Descrição de chapéu Livros

Livro de Antonio Risério reúne críticas ao identitarismo no Brasil

Obra reúne ensaios de autores como Demétrio Magnoli, Gustavo Alonso, Joel Pinheiro da Fonseca e Wilson Gomes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Uma síntese possível do livro "A Crise da Política Identitária", recém-lançado, está no ensaio do jornalista Ricardo Rangel.

"É indiscutível que as causas defendidas pelo identitarismo de esquerda são nobres e legítimas, e precisam ser defendidas", ele escreve. "Mas as causas e o(s) movimento(s) que pretende(m) defendê-las não são a mesma coisa e é perfeitamente discutível se a estratégia e os métodos adotados pelo identitarismo são eficazes para ajudar o Brasil a se livrar do racismo, do machismo, da misoginia, da homofobia, da transfobia etc."

O antropólogo Antonio Risério em participação na Flip, em Paraty, em 2015 - Zanone Fraissat - 2.jul.2015/Folhapress

"O Identitarismo, suas Contradições, seus Equívocos", de Rangel, está entre os 22 ensaios do livro, que ainda conta com dois anexos. A obra é organizada pelo antropólogo Antonio Risério.

A chamada política de identidade começou a ganhar atenção do meio acadêmico dos Estados Unidos há pouco mais de 40 anos, lembra o professor de teoria de comunicação e colunista da Folha, Wilson Gomes, autor de três dos textos que compõem o livro.

Sendo um movimento tão recente, é natural que ainda seja apresentado de formas divergentes. Gomes arrisca uma definição. "É um estilo de militância de base, organizada em torno da identidade coletiva de um grupo cujos membros se consideram estigmatizados ou oprimidos pelo resto da sociedade, cujo propósito é enfrentá-la em um regime de beligerância constante e onipresente, numa luta por representações, valores, comportamentos e linguagem, entendidos como instrumentos para se obter reconhecimento, respeito e direitos", diz ele.

Para Rangel, o que caracteriza o identitarismo "é alguém entender que o fato de pertencer a um grupo particular (grupo que, em geral, se entende oprimido) o define de maneira fundamental e transforma a afirmação da própria especificidade do grupo em reivindicação política".

Além de Risério, Rangel e Gomes, os ensaios são assinados por nomes como a professora de filosofia Bruna Frascolla, o cientista político Carlos Sávio Teixeira, o sociólogo Demétrio Magnoli, o economista Joel Pinheiro da Fonseca e o historiador Gustavo Alonso —estes três últimos colunistas da Folha.

"Convidei escritores que já vinham de algum modo debatendo criticamente o assunto. O critério foi esse: autores que já tinham se manifestado de forma lúcida e consistente na abordagem crítica da matéria", diz Risério.

Cada ensaísta aborda o identitarismo sob um ângulo diferente. As universidades e a imprensa, especialmente a Folha, estão na mira de alguns dos autores. Barbara Maidel, por exemplo, escreve que o jornal desrespeita seu projeto editorial, deixando o apartidarismo e a pluralidade de lado, ao se engajar em causas identitárias.

Uma entrevista de Risério ao jornalista Pedro Henrique Alves é o último anexo do livro, ao fim de mais de 550 páginas. Ao longo da conversa, entre outros temas, ele comenta as reações ao artigo "Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo", que saiu na Folha em janeiro do ano passado, e diz ter sido censurado pelo jornal nas semanas seguintes.

No texto, o antropólogo afirmava que "o racismo negro é um fato" e discordava da definição de que só há racismo quando existe opressão.

Em troca de emails com a reportagem em virtude do lançamento de "A Crise da Política Identitária", Risério voltou a criticar o jornal.

"Durante semanas, a Folha publicou uma enxurrada de textos cheios de ofensas, difamação e até calúnias contra mim. É importante frisar isso: quando o jornal mais poderoso do país despeja ataques violentos contra uma pessoa que discutia seriamente as coisas, mas falando só em seu nome, este jornal comete, no mínimo, abuso de poder", diz.

"Um colunista que faz parte do Conselho Editorial chegou a me qualificar caluniosamente de ‘supremacista branco’. Ora, a Folha é corresponsável por difamações que publica. Então, é fácil entender porque não publicou minha réplica."

De acordo com Vinicius Mota, secretário de Redação do jornal, "a Folha ofereceu duas vezes a Antonio Risério espaço para manifestar-se sobre as críticas a seu artigo inicial na Ilustríssima. Nas duas oportunidades, ele publicou os textos antes em suas redes sociais, o que inviabilizou a publicação na Folha, que só aceita artigos inéditos".

A Crise da Política Identitária

  • Preço R$ 74
  • Editora Topbooks (561 págs.)
  • Organização Antonio Risério
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.