoa que usa, além de falar o nome da grife, precisa explicar todo o seu conceito.

Mas todo cuidado é pouco para uma indústria que ainda incentiva a criação cruel e a matança de milhões de raposas e visons. Criar reproduções perfeitas de animais pode ser um belíssimo trabalho de arte, mas usar essas peças no tapete vermelho pode ser um tiro no sapato scarpin.

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