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Glória Maria fez história, diz diretor geral de jornalismo da Globo em comunicado

Em carta aos funcionários, Ali Kamel relembrou luta da jornalista contra o câncer e que ela 'sempre apostou na vida'

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São Paulo

Glória Maria merece todos os elogios e todo o reconhecimento que vem recebendo. É o que diz Ali Kamel, diretor geral de jornalismo da Globo, que em comunicado a todos os funcionários da empresa lamentou a morte da jornalista nesta quinta (2).

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A jornalista Glória Maria - Arley Alves /Globo

Na carta, Kamel descreve Glória Maria como uma mulher corajosa e ousada, mas que "não mentia", e relata parte da jornada da repórter com o câncer no cérebro, cuja metástase foi responsável por sua morte. De acordo com o diretor, ela sempre quis voltar ao trabalho durante o tratamento da doença.

"A cada vez que ela me ligava, a cada vez que me visitava em minha sala, era assim, otimismo, mas consciência da 'encrenca', como ela costumava se referir à doença. Quando novas etapas do tratamento se impuseram, o otimismo não mudou, tampouco o medo. Na mão dos melhores médicos, com o melhor tratamento, ela sempre apostou na vida."

Kamel finaliza escrevendo que Glória Maria "vai inspirar por muitos anos a todos nós e os que ainda estão por chegar", reafirmando que ela "fez história". "Está no topo do Himalaia, ao lado de poucos."

Você pode ler a carta na íntegra abaixo.

Glória Maria merece todos os elogios e todo o reconhecimento que vem recebendo de colegas da Globo e de outros veículos – e eu concordo com todos eles, talvez ainda com mais ênfase. Até por isso, prefiro falar não das aulas práticas de jornalismo que ofereceu por tantos anos a todos nós, mas de como levou isso para sua vida pessoal ao enfrentar a doença. Quem a reviu hoje nas reportagens que procuraram homenageá-la, há de ter notado que, embora corajosa, nunca escondia o medo diante das aventuras que iria viver. Foi assim que saiu de um balão a metros de altura para chegar a outro atravessando alguns metros de madeira, mas sem deixar de repreender o colega cinegrafista que tentava estimulá-la: "Não fala nada", disse, demonstrando que estava apavorada. Ou quando pulou de bungee jump e disse: "É horrível". Era corajosa, ousada, mas não mentia.

Em novembro de 2019, quando foi diagnosticada, me escreveu com otimismo, dizendo que estava serena e tranquila, como se fosse enfrentar apenas "mais uma subida no Himalaia". E que, desde que nasceu, a vida dela "era encontrar soluções". Mas completou, sem esconder o susto: "Estou desde sábado no olho de um furacão". Seguiu cada etapa do tratamento com disciplina, fé e vontade de voltar ao trabalho. Logo depois da primeira cirurgia, ainda em 2019, vibrou quando gravou a retrospectiva daquele ano. "Graças a Deus consegui gravar a retrô. Foi maravilhoso", ela me disse, como se eu não tivesse acompanhado de longe.

Quando a primeira fase do tratamento terminou, Glória queria muito voltar ao Globo Repórter no início da temporada, em fevereiro de 2020. Mas acabou mudando de planos, para voltar fortalecida: "Ainda preciso melhorar algumas coisas. Não tenho pressa. Esperar mais uma ou duas semanas e estar realmente segura vai fazer toda a diferença", reconheceu. Mas a pandemia chegou, o isolamento social se fez necessário e a volta foi adiada, apesar do sucesso da terapia: "Agora sim, tudo normal, minha energia voltou! Fiz meus exames na semana passada e os resultados foram mais uma vez surpreendentes. Mas, como o momento é diferente, é mais um aprendizado. O tempo vai mostrar a hora que devo voltar", ela me disse, se referindo ao afastamento das redações de todos que tinham mais de 60 anos. Logo, logo, a tecnologia conseguiu fazer com que gravasse de suas casas como se estivesse no cenário. E isso foi uma alegria imensa para ela. Quando em maio de 2021, Glória visitou a redação do Jornal Nacional um dia antes de o programa voltar a ser gravado nos estúdios, ela vibrou: "Foi muita emoção mesmo, Ali. Me vi como há mais de 40 anos quando entrei pela primeira vez na TV", ela me disse, confundindo as datas como sempre fazia.

A cada vez que ela me ligava, a cada vez que me visitava em minha sala, era assim, otimismo, mas consciência da "encrenca", como ela costumava se referir à doença. Quando novas etapas do tratamento se impuseram, o otimismo não mudou, tampouco o medo. Na mão dos melhores médicos, com o melhor tratamento, ela sempre apostou na vida. Eu a chamava de guerreira, não como forma de imprimir confiança nela, mas por crença mesmo. É o que ela sempre foi, desde o início da carreira, na vida pessoal, na vida profissional. No fim do ano passado, no dia 31 de dezembro, uma luz amarela se acendeu em mim. "Glorinha, 2022 não foi fácil. Mas o ano não sabia que tinha uma guerreira com você pela frente! Vamos estar juntos como sempre", eu escrevi a ela. "Sabe que adoro você. Não quero atrapalhar seu réveillon. A guerreira está muito cansada", ela me respondeu.

Hoje cedo, ao receber a notícia de sua morte, muito emocionado, lembrei de nossa trajetória nesses últimos anos. E foi impossível não procurar me consolar com o pensamento: a guerreira descansou, deixando para trás um legado de excelência, de profissionalismo, de verdade. Vai inspirar por muitos a todos nós e os que estão ainda por chegar. Fez história e, no jornalismo, está no topo do Himalaia, ao lado de poucos.

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