É uma realidade conhecida da indústria de entretenimento que grandes estúdios, sejam de filmes ou de videogames, preferem relançar sucessos ou bancar sequências de histórias conhecidas a apostar em coisas novas. Para o bem ou para o mal, relançamentos assim, quando bem produzidos, têm sido bem recebidos por público e crítica nos últimos anos.
Um bom exemplo é o remake de "Resident Evil 2". Em 2019, a Capcom relançou o clássico de 1998, atualizando os gráficos e as mecânicas, permitindo que uma nova geração de jogadores conhecesse o game e preparando o caminho para o remake de "Resident Evil 4", que deve ser lançado em março desse ano. O original, de 2005, é considerado por muitos o melhor jogo da franquia e um dos melhores jogos de terror já feitos.
Em 2020, outra desenvolvedora japonesa, a Square Enix, foi um passo além. Ao refazer "Final Fantasy VII", o estúdio alterou radicalmente a história do RPG, com mudanças significativas na trama que ainda não foram totalmente explicadas —uma segunda parte deve ser lançada no ano que vem.
O remake de "Dead Space", que chegou ao PC, PS5 e Xbox Series no último dia 27, encontra um meio termo entre as duas alternativas —uma versão atualizada em gráficos e mecânicas do jogo de 2008 que virou um clássico do terror com novos elementos para a história e narrativa.
Em "Dead Space", o ano é 2508 e você é Isaac Clarke, um engenheiro a caminho da nave mineradora USG Ishimura, que emitiu um pedido de socorro. As referências ao filme "Alien", outro grande clássico do terror de ficção científica, são várias: a nave onde se passa o longa de 1979 também é uma mineradora, se chama USCSS Nostromo, e também atende a um suposto pedido de socorro.
Ao chegar na nave, que é gigantesca e já foi tripulada por centenas de pessoas, você e a sua pequena equipe de engenheiros e soldados percebem rapidamente que algo muito errado se passa na Ishimura. Não há ninguém para receber os recém-chegados, e criaturas alienígenas logo atacam você e seus companheiros, dando início a uma trama complexa e que envolve manipulações políticas, fanatismo religioso e muitos momentos tensos se esgueirando por corredores escuros com um cortador de plasma na mão.
Nesse sentido, o remake de "Dead Space" utiliza os gráficos atualizados de maneira muito inteligente, tornando os horrores que Isaac descobre na Ishimura muito mais reais e vívidos —garantindo uma sensação de ansiedade e medo mesmo em quem jogou o original e sabe o que esperar.
A nova capacidade de processamento dos computadores e consoles atuais também eliminou por completo as telas de carregamento do jogo, tornando a experiência mais fluida e mais tensa, uma vez que não há mais hiatos para que você —ou Isaac— recuperem o fôlego.
As mecânicas também foram atualizadas. O remake continua sendo um jogo de sobrevivência e gerenciamento de inventário, sendo necessário utilizar os recursos com parcimônia e atualizar armas e armadura aos poucos.
Mas houve mudanças para aprimorar essa dinâmica, como no sistema de armas, que agora te encoraja a utilizar uma variedade maior —no original, era muito fácil ficar apenas com a inicial, o cortador de plasma, e investir todas as atualizações nela.
Em relação à trama, não há grandes mudanças na história principal, com uma exceção notória e polêmica: Isaac, que era um protagonista silencioso em 2008, agora tem voz e falas. Fora os gráficos, essa é a mudança mais marcante entre o original e o remake, e altera de forma significativa a relação do jogador com o protagonista, cujos longos silêncios antes contribuiam para a atmosfera de solidão do jogo.
Por outro lado, conhecer melhor as motivações, sentimentos e reações de Isaac adiciona profundidade à história, e não é uma decisão completamente sem precedente: em "Dead Space 2", Isaac já tinha uma voz e diálogo.
Outras mudanças no enredo do jogo são mais sutis. Personagens subalternos que já existiam no game de 2008 ganharam mais espaço com novas missões secundárias, tornando a narrativa mais interessante e bem desenvolvida.
O jogo foi cedido pela EA para a realização desta crítica.
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