Como Miley Cyrus rompeu com a Disney para virar uma diva pop insana e roqueira

Cantora lança disco com hit 'Flowers' após causar polêmicas com drogas e nudez para se livrar da imagem de santa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A cantora Miley Cyrus em ensaio para o disco 'Endless Summer Vacation'

A cantora Miley Cyrus em ensaio para o disco 'Endless Summer Vacation' Divulgação

São Paulo

Miley Cyrus é uma camaleoa. Montou pelada numa bola de demolição para destruir a imagem de atriz comportadinha da Disney e virou uma diva pop ensandecida. Quis voltar a ser boa moça anos depois, época em que deixou a rebeldia de lado para cantar música country. Quando ficou insatisfeita, assumiu uma persona roqueira com covers de Blondie e de Metallica.

Agora ela domina as paradas com "Flowers", canção em que esculacha um ex e que virou hino dos cornos. Seu novo single abriu alas para o seu oitavo disco, o "Endless Summer Vacation", que foi lançado nesta sexta-feira, dia 10.

A cantora Miley Cyrus em ensaio para o disco 'Endless Summer Vacation'
A cantora Miley Cyrus em ensaio para o disco 'Endless Summer Vacation' - Divulgação

Miley está no auge. Viu "Flowers" permanecer por seis semanas consecutivas em primeiro lugar no Hot 100 da Billboard, a principal lista de sucessos dos Estados Unidos –ela não alcançava essa posição desde "Wrecking Ball", de 2013. No Spotify, a canção encabeçou a lista de músicas mais ouvidas por 47 dias seguidos. Miley também quebrou o recorde de cantora com mais ouvintes mensais da plataforma.

O título dado ao novo álbum significa algo como "férias de verão intermináveis", mas ela quer exaltar a noite também. "Um lado do disco representa a manhã, quando há energia e o potencial de novas possibilidades. A noite tem algo perigoso, sujo e glamouroso. É um bom momento para descansar ou sair e experimentar o lado selvagem", disse num vídeo publicado nas redes sociais. A mistura é contraditória, mas representa bem quem é Miley Cyrus.

Miley só tinha 11 anos quando foi contratada pela Disney para viver uma popstar em "Hannah Montana", seriado que virou febre entre crianças e adolescentes. A partir da série surgiram um filme, discos, e hits que ela entoa até hoje, mais de uma década depois.

Mas, apesar do sucesso estrondoso da personagem, a cantora seguiu a cartilha do que costuma acontecer com astros mirins –alcançou a juventude querendo alçar voo sozinha em novos projetos.

Ela mostrou sua vontade de romper com Hannah Montana e com a Disney com o clipe "Can’t Be Tamed", de 2010, lançado sem vínculo com a personagem. No vídeo, Miley encarna uma ave sufocada por gaiolas, dança vestida com roupas curtinhas e canta que não pode ser domada.

Era uma imagem sensual demais para aquela garotinha da Disney, disseram os patrulheiros dos bons costumes. Miley rebateu as críticas dizendo que só estava amadurecendo. O problema é que ela deu ainda mais munição aos censuradores quando um vídeo seu fumando sálvia viralizou na internet. Atos de uma adolescente rebelde que não aguentava mais ser podada.

Miley já admitiu que se sentia sufocada mesmo pela Disney. "Eles tentam te impedir de crescer, mas não dá para fazer isso com pessoas reais. Vocês ficariam espantados com as cartas que a Disney me mandava", afirmou ao portal Daily Star Sunday em 2013.

"Hannah Montana" acabou em 2011, mas a Miley mesmo estava só começando. Se divorciou da personagem raspando o cabelo para começar a fase mais delirante da sua carreira com o disco "Bangerz", de 2013.

Rebolou deitada de quatro no clipe de "We Can’t Stop", apareceu quase nua lambendo marretas no vídeo de "Wrecking Ball", e fingiu que estava se masturbando em "Adore You". Ela simulou movimentos sexuais com o cantor Robin Thicke numa apresentação na premiação Video Music Awards e levou o que parecia um cigarro de maconha para fumar no palco de outro evento.

Hoje, a quase dez anos de distância daquela imagem desvairada, Miley admite que pode ter criado uma caricatura de si mesma só para causar rebuliço. "Quando percebi que as pessoas se importavam que eu mostrasse a língua, eu fazia isso ainda mais. Se as pessoas ficam bravas, significa que se importam", afirmou ao podcast Rock This with Allison Hagendorf.

Lançou em 2015 "Miley Cyrus & Her Dead Petz", um disco psicodélico cheio de músicas experimentais. O principal single, "Dooo It", é uma ode à maconha. Miley não escondia seu fascínio por drogas naquela época.

Disse em entrevista à Variety que parou de se drogar e beber no começo de 2020. Decidiu fazer isso depois de passar por uma cirurgia nas cordas vocais. "O que eu mais amo é acordar bem 100% do tempo. Não quero acordar grogue", afirmou ao portal. Acrescentou que falava abertamente sobre o assunto com seus pais, também maconheiros.

Para além do vício na erva, Miley puxou da família também o gosto pela música country. Billy Ray Cyrus, seu pai, fez sucesso nas décadas passadas cantando folk. Sua madrinha é Dolly Parton, um dos maiores nomes do gênero, com quem Miley divide o palco sempre que pode.

Apelou para as raízes familiares para tentar limpar a imagem em 2017 quando lançou "Younger Now’, um disco que bebe do country com canções românticas e letras mais comportadas. Distante do pop que a fez famosa, o álbum não foi bem recebido pelos críticos nem pelos fãs.

O jeito foi virar roqueira. Seu "Plastic Hearts", lançado na pandemia, abusa das guitarras e do vocal mais rouco da cantora, longe da voz estridente que ela tinha quando começou a cantar. Disse a jornalistas que nasceu para fazer rock.

"Não abririam essas portas facilmente para mim por causa do meu histórico. Vinda de um público infantil, estando em um programa de TV, usando uma peruca, você não imagina que uma pessoa dessas vai tocar com o Metallica", afirmou a um podcast do portal Rolling Stones.

Mesmo aclamado, o disco não conseguiu nenhuma indicação ao Grammy, como apostavam os entendedores de música. Também não lhe rendeu nenhum hit. Parte do insucesso pode ser creditado à gravadora de Miley da época, a RCA Records, diz Welison Fontenele, um dos administradores do fã-clube Miley Cyrus Brasil, que acumula mais de 90 mil seguidores nas redes sociais –incluindo a própria Miley.

Ela agora está sob a alçada da Columbia Records, casa de cantores como Harry Styles e Adele. E parece que o disco novo surge mesmo como uma espécie de redenção nesse sentido.

"Quero tirar férias de levar a mim mesma e o sucesso dos meus discos tão a sério. Tédio, para um artista, é como tortura, então sempre preciso me reinventar. Para fazer isso agora, estou trazendo minha audiência para minhas férias de verão intermináveis", disse num documentário lançado no Disney+ para promover o disco.

Miley reatou o relacionamento com a Disney mais de uma década depois de largá-la. Agora ela leva seu jeitão desbocado e músicas sobre sexo, como "River", à plataforma da empresa. "Percebi que o caminho trilhado é o que compensa de verdade na vida."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.